Os três principais jornais da mídia corporativa brasileira condenaram a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de apoiar a denúncia apresentada pela África do Sul contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça (CIJ). O país africano, cujo regime de apartheid contra pessoas negras levou-o a se tornar pária na cena internacional há três décadas, acusa Israel de praticar um genocídio contra o povo palestino na Faixa de Gaza e pede ao tribunal que indique “medidas provisórias” para proteger os direitos dos palestinos “de perdas iminentes e irreparáveis”.
O jornal conservador O Estado de S. Paulo disse que Lula “quer posar de estadista e de humanista” ao apoiar a África do Sul e chamou a acusação de genocídio contra Israel de “infundada”. De sua parte, O Globo foi mais longe. Disse em editorial que a decisão do presidente de cobrar ações internacionais contra o que ocorre na Faixa de Gaza foi uma “agressão injusta” contra Israel e insinuou que Lula estimula “a vertente mais insidiosa do antissemitismo contemporâneo”. Este é um argumento amplamente disseminado por grupos sionistas contra qualquer crítica aos ataques indiscriminados de Israel em Gaza e também na Cisjordânia ocupada. Um pouco menos explícita, a Folha de S. Paulo também se manifestou contra a decisão brasileira, defendendo que Lula peça o afastamento do premiê Benjamin Netanyahu e deixe de lado o que chamou de “parcialidade” e “termos e instrumentos impróprios” para lidar com o problema.
Como a história e a literatura da comunicação política demonstram, não importa o que Lula faça, que decisão tome, ele será sempre combatido por esses três baluartes da mídia corporativa brasileira. Se estiver calado, Lula apanha. Se falar, apanha. Não há relação com a máxima de Millôr Fernandes, de que “jornalismo é oposição, o resto são secos e molhados”. Trata-se, desde sempre, de puro antipetismo. Ou em outras palavras, de luta de classe em defesa dos interesses das classes dominantes.
No afã de ficar ao lado de entidades defensoras das agressões de Israel e seguindo firmes na missão de se opor automaticamente a Lula, Estado, Globo e Folha, em diferentes níveis, minimizam os crimes do regime sionista na Faixa de Gaza. O mundo está assistindo impassível ao primeiro genocídio transmitido em tempo real pela internet. Depois de três meses dos ataques do grupo Hamas contra civis israelenses e estrangeiros, que mataram cerca de 1.400 pessoas, Israel já assassinou mais de 23 mil palestinos. Pior, 70% das vítimas são mulheres e crianças. Há outras 7 mil pessoas desaparecidas. Mais de 80% da população de 2,3 milhões de pessoas de Gaza foi objeto de transferência forçada. Quem não morreu de bombas ou sob escombros, está morrendo de fome, frio e doenças. Segundo estimativa do professor de políticas públicas Samuel Braun, de origem judaica, Israel já assassinou 1,3% da população de Gaza em apenas três. Em seis anos, não restará nenhum palestino vivo em Gaza a seguir esta matança indiscriminada. A Organização dos Países Islâmicos, bloco que contém 57 membros, manifestou seu apoio ao caso no fim do ano passado. Também apoiam a ação da África do Sul contra Israel a Malásia, Turquia, Jordânia, Bolívia, Maldivas, Namíbia e Paquistão, além da Liga Árabe, aliança com 22 membros.
Em uma democracia cada um pensa como quiser e deve se implicar com os efeitos de suas palavras e ações. No entanto, o jornalismo de guerra da mídia corporativa brasileira contra Lula e o PT deve respeito a todas as vítimas palestinas do sionismo israelense. Um mínimo de senso ético e de humanidade desses veículos, diante dos crimes que todos nós estamos assistindo, deveria evitar qualquer proselitismo político contra o PT à custa das mortes de mulheres, de crianças, de homens, enfim, de um povo que está sendo exterminado.
AQUILES LINS ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)