“Faltam os grandes empresários golpistas, articulados desde a eleição de Bolsonaro”, escreve o colunista Moisés Mendes
O bloco dos sujos do golpe não está completo. As operações de busca e apreensão contra Bolsonaro, Braga Netto e Augusto Heleno deflagram o cerco ao líder e ao núcleo militar do golpismo.
Fica faltando dar consistência e efetividade às ações contra o núcleo empresarial, que sustentava o golpe na sua origem, com estrutura montada logo depois da eleição de Bolsonaro.
É a lacuna a ser preenchida. A Polícia Federal, que chegou nesta quinta-feira aos planejadores, já havia cercado operadores, instrumentadores, ajudantes, terroristas, manés e alguns financiadores.
Mas os grandes da área empresarial não são os fazendeiros médios e donos de biroscas que pagaram barracas, bandeiras, ônibus, banheiros químicos e lanches nos acampamentos, alguns já presos e condenados. Há laranjas entre eles.
Mas e os empresários manezões que financiaram a estrutura do gabinete do ódio, para propagação de mentiras e difamações pelas milícias digitais organizadas dentro do Planalto?
Foram eles também os articuladores e organizadores de grupos de lideranças e militância paroquiais e de outros empresários golpistas durante os quatro anos em que o fascismo esteve no poder.
A estrutura do gabinete, sustentada internamente com recursos do setor público, ao lado da sala de Bolsonaro, não existiria dali pra fora sem o suporte da disseminação do que era produzido.
E esse suporte sempre foi oferecido, desde a criação do gabinete, por gente com muito dinheiro. O golpe começou ali, na montagem da facção do ódio, que se encarregava de atacar inimigos, sabotar o sistema eleitoral, afrontar o Supremo e preparar a permanência de Bolsonaro no poder.
Essa é a mesma estrutura que agiu contra a vacinação na pandemia e ajudou a propagar a cloroquina como milagre verde-amarelo, sempre com o envolvimento de empresários que se expuseram como ativistas de extrema direita. O mais exposto e poderoso entre eles é Luciano Hang.
Também não foram alcançados os donos de transportadoras financiadores e operadores dos bloqueios de estradas, mesmo que um deles, Mario Luft, da empresa de logística Luft, já tenha sofrido busca e apreensão. E os outros?
O autoproclamado véio da Havan, que ostentava seu ativismo, já enfrentou duas buscas e apreensões e está sob investigação em dois inquéritos no Supremo. E ainda consta do relatório da CPI da Covid como incitador de crimes, com a disseminação de fakes news.
Mas continuam as dúvidas sobre o fato de que a PF não consegue devassar dois celulares do empresário, apreendidos em agosto de 2022.
Os aparelhos foram recolhidos durante o governo Bolsonaro, na operação contra os oito empresários tios do zap acusados de articular um grupo golpista.
Os celulares ficaram sob o poder da PF, no governo de Bolsonaro, até serem declarados como ainda indevassáveis, em agosto do ano passado, quando Moraes dispensou seis dos oito empresários e manteve apenas Hang e Meyer Nigri sob investigação.
O argumento para manter Hang foi o de que o dono da Havan se nega a fornecer as senhas dos aparelhos. E Meyer Nigri continua sendo investigado porque deixou rastros de conversas com Bolsonaro, em que prometia compartilhar mensagens golpistas.
Também falta chegar aos organizadores e financiadores dos ataques às redes de transmissão de energia, depois do 8 de janeiro, em Estados do Sul.
É improvável que atentados articulados e em sequência, depois da tentativa de golpe, tenham sido produzidos por ação de vândalos avulsos da extrema direita.
O núcleo empresarial do bolsonarismo, de gente que se fantasiava de periquito, segundo Alexandre de Moraes, tem muitas aves ainda inalcançadas, mas certamente não inalcançáveis. É fácil prever que essa fauna é a próxima na fila.
MOISÉS MENDES ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)