Foi uma surpresa receber da Kuarup o álbum Cacaso 80 Anos, já que eu não me lembrava que estava para chegar a data em que o poeta completaria 80 anos: 13 de janeiro de 2024. Desde que fui tomando contato progressivo não só com suas poesias, mas também com seus pensamentos e atitudes, eu sempre o admirei muito! E sentia, e hoje não tenho dúvida disso, que ali estava um revolucionário a dispor de palavras para combater a caretice e a mesmice de ontem e ainda de hoje. Seus versos emolduraram melodias de inúmeros compositores.
Idealizado e produzido por Renato Vieira, o projeto é dedicado a Sueli Costa e João Donato, que participariam dele. Hoje, ao ouvi-lo, deixei-me levar pela certeza de que são muitos os nossos intérpretes que navegam o barco rumo ao futuro, priorizando as belezas das músicas e as suas concepções poéticas.
Mas vamos lá! A tampa abre com “Gente Séria”. Com letra original de Cacaso e melodia de Joyce Moreno, este samba foi composto em meados dos anos 1970. Joyce canta acompanhada apenas por seu violão e pelo tamborim sempre eficiente de Tutty Moreno.
Pela primeira vez em sua carreira, Ney Matogrosso se pôs a cantar Cacaso: a belezura que é “Lambada de Serpente”*, sucesso que inaugurou a parceria de Djavan com Cacaso. O piano de Alexandre Vianna (também arranjo e direção musical) abre. A batera de Kabé Pinheiro conduz. O baixo de João Benjamin se ajunta à percussão de Kabé e acompanham o brilho de Ney.
O clássico “Dentro de Mim Mora Um Anjo”** (Sueli Costa e Cacaso) vem pela voz inconfundível de Alaíde Costa!, acolhida que está pelo piano de Alexandre Vianna. Meu Deus!
“As Coisas” (Claudio Nucci e Cacaso) tem Claudio Nucci e seus violões interpretando a letra de Cacaso, plena de bem-humoradas repetições das últimas sílabas iguais das palavras.
Leila Pinheiro e seu piano dão à “Triste Baía da Guanabara” (Novelli e Cacaso) o tom exato da dramaticidade da letra de Cacaso. Linda!
Edu Lobo, um dos principais parceiros de Cacaso, se ajuntou a Luísa Lacerda para cantar “O Dono do Lugar”, dele e Cacaso. Luísa abre com vocalises. Logo vem Edu. Acompanhados pelas feras Cristóvão Bastos (piano, arranjo e direção musical), Jorge Helder (baixo acústico) e Carlos Malta (flauta), todos reafirmam o encanto da música.
“Árvore Mágica”, de Rosa Emilia Dias e Cacaso. Rosa Emilia, parceira de vida e música de Cacaso, canta com a filha deles, Paula Dias de Brito, e com Giovanni Buoro, que também está ao violão, apoiados pela percussão de Roberto Rossi. Emocionante!
A fome que Cacaso tem pelas palavras, creio, foi saciada por gravações plenas de musicalidade e amor. Cada um dos já citados, mais Zé Renato, Toquinho, Filó Machado, Carlinhos Vergueiro, Novelli e Eduardo Gudin, se fizeram presentes para comemorar a obra maiúscula do poeta maior que é, e sempre será, Cacaso!
AQUILES REIS ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)