BRADESCO VÊ O CONSUMO PUXANDO O PIB

CHARGE DE MAURO

Depois de o agronegócio liderar a economia, com a safra de grãos recorde reduzir a inflação a 4,62% em 2023, com os alimentos e bebidas subindo apenas 1,03% e ter reflexos extraordinários nas exportações, o Bradesco considera que a economia este ano terá um crescimento em torno de 2%, graças ä expansão de 3% no consumo.

Ao analisar o desempenho do comércio e do setor de serviços em novembro, o Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicos (Depec) do Bradesco considera que “o avanço da massa de renda tem sido o principal vetor de sustentação do consumo. Até o mês de novembro, salários cresceram cerca de 6% e a massa de renda ampliada mais de 7% em termos reais nos últimos 12 meses”.

O banco assinala que “o pagamento de precatórios no fim de 2023 deve ajudar a sustentar o consumo também no 1º trimestre deste ano”. Além desses fatores, “a dinâmica recente das concessões de crédito do sistema financeiro também tem mostrado alguma recuperação, que tende a se manter nos próximos meses dada a queda de juros”.

Diante disso, o Bradesco espera que “a dinâmica positiva de consumo deve se manter em 2024”. E o desempenho do mercado de trabalho deve permanecer positivo, com desemprego em torno dos patamares atuais e salários ainda avançando em termos reais – embora desacelerando ao longo do ano. “Após crescer cerca de 3% ano passado, esperamos que a economia avance 2% em 2024, com consumo avançando quase 3%”, conclui o Bradesco.

BC ajusta relatório Focus
É sintomático que com a entrada para a diretoria do Banco Central de mais dois economistas com visão heterodoxa, como Paulo Pichetti (Internacional) e Rodrigo Teixeira (Administração) a pesquisa semanal Focus tenha sido aperfeiçoada, com mais pedidos de avaliação sobre o mercado de trabalho e as expectativas sobre preços de remédios e medicamentos (que têm se comportado acima do IPCA, bem com os reajustes dos planos de saúde) e cortado as perguntas sobre hiatos de recursos e juros reais neutros projetados. Projeções sobre o balanço de pagamentos e a balança comercial também foram encolhidas (até porque os erros do BC e do mercado foram colossais nessa área em 2023).

O que se conclui é que o Comitê de Política monetária (Copom) caminha para um desenho mais parecido com os indicadores levados em consideração pelo Federal Open Market Committtee (Fomc), que inspirou o Copom quando da adoção do regime de metas de inflação no começo de 1999. Pichetti é um especialista em contas nacionais e acompanhamento macroeconômico.

Ajustes no IBC-Br?
Pelos dados de novembro do IBC-Br, o indicador de atividade do Banco Central que antecipa o PIB, é outro indicador que merece ajustes. A queda de 0,01% no mês (o mercado esperava baixa de 0,2%) e a evolução de 2,4% de janeiro a novembro, não parecem refletir as expectativas de crescimento de 2,9% a 3% no PIB, calculado pelo IBGE.

Nos EUA à espera dos sinais do Fed
Na última semana antes do período de silêncio para as reuniões de 30 e 31 de janeiro, a atividade econômica também ainda se sustenta nos EUA. As vendas no varejo avançaram 0,6% em dezembro e de forma espalhada entre os setores. Também acima do esperado, a produção industrial avançou 0,1% no mesmo período. Assim como no Brasil, o consumo nos EUA segue robusto, sustentado por um mercado de trabalho aquecido e ganhos reais de rendimentos.

Esses dados deveriam reforçar a postura de cautela do Fed. Para o Bradesco, as indicações são de ”um 4º trimestre com taxa de crescimento anualizada acima de 2% e sinais de acomodação apenas gradual do mercado de trabalho. A conjuntura ainda prescreve juros acima do neutro por um período prolongado”. Por enquanto, o Bradesco mantém a expectativa de início de corte de juros apenas em meados do ano, levando a taxa básica à 4,50% ao final de 2024.

Juros caem e reanimam mercado de capitais
A escalada dos juros em 2022 e 2023 enfraqueceu as emissões e captações no mercado de capitais. Juros altos inibem o consumo e a expansão dos negócios, até porque o objetivo da autoridade monetária é mesmo desacelerar a economia para conter a inflação (a demanda e consequentemente, os investimentos para expansão do parque produtivo, das instalações e da logística). Nem sempre o BC opera na dose certa, como a história nos ensina.

Para piorar, muitas operações ficaram paralisadas quando veio à tona, em janeiro de 2023, as “inconsistências contábeis” das Americanas, que pediu recuperação judicial há exatamente um ano, (19 de janeiro de 2023), com dívidas adicionais de R$ 20 bilhões. Com o duplo baque, o mercado ficou – como se diz em Minas – “em situação de vaca desconhecer bezerro”, e se retraiu à espera de dias melhores. Em termos de confiança e juros mais baixos.

De acordo com a Anbima, o mercado doméstico de capitais fechou 2023 com R$ 453,4 bilhões em emissões, considerando debêntures, notas comerciais e promissórias, CRA’s e CRI’s, FIDC’s, emissões primárias de ações (iniciais ou subsequentes) e fundos de investimentos agropecuários e imobiliários. Foi uma retração de 18,6% e o pior desempenho desde 2020, sendo apenas o quarto melhor ano da série histórica deflacionada, atrás também de 2019. O mercado ficou retraído de fevereiro e agosto. Debêntures emitidas pelas Americanas, dentro de seu plano de RJ, mantiveram o mercado acesso, mas em fogo baixo.

Bastou, porém, os juros básicos da Selic começarem a cair de 13,75% para 13,25% ao ano em 2 de agosto e até 11,75% ao ano em dezembro, para o mercado emplacar avanço nas captações nos quatro últimos meses do ano passado. Segundo a Anbima, em dezembro, as empresas captaram R$ 74,5 bilhões no mercado doméstico de capitais, 6,4% a mais que no mesmo mês do ano de 2022, em termos reais e com ajuste por dias úteis.

Principal instrumento de captação das empresas as debêntures encolheram -15,5% e notas comerciais e promissórias (-42,8%). No ambiente duplamente desfavorável, as emissões primárias de ações se retraíram -61%. Já com o ano favorável ao agronegócio, o indicador dos fundos do setor, o FIAGRO cresceu +14,3% e os fundos imobiliários (FII’s+18,7%). Notas comerciais e promissórias e emissões primárias de ações perderam participação em relação ao total de emissões, enquanto debêntures continuaram a representar cerca de metade dos valores captados.

Apesar da redução do montante captado, houve significativo aumento no número de operações (+29,5%), o maior da história, o que indica operações de menor valor médio. Para a Anbima, a continuidade dos cortes da Selic, que já têm produzido efeitos, aponta para a melhora ao longo de 2024.

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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