Lula teria o discurso de reconstrução, as alianças políticas, a bandeira da unificação e estaria pacificador no papel de Estadista.
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Como todo governante, Lula quer fazer “entregas”. Por tal, entenda-se, inaugurar obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), obras físicas de tijolo e concreto, universidades, institutos federais, tudo o que é palpável. Nesse campo, ele sempre tem feito as melhores escolhas.
O que não se deu conta é que um governante pode fazer “entregas” muito mais valiosas e abrangentes. Há uma obra muito mais permanente que é a do planejamento de ações intersetoriais, federativas, visando um objetivo meritório. Por ações intersetoriais entenda-se a capacidade de organizar ações de setores já existentes.
Por exemplo, nos anos 90, pequenas farmácias organizavam pools para compras de remédios. Conseguiam preços mais baratos, equivalentes aos das grandes redes, e conseguiam sobreviver por mais algum tempo.
Os Arranjos Produtivos Locais eram associações de pequenas empresas de um mesmo setor, em uma mesma região, visando criar linhas de produto e competir com as grandes.
O Programa de Desenvolvimento Produtivo, do Ministério da Saúde, conseguiu feitos notáveis nos primeiros governos Lula. O que já existia:
– Poder de comprar do SUS (Sistema Único de Saúde).
– Laboratórios estrangeiros que vendiam para o SUS.
– Laboratórios públicos.
– Laboratórios privados nacionais.
Sem dispender um tostão a mais, o Ministério negociou com as multinacionais a transferência de tecnologia para os laboratórios públicos. E destes para os laboratórios privados, que passaram a comercializar os medicamentos. Houve a mediação dos laboratórios públicos para impedir que empresas privadas, de posse da tecnologia, acabasse adquirida por empresas estrangeiros.
O cooperativismo é outro caso de sucesso, assim como o MST (Movimento dos Sem Terra). Ou seja, a capacidade de setores se organizarem para atuar sinergicamente cria novas oportunidades e novas formas de riqueza.
Agora, analise a situação atual do país.
A reindustrialização – nessa etapa de transição energética – é a última possibilidade de se ter uma nação moderna e justa.
O caminho passa pelo fortalecimento da produção – englobados aí os industriais, comerciantes, agricultura familiar, agronegócio.
O país dispõe de várias estruturas de alcance nacional, como a das federações da indústria, do comércio, da agricultura, o sistema S, o cooperativismo, as associações comerciais, os conselhos de secretários de planejamento municipais, os bancos públicos, os correios, universidades, institutos federais etc.
Se o presidente da República abrisse os olhos para esse universo, encontraria mil possibilidades para exercitar sua capacidade de liderança e multiplicar suas “entregas”. Imagine a montagem de Arranjos Produtivos Digitais – milhares de pequenas empresas, especializadas em tecidos, ou objetos de madeira, ou artesanato, sendo certificadas pelo Senai e pelo Sebrae, e se cadastrando em grandes portais, organizando-se para produzir para as grandes plataformas de comércio.
O lançamento de cada grupo, municipal ou regional, equivaleria à entrega de uma obra do PAC.
Não apenas isso. A própria digitalização e mecanização das pequenas empresas industriais e agrícolas abre possibilidade para grandes projetos de planejamento, na qual o Executivo pode ter um papel central.
Além de encontrar a grande bandeira da união nacional – o pacto em torno da produção e da defesa do produto nacional -, Lula poderia montar alianças políticas relevantes com setores da indústria e do comércio, para enfrentar as chantagens do Centrão.
Hoje em dia todos esses setores são, em grande partem, bolsonaristas, porque o estado só aparece para cobrar impostos. E todos são vítimas das políticas econômicas engendradas na Faria Lima. Juntando todos eles em torno de um grande projeto de salvação nacional, Lula teria o discurso de reconstrução, as alianças políticas, a bandeira da unificação e estaria completando seu trabalho de grande pacificador com o papel de Estadista.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)