UM COPOM SINGULAR OU PLURAL ?

CHARGES DE MIGUEL PAIVA

E chegou a super quarta tão esperada pelos mercados financeiros globais. O Federal Open Market Committee (FOMC), o órgão de formulação da política monetária dos Estados Unidos, se reúne simultaneamente ao Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). A vantagem dos membros do Copom é que eles dispõem de mais três horas, após a decisão do Fed (por volta das 15 horas), para anunciar o horizonte da política monetária no Brasil.

No mercado financeiro, apesar dos pedidos da CNI e do setor produtivo para um corte mais agressivo (0,75 ponto percentual) dos juros básicos (a taxa Selic está em 11,25% ao ano), as apostas são de manutenção pelo Copom da promessa de uma redução de 0,50 ponto na taxa Selic, para 10,75%. A única dúvida no mercado é se, diante de um anúncio do Fed de que o início a queda do juro (em vez de 8 de maio ou 19 de junho só começará no 2º semestre (em 31 de julho), o Copom, temendo turbulências no dólar, se limite a garantir novo corte de 0,50 p.p. “na próxima reunião”, tirando o plural adotado desde agosto.

As dúvidas que levaram o dólar a saltar dos R$ 4,934 em 7 de março para mais de R$ 5,30 na 2ª feira, 18 (hoje houve novo recuo, de 0,45% para R$ 5,02 foi a decisão do Banco Central Europeu, na reunião de 7 de março, de não alterar os juros do euro, apesar de ter revisto para baixo as projeções de crescimento do PIB e da inflação e sinalizar que o início do ciclo de cortes de juros não deve ocorrer em abril. Isso acendeu o sinal amarelo de que o BCE retardaria o início dos cortes para o 2º trimestre, levando o Fed a também retardar a largada e até a reduzir os cortes de três para apenas dois.

Copom leva em conta diferencial de juros

No Brasil é sabido que o diferencial entre os juros domésticos e os juros dos Estados Unidos (atualmente no piso de 5,25% a 5,50% ao ano) é um dos fatores, ao lado de vários indicadores macroeconômicos e projeções futuras, para o Copom decidir os passos da política monetária. Os três maiores bancos privados ainda colocam o plural na decisão do Copom de baixar os juros em 0,50% “nas próximas reuniões”.

O Bradesco e o Itaú apontam a meta de 9,25% em dezembro (o Itaú estava apostando até fevereiro que a Selic fecharia o ano em 9,00%, mas, diante da mudança de cenário externo, foi mais cauteloso e elevou a meta para 9,25%. Já o Santander, cujo departamento econômico é chefiado por Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro no governo Temer, que costumava ser mais conservadora, passou a apostar numa queda maior, até 8,50% e manteve a posição até a semana passada. Por ora, espera queda de 0,50%.

Motivos para cautela

De minha parte, há muito assinalo que o Banco Central vem perdendo “janelas de oportunidades” para ser mais agressivo na queda dos juros. Juros altos travam a economia e a arrecadação de impostos, que cresce por dois motivos: um maléfico, por aumento dos preços dos produtos; e o outro benéfico, pelo aumento do volume consumido. Se o Copom tinha segurança de “quedas da mesma magnitude” (0,50 p.p.) desde agosto e setembro, poderia ter dado um passo a mais em 1º de novembro e em 31 de janeiro. Ainda está em tempo.

Mas a LCA Consultores chama a atenção para fatores de aquecimento da economia brasileira (setor de serviços e vendas do comércio em alta em janeiro, assim como a forte criação de empregos). Diante do cenário ainda incerto no exterior, podem levar o Copom a ser mais cauteloso quanto à trajetória futura da política monetária. Sucessivas revisões para baixo na safra de grãos reduzem a chance de os preços dos alimentos inverterem a posição de aliados na desinflação.

A LCA observa que a economia recebeu injeção extra com o calendário dos pagamentos de precatórios. Além da liberação dos R$ 90 bilhões em precatórios extra no início no ano, o governo decidiu antecipar o pagamento de R$ 30 bilhões dos precatórios previstos para o 1º trimestre do ano. Isso deve aquecer a economia no 1º trimestre. E o 2º trimestre pode ganhar tração com o novo calendário de benefícios previdenciários. Em abril, o INSS paga a 1ª parte do 13º salário, com injeção estimada de R$ 33 bilhões: em maio, serão pagos mais R$ 34 bilhões.

As persistentes dúvidas quanto às contas públicas e à economia internacional, bem como suas repercussões sobre os preços dos ativos brasileiros, sobretudo o câmbio, justificam a expectativa da LCA de que “o Copom vá mostrar maior cautela em sua comunicação prospectiva a extensão do ajuste já realizado e a aproximação da taxa de juros neutra” Ela considera “provável, especificamente, que o colegiado vá optar nesta reunião por não mais sinalizar claramente os passos que vislumbra dar em suas próximas reuniões – restringindo-se apenas à reunião seguinte”. A aguardar o comunicado logo mais, às 18h30.

A LCA observa que a “qualificação”, que seria um sinal relevante, deveria constar na divulgação da Ata, dia 26 de março e ficar ainda mais claro na divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, dia 28, acompanhado de entrevista dos diretores do Banco Central. Olhando para o futuro, a LCA espera “cortes de 50 pb amanhã, em maio e junho, seguidos por cortes menores de 25 pb em julho e setembro. Assim, a Selic chegaria a 9,25% no fim do ciclo”.

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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