Se as atuais investigações contra a Abin paralela forem ampliadas, deverão recair nos militares do governo Bolsonaro
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A investigação sobre a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) paralela do governo de Jair Bolsonaro chegou ao general Augusto Heleno, um dos principais aliados do ex-presidente, que comandou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). As suspeitas é que o militar recebeu as informações da espionagem ilegal sobre familiares e de interesse de Bolsonaro.
Na terça (30), a Polícia Federal intimou o general para depor no inquérito da Abin paralela montada durante o governo Bolsonaro. O esquema teria funcionado sob a gestão do então direto da Abin, Alexandre Ramagem.
O depoimento de Heleno foi marcado para a próxima terça-feira, dia 6 de fevereiro, na sede da PF em Brasília.
As suspeitas dos policiais é de que o general não só tinha conhecimento do esquema de monitoramento ilegal e a quem beneficiava, como também que o militar teria recebido, diretamente, as informações dos alvos monitorados.
A informação de que a PF tem indícios de que o general Heleno recebeu as informações da espionagem ilegal foi divulgada por coluna de Bela Megale, nesta quinta (01).
Já no especial do Xadrez da Ultradireita, o GGN mostrou os sistemas adquiridos, tanto pela Abin, quanto pelo Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber) do Exército, durante o governo Bolsonaro, incluindo a Kryptus, CySource e Cellebrite.
Revelamos que o ComDCiber fechou contratos com empresas israelenses para plataformas digitais de monitoramento e armazenamento de dados de cidadãos. Os contratos milionários polêmicos envolveram, ainda, relações societárias interligadas. Relembre o caso aqui.
E, apesar de ser um setor do Exército e principal órgão militar de inteligência cibernética, o Comando de Defesa Cibernética serve também ao Ministério da Defesa, por meio da Chefia de Assuntos Estratégicos, e atua como consultor do Departamento de Segurança da Informação.
Este departamento é integrado à Assessoria Especial de Segurança da Informação do GSI. O GSI, por sua vez, era comandado pelo general Heleno. O GGN expôs a relação de comandos na reportagem “Como a Cibersegurança do Exército serviu para ataque de Bolsonaro às urnas“.
À época, o então comandante do ComDCiber, Heber Portella, havia assinado o polêmico relatório das Forças Armadas questionando a lisura e confiança das urnas eletrônicas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2022.
Como comandante da ComDCiber, Portella prestava informações do setor ao Ministério da Defesa de Jair Bolsonaro, que depois de Braga Netto passou ao comando de Paulo Sérgio Nogueira, e ao GSI de Augusto Heleno. Informações de bastidores da época davam conta de que Nogueira não estava satisfeito com o movimento de Portella.
A pasta de Heleno, inclusive, mesmo sendo posto civil do governo, era formada majoritariamente por integrantes militares.
Conforme denunciado pelo GGN nas reportagens do Xadrez da Ultradireita, se as atuais investigações contra a Abin paralela forem ampliadas, deverão recair nos generais Heleno e Braga Netto, e suas correspondências com o ex-presidente Jair Bolsonaro como beneficiário final das espionagens.
PATRICIA FAERMANN ” JORNAL GGN” ( BRASIL)
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.