Baptista Junior disse que Bolsonaro “ficava assustado” quando avisado de que GLO não daria certo; leia depoimento na íntegra
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O ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Junior, disse em depoimento à Polícia Federal que usou uma “estratégia para ganhar tempo” e “evitar que o então presidente [Jair Bolsonaro] assinasse uma medida de exceção, que subvertesse o estado democrático de direito”.
À PF, Baptista Junior sustentou que não anuiu com a conspiração golpista e permaneceu ao lado do ex-comandante do Exército, o general Freire Gomes, que também não compactuou com a campanha planejada pelo alto escalão do governo Bolsonaro em 2022.
A declaração sobre “ganhar tempo” surgiu em meio aos questionamentos sobre a possível omissão de Freire Gomes e Baptista, que não levaram o plano de golpe ao conhecimento das autoridades competentes.
A íntegra do depoimento de Baptista Junior e de outras 26 pessoas ouvidas pela Polícia Federal no inquérito dos atos golpistas foi liberada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, nesta sexta (15). O GGN teve acesso ao depoimento completo, que você pode ler ao final.
Baptista confirma reuniões, minuta do golpe e detalha papéis
No depoimento, Baptista confirmou que participou de reuniões com Bolsonaro, com o então ministro da Defesa Paulo Sergio Nogueira e outros membros do antigo governo. Alguns dos encontros ocorreram após o segundo turno da eleição de 2022, quando Lula já estava eleito pela maioria dos votos.
Nesses encontros, Bolsonaro ainda tentava emplacar um relatório suspeito e sem fundamento técnico como motivo para colocar a lisura do processo eleitoral em xeque. O ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, funcionava como um “assessor jurídico” dando a Bolsonaro as opções para tentar anular as eleições e intervir no Tribunal Superior Eleitoral, então presidido por Moraes.
Bolsonaro “ficava assustado”
O plano de Bolsonaro era decretar GLO, estado de sítio ou estado de defesa a partir de uma minuta golpista que previa, ainda, a prisão de Moraes e outras autoridades. Baptista Junior afirmou que avisou a Bolsonaro que a GLO e os demais institutos “não serviriam para manter o então presidente da República no poder após 1º de janeiro de 2023”, quando Lula tomaria posse. “O ex-presidente ficava assustado”, disse Baptista.
Baptista ainda confirmou que o general Freire Gomes também tentava dissuadir Bolsonaro e que teria avisado que se ele continuasse com a ideia de “atentar contra o regime democrático, por meio de algum instituto previsto na Constituição, o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou (…) que teria que prender o presidente”.
O ex-comandante da Aeronáutico também confirmou à PF que deixou expressamente claro que a Força Aérea não daria sustentação a nenhum golpe para impedir a posse de Lula. O único dos comandantes das Forças inclinado a apoiar Bolsonaro era o então chefe da Marinha, o Almirante Garnier.
Baptista relatou que teria sido apresentado à minuta do golpe editada por Bolsonaro pelo ministro da Defesa, Paulo Nogueira, numa reunião com Freire Gomes e Garnier. Baptista e Freire Gomes teriam se recusado a receber e analisar o documento, e reafirmado o rechaço à conspiração, enquanto Garnier anuiu com o golpe contra a posse de Lula.
Depoimento cita Zambelli, Mourão e Braga Netto
No depoimento, Baptista ainda disse que foi interpelado em um evento pela deputada federal Carla Zambelli, que teria lhe dito que ele não poderia deixar Bolsonaro “na mão”. “Deputada, entendi o que a senhora está falando, e não admito que a senhora proponha qualquer ilegalidade”, respondeu Baptista.
Em dezembro de 2022, Baptista também conversou reservadamente com o então vice-presidente Hamilton Mourão, durante uma cerimônia de formatura no ITA, no interior de São Paulo. Mourão teria lhe pedido carona no avião da FAB para retornar com urgência à Brasília, a pedido de Bolsonaro, para mais uma reunião. Baptista aproveitou para repetir a Mourão que não apoiaria qualquer tentativa de golpe.
Sobre o general Braga Netto, Baptista relatou que o então chefe da Casa Civil era amigo pessoal de seu pai desde os anos 1990. Apesar disso, Braga Netto determinou ataques pessoas a Baptista e sua família pelas milícias bolsonaristas, a partir do momento em que o então comandante da FAB decidiu não aderir à empreitada golpista.
Leia o depoimento de Carlos Almeida Baptista Junior na íntegra abaixo:Page 1 / 13Zoom 100%Page 1 / 13Zoom 100%
CINTIA ALVES ” JORNAL GGN” ( BRASIL)
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.