Cartola é considerado por músicos e críticos como o mais importante sambista brasileiro. E o mais original
A crônica de hoje é uma homenagem ao cantor, músico e compositor Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola, que faleceu há 43 anos, no Rio de Janeiro.
Cartola é considerado por músicos e críticos como o mais importante sambista brasileiro. E o mais original. A começar pelo nome incomum: Angenor.
Angenor é nome de tudo, menos de sambista, dizia.
Por sorte, e devido um chapéu-coco que usava na obra para se proteger do cimento que caía, virou Cartola.
Cartola nasceu no bairro do Catete, mas passou a infância no bairro de Laranjeiras. Por problemas financeiros, aos 11 anos mudou-se com a família para o morro da Mangueira, onde começava a despontar uma incipiente favela.
Recebeu dos pais o nome de Agenor, mas, como o cartunista Millôr (que na verdade se chamava Milton), por um erro do cartório, foi registrado como Angenor – fato que só viria descobrir muitos anos mais tarde, ao mexer no registro de nascimento para se casar com Dona Zica.
Na Mangueira, Cartola conheceu Carlos Cachaça que se tornaria seu melhor amigo e parceiro mais constante em dezenas de sambas, entre eles, “Quem Me Vê Sorrindo”.
Aos 17 anos, após a morte da mãe, Cartola abandonou os estudos e se iniciou no mundo da boêmia, da malandragem e do samba. Depois de várias brigas com o pai – que não aprovava a vida que o menino levava – acabou expulso de casa.
Cartola foi morar com Deolinda, sua primeira mulher e, junto com outros compositores brigões e arruaceiros como ele, fundou o “Bloco dos Arengueiros”. Esse bloco seria o embrião da “Estação Primeira de Mangueira”, escola fundada em 28 de Abril de 1928.
O músico, além de ser um dos sete fundadores da “Verde e Rosa”, era também diretor de harmonia e compositor do samba “Chega de Demanda”, o primeiro samba defendido pela Mangueira, no carnaval do Rio.
Em 1931, o compositor se tornou conhecido fora do morro por intermédio do cantor e compositor carioca Mário Reis, quando este foi à Mangueira para comprar músicas e pagou 300 mil réis pelos direitos de gravação do samba “Que Infeliz Sorte”. A música acabou sendo gravada em 1932 por Francisco Alves, que mais tarde se tornaria um de seus maiores intérpretes.
Era normal, na época, os compositores venderem seus sambas. Um dia, Cartola fez um samba com Nelson Cavaquinho, o amigo vendeu o samba sem o conhecimento do parceiro e não deu sua parte no dinheiro. Depois disso, contrariado, Cartola nunca mais vendeu uma música sua.
Aos 38 anos, após a morte de sua primeira mulher, e acometido de uma grave doença, provavelmente meningite, deixou o morro e foi morar em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Sumido do cenário musical, chegou a ser dado como morto pelos amigos.
Em 1956, foi encontrado pelo jornalista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, lavando carros em Ipanema. Graças a ele, Cartola voltou ao mundo do samba. A partir daí, o compositor é redescoberto por uma nova safra de intérpretes que gravaram canções como ” O Mundo é Um Moínho”; “Quem Me vê Sorrindo”; “O Sol Nascerá”; “Alvorada”; “Tive Sim”; “As Rosas Não Falam”; “Corra e Olhe o Céu” e “Acontece”, entre outras.
Mas a consagração definitiva viria somente em 1974, alguns meses antes de completar 66 anos, quando o sambista finalmente gravou seu primeiro disco solo, “Cartola”.
Em 1964, casou-se com Eusébia Silva do Nascimento, a Dona Zica da Mangueira. No mesmo ano, eles abriram o restaurante Zicartola, na Rua da Carioca, no centro do Rio. O botequim se tornaria um marco na história da MPB, na década de 60.
Cartola morreu no dia 30 de novembro de 1980, aos 72 anos, no Rio de Janeiro.
EDILEI RIBEIRO ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)