O inquérito do gabinete do ódio é uma granada no colo de todo o sistema de Justiça, escreve o colunista Moisés Mendes
Poucos devem saber hoje o paradeiro e a ocupação de Sara Winter. E raros conseguem responder por que Allan dos Santos ainda é foragido da Justiça do Brasil nos Estados Unidos.
Sara é ex-ativista incendiária arrependida da extrema direita. Allan dos Santos é militante ativo do bolsonarismo, com ataques intermitentes na internet ao Supremo e ao ministro Alexandre de Moraes.
Os dois estão no que chamavam de inquérito das fake news e que acabou virando a investigação gigante do gabinete do ódio e das milícias digitais, sob os cuidados de Moraes.
Pelo menos quatro senadores bolsonaristas ressuscitaram nesta quarta-feira, na sabatina de Flavio Dino e Paulo Gonet, na Comissão de Constituição e Justiça, o que eles mesmos chamam de inquérito do fim do mundo.
Rogério Marinho, Esperidião Amin, Jorge Seif e Marcos Rogério tentaram empurrar Gonet para uma arapuca amadora: queriam que o indicado por Lula a procurador-geral dissesse o que pretende fazer com o inquérito aberto com o número 4.781.
As investigações se prolongam desde março de 2019. O bolsonarismo deseja que, depois da leniência de Augusto Aras, o inquérito seja engavetado para sempre por seu sucessor.
Estão dentro do inquérito o próprio Bolsonaro, Roberto Jefferson e os deputados Filipe Barros, Bia Kicis, Carla Zambelli, Geraldo Junior, Luiz Phillipe de Orleans e Bragança e os empresários Luciano Hang, Edgard Coron, Reynaldo Bianchi Júnior e Winston Rodrigues.
Bolsonaro entrou depois, por atitudes golpistas. Muitos já sofreram busca e apreensão mais de uma vez. Vários sumiram e se aquietaram.
Os mais cínicos tentam se aproximar de Lula, como se nada tivesse acontecido. São dezenas de investigados, a maioria do terceiro time do fascismo.
Por que a preocupação com o inquérito? Porque essa é a origem das investigações do golpismo, que mostra a cara desde antes de 2018 e prospera até a invasão de Brasília no 8 de janeiro.
O inquérito do fim do mundo, abandonado como pauta pela grande imprensa, tem o núcleo financiador do gabinete do ódio e das milícias.
Um núcleo até agora impune. Muitos dos seus membros enfrentam várias sindicâncias por crimes em outras frentes por golpismo e falcatruas diversas.
Os senadores tentaram pressionar Gonet para que livre Bolsonaro e os agregados ao inquérito por decisão de Moraes. Estão na turma Michelle e Fabio Wajngarten.
Cercado, Gonet fez o previsível. Gongórico, disse que não opina sobre o que não domina, não conhece ou não pode ser contaminado por sua posição de pretendente à PGR.
O coronel Mauro Cid, ajudante de Michelle, confirmou em delação que o gabinete do ódio tinha de fato estrutura montada dentro do Planalto, o que já constava de relatório da Polícia Federal.
São conhecidas as listas de integrantes do gabinete, quase todos operadores sem relevância política na estrutura que teria sido criada e supervisionada por Carluxo.
Mas até hoje, apesar de declarações de Moraes na direção da identificação dos financiadores, nada se sabe de concreto sobre o que foi apurado dos endinheirados que sustentavam as facções disseminadoras de mentiras, difamações e ódios.
O lamento da extrema direita tem um ponto em comum com as queixas dos democratas. Por que esse inquérito sabotado pela PGR não tem conclusões, se investiga crimes cometidos há quase seis anos?
Por falta de provas? Pela sobrevivência política do núcleo bolsonarista? Pelo poder econômico de alguns que, segundo o próprio Moraes, se fantasiavam de periquito?
O inquérito do fim do mundo constrange manés, patriotas e terroristas do 8 de janeiro, os condenados da chinelagem do golpe, enquanto os poderosos estão aí, tentando rearticular o protagonismo que já tiveram.
O inquérito que incomoda os senadores de Bolsonaro é uma granada enferrujada no colo da PGR, do Supremo e de todo o sistema de Justiça.
MOISÉS MENDES ” BLOB BRASIL 247″ ( BRASIL)