Iluminado ‘Déspota Esclarecido’, o lisboeta Sebastião José de Carvalho e Melo, o legendário Marquês de Pombal (1699 – 1782), foi, sem dúvida, o maior personagem da vida pública portuguesa no século XVIII – marcado pelos ventos do Iluminismo, vindos da França, soprados pelo parisiense François-Marie Arouet, o Voltaire (1694 – 1778), e do suíço Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778), bem como do Reino Unido, do escocês Adam Smith (1723 – 1790).
Foi o Marquês de Pombal, quando Secretário de Estado do Rei Dom José I (1714 – 1777), O Reformador, quem decidiu, por exemplo, transferir de Salvador para o Rio de Janeiro a capital do Brasil – para que os cobradores de impostos da Sereníssima Casa de Bragança pudessem melhor fiscalizar a extração de ouro das Minas Gerais.
À mesma época, prevendo a eclosão das revoltas liberais na Europa, que aconteceriam, influenciadas pela Revolução Francesa, de 1789, teria projetado, inclusive, mudar a capital do Reino de Portugal para o próprio Rio de Janeiro. O que ocorreria, em 1808, quando da vinda ao Brasil da Corte de Lisboa, por determinação do Príncipe Regente Dom João VI (1767 – 1826), cognominado O Clemente, filho da Rainha Dona Maria I (1734 – 1815), A Piedosa – filha, por sua vez, de Dom José I e inimiga do Marquês de Pombal, principalmente, pelo fato de ter enfrentado e hostilizada a Igreja e expulso os jesuítas de todo o Império luso.
Curiosamente, passados quase 150 anos, com a República proclamada, em 1910, o então Presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar (1889 – 1970), inspirado por ‘africanistas’, como o historiador Henrique Galvão (1895 – 1970), chegou a estudar a possibilidade de levar a Metrópole do País para a capital de Moçambique, a belíssima Lourenço Marques, hoje Maputo – cidade fundada em 1782 pelos portugueses.
Salazar admirava as proezas do compatriota Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque (1855 – 1902), o destemido oficial de Cavalaria, natural da Batalha, município de Leiria, Governador-Geral de Moçambique e herói na recolonização do território, às portas da Índia, durante as campanhas militares de 1894 e 1895 – quando ganhou fama ao capturar, na África Austral, o Imperador de Gaza, Nguni Gungunhana, na localidade de Chaimite, que se insurgira contra o controle português.
Os méritos atribuídos a Mouzinho de Albuquerque (cuja foto ilustra a coluna) não foram apenas pela vitória em combate. Ele conseguiu pacificar os povos da região e conquistou o respeito das tribos moçambicanas – mesmo das etnias islâmicas, que anteriormente, perseguiam os cristãos convertidos e a população lusitana. A tristemente famosa Conferência de Berlim, realizada, em 1884, na capital da Alemanha, obrigaria Portugal a um esforço colossal para manter e desenvolver os territórios que ainda lhe restavam nas Áfricas – fatiada entre ingleses, franceses, alemães, holandeses, belgas e espanhóis.
A Guiné Portuguesa foi dividida entre franceses (atual Guiné-Conakri) e espanhóis – que ficaram com a Guiné Equatorial, hoje, membro do Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Coube a Lisboa um terço da Guiné – chamada de Guiné-Bissau desde a independência, em 1975, declarada na esteira da Revolução dos Cravos de 1974.
Mouzinho de Albuquerque teria um fim dramático – como Luis Bernardo Valença, o protagonista do magnifico romance histórico “Equador”, de autoria de Miguel Souza Tavares, publicado em 2003, enfocando as plantações de cacau em São Tomé e Príncipe. Ambos acabam se suicidando, desgostosos com os rumos do Ultramar, tingindo, de forma trágica, a trajetória de cinco séculos da presença portuguesa no continente africano. Mouzinho de Albuquerque, como Valença, se sentiram impotentes diante dos desígnios da realpolitik colonial.
- ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador