O piloto do Boeing 787-9 Dreamliner disse que instrumentos sofreram “apagão”. Engenheiro que denunciou o mesmo avião foi encontrado morto
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O avião da Boeing que despencou temporariamente, em voo da Austrália para a Nova Zelândia, sofreu um “apagão” nos instrumentos da aeronave no meio do percurso. Um dos passageiros relatou que, após pousar, o piloto do Boeing 787-9 Dreamliner deu essa explicação. Essa não é a primeira vez que uma falha é encontrada no modelo do avião e a Boeing já foi apontada por baixa qualidade na fabricação de peças de aeronaves.
O “apagão” do painel do Boeing 787-9 Dreamliner
O motivo da “falha” que deixou 50 feridos ainda está sob investigação da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) e da Direção Geral de Aeronáutica Civil (DGAC) do Chile, uma vez que o avião tem matrícula chilena.
Entretanto, o passageiro Brian Jokat descreveu à CNN dos Estados Unidos que, após pousar, o piloto foi verificar os passageiros e narrou à ele que “perdeu o controle do avião” durante o voo porque “os medidores da aeronave simplesmente apagaram”.
“Eu imediatamente conversei com ele [o piloto] e disse: ‘O que foi isso?”, aproximou-se Jokat do piloto. “E ele admitiu abertamente, disse: ‘Perdi o controle do avião. Meus medidores simplesmente ficaram em branco’.”
“Ele disse que, naquele rápido momento, não conseguia controlar nada do avião e, por isso, o avião fez o que fez. Depois, ele disse que os medidores voltaram e foram reativados, e o avião voltou ao seu padrão normal. E não tivemos problemas antes, nem depois. Mas apenas naquele momento do vôo”, continuou.
O motivo do “apagão” do sistema de controle do avião ainda está em investigação. Mas a própria fabricante de aeronaves, a Boeing, já detectou outros problemas na produção do avião que é o carro-chefe da fábrica para longas distâncias, o 787 Dreamliner.
Outras falhas do 787 Dreamliner
Reportagem do Seattle Times de junho do ano passado mostrava que a fabricante encontrou um defeito no estabilizador horizontal do modelo. A peça é responsável por evitar que o avião gire em torno do eixo das asas, sem baixar ou levantar o nariz do avião.
O defeito encontrado foi uma pequena abertura no dispositivo de montagem, que deveria ter sido corrigo por calços adequados, fazendo com que a abertura ultrapasse as especificações permitidas.
Há 4 anos, outras falhas foram detectadas, com componentes da cauda que sofreram problemas durante a fabricação e também apresentaram especificações diferentes das permitidas.
À época, os problemas foram relatados pela própria Boeing às autoridades norte-americanas, como a Administração Federal de Aviação (FAA), informando que estava trabalhando nos reparos necessários.
Ex-funcionário de qualidade morto denunciava falhas do 787 Dreamliner
O repórter Theo Laggett, da BBC News, revelou que um ex-funcionário da Boeing que denunciava a instalação de peças de baixo padrão neste modelo de avião da companhia, foi encontrado morto nesta semana.
As autoridades informam que a causa seria um “ferimento auto-infligido”, que pode ser interpretado como um suicídio, mas que a polícia ainda investiga o caso.
Mas Barnett morreu poucos dias depois de prestar um depoimento em um processo de denúncia contra a Boeing. Ele trabalhou por mais de 30 anos na companhia e se aposentou em 2017, por motivos de saúde.
Ele era gerente de qualidade da Boeing em North Charleston, na Carolina do Sul, nos EUA, na fabricação do avião comercial 787 Dreamliner. Em 2019, ele narrou à BBC que trabalhadores instalavam peças de baixo padrão nas aeronaves e que descobriu problemas nas máscaras respiratórias da aeronave.
“Ele disse que logo após começar a trabalhar na Carolina do Sul ficou preocupado com o fato de que o esforço para construir novas aeronaves significasse que o processo de montagem fosse apressado e a segurança comprometida, algo que a empresa negou”, trouxe o repórter norte-americano.
Fiscalização dos EUA apontou outras falhas de qualidade da Boeing
O jornalista aeroespacial Dominic Gates, da The Seattle Times, divulgou, em março deste ano, que a Administração Federal de Aviação “encontrou vários casos em que as empresas supostamente não cumpriram os requisitos de controle de qualidade de fabricação” de aeronaves da Boeing.
Dominic Gates, da The Seattle Times, revelou outro relatório, da Administração Federal de Aviação dos EUA, que mostra que funcionários de engenharia que realizam a supervisão das aeronaves da Boeing são pressionados a não expor problemas de segurança dos aviões.
“O relatório sinalizou preocupações de que esses funcionários possam ter medo de levantar questões de segurança que causem atrasos na certificação ou produção de aeronaves, afirmando que os sistemas internos de relatórios de segurança do fabricante podem não funcionar ‘de uma forma que garanta a comunicação correta e a não retaliação’”, trouxe o jornalista.
PATRICIA FAERMANN ” JORNAL GGN” ( BRASIL)
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.