O tira-teima está marcado para 1 de março de 2024, quando o IBGE divulgará o resultado das Contas Nacionais Trimestrais do último trimestre de 2023 e que também definirá o resultado final do Produto Interno Bruto de 2023. Na sexta-feira, o Banco Central divulgou a variação de -0,01% no IBC-Br de novembro, que funciona como uma antecipação do PIB. No trimestre encerrado em novembro (setembro-outubro-novembro) o IBC-Br registrou queda de 0,49%.
Nesta segunda feira, o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, divulgou o Monitor do PIB de novembro, outro indicador que procura antecipar o PIB do IBGE. Os números foram bem diferentes do IBC-Br, com crescimento de 0,5% no mês, expansão de 2,6% frente a novembro de 2022, crescimento trimestral de 2% e taxa acumulada em 12 meses de 2,9%.
PIB deve gerar discussões no Copom
O que eu gostaria chamar a atenção é que essa discrepância entre as estimativas do IBC-Br, como de resto dos Relatórios Trimestrais de Inflação têm errado sistematicamente nas previsões do PIB. Para 2023, a estimativa do RTI de dezembro de 2022 era de expansão de apenas 0,9%, com IPCA de 5,8%. O IPCA fechou em 4,62% (pela primeira vez dentro do teto da meta – 4,75% – desde que o Banco Central ganhou a independência diante do Executivo, em fevereiro de 2021). Mas a independência não dá “status” de infalibilidade ao BC e ao Comitê de Política Monetária. Antes, aumenta a responsabilidade do Copom.
Diante dos recentes e grosseiros erros de avaliação e da nova composição do Copom, com a posse de dois novos diretores, espera-se que o Banco Central calibre melhor suas bússolas para orientar a trajetória da política monetária, que visa atingir a meta de inflação fixada de 18 a 24 meses de antecedência. Neste sentido, a posse do experiente economista Paulo Pichetti na diretoria Internacional em 2 de janeiro, junto com Rodrigo Teixeira (Administração), pode ajudar a melhorar a orientação do Comitê.
Pichetti foi responsável, no Ibre, pelo acompanhamento das Contas Nacionais (o Monitor do PIB) e pelos indicadores macroeconômicos. Vale dizer que as projeções da FGV-Ibre estão mais aderentes aos resultados das pesquisas do IBGE. Uma calibragem mais eficiente entre as expectativas e a realidade pode criar um espaço para a redução da taxa de juros real da economia, que foi exagerada no segundo semestre do ano passado, porque o Copom esperava uma inflação que não veio: 1 – por que avaliou mal o impacto deflacionário da supersafra de grãos; e 2 – precificou exageradamente a reoneração dos impostos, em especial nos combustíveis, porque trabalhou com a hipótese de manutenção do PPI (Paridade de Preços Internacionais) pela Petrobras (condenada na campanha de Lula), com a nova política de preços aplicada em maio estabilizando mais os preços de insumos importantes como o diesel e a gasolina.
LCA vê +0,3% no IBC-Br de dezembro
Ao analisar o resultado do IBC-Br de novembro, a LCA Consultores assinalou que “a estabilidade na margem ocorreu apesar da alta mensal na maior parte dos segmentos”. O setor de serviços (+0,4%), o comércio ampliado (+1,3%), os indicadores de transportes e correios e armazenagem (+0,4%) e a indústria geral (+0,5%) assinalaram resultados positivos. Mas estima que a queda, na margem, do setor agropecuário contribuiu para moderar o resultado do IBC-Br em novembro.
Para dezembro, a LCA trabalha, preliminarmente, com as seguintes previsões para os índices do IBGE: i) produção industrial com variações de +1,0% YoY e +1,1% MoM; ii) volume vendido pelo comércio varejista ampliado com variações de +2,2% YoY e -0,1% MoM; e iii) volume de serviços com variações de -4,5% YoY e -0,3% MoM. Assim, a estimativa preliminar para o IBC-Br do mês passado aponta para variações de -0,5% YoY e +0,3% MoM. Caso a expectativa se confirme, o IBC-Br registraria variações de +1,0% YoY e -0,3% QoQ no quarto trimestre de 2023. Esses números são menores do que a estimativa atual da LCA para o PIB do período outubro-dezembro (+1,9% YoY e -0,1% QoQ).
Focus reduz PIB de 2024
A Pesquisa Focus, encerrada pelo Banco Central junto ao mercado financeiro na sexta-feira e divulgada hoje aponta estabilidade nas projeções da inflação deste ano (IPCA teria caído ligeiramente de 3,87% para 3,86%, mas as previsões dos últimos cinco dias úteis voltaram a 3,87%) e para a Selic (9%). Mas a previsão do PIB foi reduzida de 1,60% para 1,56% nos últimos 5 dias). O mesmo aconteceu com o dólar (a mediana reduziu a taxa de R$ 4,95 para R$ 4,92, mas as projeções dos últimos cinco dias voltaram a R$ 4,95).
Para 2025, o PIB voltaria a crescer para 2%, nível repetido em 2026 e 2026.
Dá para apostar no ouro?
O cenário geopolítico conturbado – com a continuação da guerra da Rússia contra a Ucrânia e o crescente acirramento das tensões entre Israel e os vizinhos e países próximos do Oriente Médio – sempre é motivo para acirrar a busca de proteção no ouro como um ativo estratégico.
No final do ano passado a onça do ouro atingiu o recorde de US$ 2.135,39. Com a expectativa de que o Federal Reserve inicie a baixa de juros nos Estados Unidos a partir de maio, os investidores se perguntam se é hora de investir em ouro?
Os estrategistas do JP Morgan acham que sim, mas o adiamento do início da baixa dos juros pelo Fed – de março para maio, ou junho – tende a provocar uma baixa em fevereiro (o JP Morgan estima que a onça possa cair a US$ 1.950 neste primeiro trimestre, se recuperar a US$ 1.980 no segundo trimestre e escalar até US$ 2.300 no terceiro trimestre de 2025).
Quem operar bem nas duas pontas poderia acumular ganho de quase 18% em ouro, na variação em dólar. Com os juros abaixo de 4,50%, não seria nada mal.
O risco de quem aposta no pior viria de um acordo de paz no Oriente Médio, entre árabes/palestinos e judeus. Mas isso vem desde o Velho Testamento.
GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)