A convocação para o dia 25 em São Paulo é uma arapuca para aliados que Braga Netto definiria como cagões, escreve Moisés Mendes
A aglomeração de 25 de fevereiro em São Paulo só trará algum consolo a Bolsonaro se reunir uma multidão. E uma multidão é muito mais do que o público que ele reuniu nas últimas aglomerações, inclusive durante a campanha do ano passado.
Se reunir gente em cinco quarteirões da avenida, produzirá apenas mais um clichê sobre o copo meio cheio e meio vazio. Se fracassar e não conseguir levar 50 mil pessoas, pode sair dali habilitado a ir direto para a cadeia.
Bolsonaro vai ter que arrasar, não só com o público, mas também com apoios de gente de peso com ou sem mandato. Terá de ver por perto, ao seu lado, para tirar a foto, celebridades da extrema direita que só foram em frente com seu apoio.
Mesmo os que se negarem a ir, por se considerarem expostos demais, como o governador Tarcísio de Freitas, terão de acenar com apoios. Devem ser acenos públicos, explícitos, ou não valerão nada.
Se o ato é considerado pacífico e legal por Bolsonaro, será normal que Tarcísio, uma criatura que deve tudo ao criador, esteja presente. Podem dizer que a manifestação será uma afronta ao Supremo, e o governador não pode estar lá.
Vale a pergunta: o risco de afronta pode comprometer a necessidade de apoio ao líder, no momento em que o governador é questionado sobre sua postura vacilante diante do drama enfrentado pelo ex-chefe?
Poderá ser uma afronta sem líderes, na maior cidade do país, no mais importante Estado, governado pelo mais poderoso herdeiro do bolsonarismo e onde o sujeito já reuniu seu maior público?
Bolsonaro vai precisar do apoio de manezões, e a arapuca está armada. A bancada da extrema direita no Congresso, que não seria eleita sem ele no PL, vai comparecer?
Sergio Moro vai? Sozinho ou com Deltan Dallagnol, que também tem atacado as decisões de Alexandre de Moraes? Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, apoiado à reeleição pelo pescador de Angra, vai se negar a retribuir o apoio do sujeito?
Valdemar da Costa Neto não pode aparecer, porque Bolsonaro está impedido de manter contato com outros investigados pelo golpe. Mas mandará um recado de apoio ao quase-preso? E Baby do Brasil vai perder a chance de anunciar o apocalipse na Paulista?
E os grandes fascistas gaúchos, todos quietos e acovardados, como bons traidores, vão marcar presença? Pilchados ou com roupa de camuflagem para a guerra?
Braga Netto também não poderá ir, porque é investigado. Nem Augusto Heleno. Mas Eduardo Pazuello pode. Os militares que ele empregava e que ainda não são investigados não se arriscarão?
Os grandes financiadores do golpe terão coragem de mostrar a cara? Quem vai se esconder e não aparecer na quaresma de Bolsonaro?
No dia 25, serão postas à prova a solidariedade e a cumplicidade de aliados com poder e fama. Alguns que se vestiam de verde-amarelo já desapareceram e são considerados traíras e descartados. E os outros que se enfiaram em tocas?
O tamanho da afronta da aglomeração vai depender do número de presentes e da qualidade do apoio. Braga Netto conhece os que considera cagões. E Bolsonaro está sabendo que não poderá juntar apenas manezinhos e patriotas.
MOISÈS MENDES ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)