Ex-juiz da Lava Jato traiu os próprios eleitores, e talvez espere o apoio do futuro ministro em julgamentos do STF;
A foto em que aparece sorridente abraçando Flávio Dino, durante a sabatina no Senado, repercutiu mal para Sergio Moro, inimigo do atual governo.
Seus apoiadores não aprovaram. E a situação dele ficou pior quando o repórter fotográfico Wilton Junior, do Estadão, o flagrou numa conversa com um assessor.
Os dois travam um diálogo sobre como enganar o eleitor. Isto é, ele votaria em Flávio Dino, mas queria passar a impressão de que foi contra a indicação de Lula para o STF.
“Não pode ter vídeo de você falando que votou a favor, se não isso vai ficar a vida inteira rodando”, orientou o assessor.
Moro respondeu: “Blz (beleza). Vou manter meu voto secreto, eh um instrumento de proteção contra retaliação (sic)”.
Quem conhece Moro não se surpreende com a traição. Mas o ex-juiz tentou ainda se explicar nesta quinta-feira no X (antigo Twitter).
“Não me surpreende o intensivo ataque daqueles que desejam ocupar o cargo que legitimamente conquistei nas urnas, com o apoio do povo paranaense. Aos meus eleitores e apoiadores, digo: não divulgar o voto na indicação de autoridades é uma prerrogativa do parlamentar”, escreveu. Em seguida, se apresentou como vítima.
“O intenso ataque que tenho sofrido do atual governo Lula, de parte do próprio PL paranaense, além das ameaças do PCC, fazem-me agir, nesse momento, com cautela e no exercício efetivo de uma prerrogativa que tenho, tudo de forma a preservar minha independência”.
Uma análise mais aprofundada apenas deste fato mostra que Moro, diferentemente da imagem que construiu durante os anos da Lava Jato, não é um exemplo de homem público. Pelo contrário.
O assessor que o orientou a enganar o eleitor – que aparece nos contatos de Moro como “Mestrão” – é Rafael Rafael Travassos Magalhães. Segundo Lauro Jardim, de O Globo, Magalhães, antes de ser contratado por Moro para trabalhar em seu gabinete no Senado, foi funcionário do deputado estadual Ricardo Arruda, no Paraná.
No Estado, Magalhães é mencionado numa investigação por suspeita de “rachadinha”. Ele aparece em uma lista do Ministério Público como autor de “operações financeiras suspeitas” na equipe de Arruda.
De acordo com dados do Coaf, o assessor teria feito saques em espécie, correspondentes a 70% dos vencimentos que tinha quando estava lotado na Corregedoria da Assembleia Legislativa do Paraná, a Alep, chefiada por Arruda.
As movimentações teriam envolvido valores repetitivos, com indícios de fracionamento, sempre em datas próximas ao final de cada mês.
iner.html” width=”336″ height=”480″>Moro se expôs na foto com Dino e também na conversa com o assessor, que tem o apelido de Mestrão desde o tempo da Assembleia do Paraná, por ter o costume de chamar os interlocutores de mestre.
Com a foto, Moro pode angariar a simpatia do futuro ministro do STF, que, em princípio, integrará a Primeira Turma do STF, onde há um processo criminal contra ele.
Trata-se da ação por calúnia movida a partir de representação do ministro Gilmar Mendes, alvo de um ataque de Moro em um vídeo que vazou em abril deste ano.
O ex-juiz da Lava Jato aparece sorrindo, de casaco e calça jeans, em um gramado, quando uma interlocutora que não aparece nas imagens diz: “tá subornando o velho”.
“Não, isso é fiança… instituto… pra comprar um habeas corpus do Gilmar Mendes”, responde Moro, pegando um copo com bebida.
A ação está sob relatoria de Carmem Lúcia e há uma manifestação da então vice-procuradora Lindôra Araújo, datada de maio, que rejeita preliminares apresentadas pela defesa Moro, defendendo que o processo siga.
O advogado é Luís Felipe Cunha, primeiro suplente dele no Senado e que responde no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná a uma ação por abuso do poder econômico e caixa 2, juntamente com Moro.
Cunha recebeu pelo menos R$ 7,2 milhões da Petrobras depois que Moro deflagrou a Lava Jato e pelo menos R$ 1 milhão num contrato com o União Brasil, partido de Moro, embora a especialidade dele não seja eleitoral.
O caso de crime contra a honra, em que Cunha representa Moro, terá como um dos julgadores Flávio Dino, caso o ex-juiz não perca o mandato até lá.
Para quem aparece cada vez mais enrolado no sistema de justiça, Moro precisará do voto de Dino, não só neste caso.
O indicado de Lula para o STF certamente não dispensou o voto do ex-juiz, e deve ter realmente perguntado a ele, naquela conversa ao pé do ouvido, se teria o seu apoio.
Mas daí a se comprometer com uma blindagem de Moro no STF existe uma distância enorme.
JOAQUIM DE CARVALHO ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)