Fux mostrou a Braga Netto que não sucumbiria à pressão pela GLO; Aras ficou ao lado do ministro do STF na resistência democrática
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O então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2021, ministro Luiz Fux, desmontou a primeira tentativa de golpe arquitetada para o 7 de setembro daquele ano, ameaçando acionar snipers contra bolsonaristas que tomaram a capital federal, revela reportagem do site Brasil 247, publicada nesta sexta-feira (12).
Segundo as informações obtidas pelo jornalista Luís Costa Pinto, os atos convocados pelas redes sociais, que levaram milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à Brasília, em 7 de setembro de 2021, tinham como plano de fundo forçar as autoridades acionar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), para que as Forças Armadas assumissem o controle.
O plano, no entanto, não teve nenhum êxito, diferente de 8 de janeiro de 2023, quando os bolsonaristas conseguiram ir além e invadir as sedes dos Três Poderes.
O recado
De acordo com o 247, na madrugada daquele 7 de setembro, Fux telefonou para o general da reserva e então ministro da defesa Walter Braga Netto “num tom ameaçadoramente resignado e frio”: “Ministro, eu não vou pedir GLO. Já disse isso ao general Matsuda”, teria afirmado o presidente da Suprema Corte ao subordinado de Bolsonaro.
“O general Yuri Matsuda era o Comandante Militar do Planalto naquele momento. Luiz Fux foi além ao explicar o porquê de não pedir GLO ao então ministro da Defesa: – Há atiradores de elite que eu ordenei que fossem estrategicamente colocados na laje do prédio do Supremo Tribunal Federal. Vou mandar que abram fogo contra quem quiser invadir o STF e se eles romperem o terceiro bloqueio na Esplanada dos Ministérios. Já romperam dois. Se romperem o terceiro, darei ordem de atirar. Estou dentro do Supremo, e daqui não sairei”, relata a reportagem.
Braga Netto, então, teria consultado o então procurador-geral da República, Augusto Aras, para saber se Fux poderia cumprir com as ameaças. “Pode, claro. E ele está certo”, teria dito Aras.
“Jair Bolsonaro foi então avisado pelo seu aparelho militar que haveria uma dura repressão às hordas de apoiadores seus que compareciam a Brasília convocados por ele e por meio de suas redes e de seus perfis golpistas em aplicativos de mensagens. Fux fez seu recado chegar, com idêntica gravidade, ao governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. “O que ele quer que eu faça?”, chegou a perguntar Ibaneis a um interlocutor comum dele e de Fux. E ouviu uma resposta em revés: “que ponha a Polícia Militar para controlar o povo na Esplanada e mantenha a terceira e última barreira de acesso ao Congresso e ao STF”, mandou dizer o presidente do Supremo à época”, acrescenta o texto.
Além disso, antevendo a possibilidade de conflitos, Aras teria agido desde maio de 2021 para evitar o apoio de policiais militares aos atos de 7 de setembro.
“O procurador-geral do Ministério Público Militar, Marcelo Weitzel, foi despachado para rodar o País e esteve reunido nas 27 unidades da federação com todos os comandantes das PMs. Ele pediu que, entre 6 e 8 de setembro de 2021, todos os soldados da ativa, de todas as forças estaduais e do DF, estivessem aquartelados e em regime formal de prontidão. Mantidos assim, em prontidão, os policiais militares não poderiam estar presentes aos eventos que Bolsonaro convocava e teriam de seguir as ordens de seus comandantes diretos. Caso contrariassem aquelas ordens, enfrentariam a Justiça Militar”, explica a reportagem.
Ainda, procuradores-gerais de Justiça de todos os estados e do Distrito Federal foram convocados a Brasília no início de agosto de 2021, para uma reunião na sede do STF com os ministros Dias Toffoli e Alexandre de Moraes, que teriam advertido os procuradores estaduais que “desordens e badernas associadas a eventos de cunho golpistas nos estados fariam com que a culpa recaísse sobre os governadores e sobre os comandantes de cada uma das Polícias Militares”.
ANA GABRIELA SALES ” JORNAL GGN” ( BRASIL)
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.