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Agropecuária brasileira cresceu 50% em 38 anos e Cerrado segue liderando ranking de bioma mais devastado pelas lavouras de soja
O Cerrado é o bioma mais impactado pelo desmatamento para o plantio de soja. É o que mostra a pesquisa do MapBiomas, que constatou que áreas desmatadas para pastagens cresceram 17 milhões de hectares em 38 anos, sendo uma parcela significativa (10%) somente na última década.
E caso siga no ritmo atual, as previsões para o desmatamento no Cerrado não são animadoras, expõe a secretária executiva do Observatório de Políticas Socioambientais do Estado de Goiás, Natália Brito, ao GGN.
“Um estudo publicado em 2017 na revista científica Nature Ecology & Evolution apontou que, se a devastação continuar avançando até 2050, o Cerrado pode perder até 34% do que ainda resta, o que levaria à extinção de 1.140 espécies endêmicas, que são as exclusivas de uma determinada região geográfica. O número é oito vezes maior do que a quantidade oficial de plantas extintas em todo o mundo desde o ano de 1500, quando começaram os registros”, ressalta.
A razão: Agropecuária
O resultado é uma consequência do próprio aumento das áreas usadas no país para a agropecuária. Até o ano passado, o correspondente a 33% de todo território brasileiro estava ocupado pela agropecuária: 282,5 milhões de hectares.
E o desmatamento para agropecuária cresceu 50% no Brasil de 1985 a 2022, sendo o Cerrado o bioma com maior área agrícola e área plantada com soja no país. A análise do MapBiomas foi feita através de processamento em nuvem utilizando algoritmos de inteligência artificial.
Os dados mostram que a agropecuária no Brasil vem crescendo em níveis alarmantes. Em 38 anos, houve um aumento de 95 milhões de hectares, área maior do que o estado do Mato Grosso e o equivalente a 10,6% do território nacional.
De acordo com a professora da Universidade Federal do Goiás (UFG) e pesquisadora do MapBiomas, Eliane Silva, a expansão da agropecuária no Brasil sem as devidas práticas sustentáveis, pode destruir a fauna, a flora e resultar na degradação completa do solo.
“O desmatamento, sem pensar a sustentabilidade, que vai além de cumprir a legislação, traz diversos impactos aos recursos hídricos, independente se a cultura é de soja ou outra monocultura. Isso ocorre porque o desmatamento pode alterar o ciclo hidrológico natural da região, uma vez que a vegetação é fundamental para recarregar os lençóis freáticos”, explica a professora.
Os tipos de agropecuária no Cerrado
No Cerrado, a área de pastagem, ou seja, área destinada para alimentar animais, é o dobro em relação a área de agricultura. A pastagem cresceu 17 milhões de hectares em 38 anos. Isso representa 26% do Cerrado.
A área de grãos, também conhecida como agricultura temporária, cresceu 18 milhões de hectares no Cerrado. Em 1985, o bioma possuía em seu território 30,9% de plantação de soja. Em 2022, são 76,3% do território ocupado para a plantação do grão.
A idade das pastagens também mostra o crescimento elevado do desmatamento no Cerrado. No bioma, de 72,5% das pastagens têm mais de 20 anos, enquanto que 12,5% têm entre um e cinco anos.
Mudanças climáticas
O desmatamento desenfreado para plantio de soja e outros grãos está diretamente ligado com o aumento da emissão de gases, que alcança novos recordes todos os anos.
“As maiores emissões de gases do efeito estufa no Cerrado vem justamente da agropecuária e mudanças de uso da terra e florestas, que por sua vez englobam o desmatamento, conforme os dados do SEEG (Sistema de Estimativa e Emjissões de Gases)”, esclarece a secretária executiva do Observatório de Políticas Socioambientais do Estado de Goiás.
“O Cerrado é o segundo maior sumidouro de carbono do Brasil, perdendo apenas para a Floresta Amazônica. Assim como no bioma Amazônico, a degradação do Cerrado lança várias toneladas de C02 na atmosfera, contribuindo para o aumento da temperatura e, consequentemente, para os eventos climáticos extremos”, explica Natália Brito.
Além dos impactos na vegetação, há impactos hídricos. O Cerrado abastece oito bacias hidrográficas do Brasil, além de três grandes aquíferos. Natália explica que a agricultura é o setor que mais consome água, podendo chegar a cerca de 70% de toda a água usada e que isso pode afetar diretamente a água que chega nas torneiras.
“Estima-se que 50% do bioma conhecido como berço das águas, por abastecer um total de oito bacias hidrográficas e três grandes aquíferos, sendo, assim, de fundamental importância para a segurança alimentar, energética e hídrica do Brasil, tenha sido devastado”.
Natália Brito, secretária executiva do Observatório de Políticas Socioambientais do Estado de Goiás
A especialista do MapBiomas, Elaine Silva, reafirma ainda a necessidade urgente de se pensar a agricultura de forma mais integrativa com a natureza, de modo a prevenir maiores estragos ao bioma.
“Temos vivenciado em décadas o avanço do desmatamento no ritmo do mercado, tanto nacional como internacional. Como resultado, já anunciado por muitos pesquisadores, temos as mudanças climáticas que têm se intensificado a cada ano. Se continuarmos com o mercado regulando a expansão agropecuária, sem pensar a sustentabilidade, em médio e longo prazo podemos ter uma degradação por completo”, afirma.
ISADORA COSTA ” JORNAL GGN” ( BRASIL)