“Então é Natal”, costumava cantar Simone. Pois mesmo com a sua canção esquecida (embora a cantora esteja com excursão pelo Rio de Janeiro e outras capitais), o fato é que assim como a “Black Friday” antecede o período natalino com falsas promoções em novembro, os preços dos alimentos mais utilizados na Ceia de Natal e festas de Ano Novo já dispararam e fizeram o IPCA-15 (a prévia do IPCA) de novembro subir 0,33%, com alta de 0,82% em Alimentos e Bebidas. A mediana do mercado esperava alta de 0,30%, a LCA Consultores previa 0,37% e o Bradesco 0,39%.
Para se ver como o movimento é especulativo e pega carona nos efeitos climáticos sobre Hortaliças e Verduras (+6,14%), Tubérculos, Raízes e Legumes (+9,07%), Carnes (+1,42%) e Aves e Ovos (+0,89%), as disparadas foram lideradas pelos acompanhamentos do bacalhau (cebola +30,61% e batata-inglesa, +14,01%). As frutas, presença obrigatória em tempos de calor, subiram 2,53%. Outra alta expressiva veio do arroz (+2,60%), cuja produção foi afetada pelo excesso de chuvas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Mesmo com a escalada dos alimentos em novembro (a alimentação no domicílio subiu 1,06% em novembro, após cinco quedas consecutivas), a alta acumulada de janeiro a novembro no IPCA-15 é de apenas 0,28%, bem abaixo da alta de 4,30% no IPCA. Em 12 meses, o IPCA-15 acumula 4,87%, contra apenas 0,97% dos Alimentos e Bebidas, com os efeitos benéficos da supersafra de grãos.
Combustíveis seguram IPCA
Uma boa surpresa no IPCA-15 foi a baixa dos combustíveis, que atenuou a alta dos alimentos. O conjunto dos preços dos combustíveis caiu 2,11%, com as baixas lideradas pelo etanol (-2,49%), e seguidas pela gasolina (-2,25%) e o gás veicular (-0,57%). Já o óleo diesel teve alta de 1,12%. O vilão entre os combustíveis foi o volátil Querosene de Aviação.
Com a carga de impostos domésticos (o que não incide sobre os voos internacionais) as tarifas de voos nacionais (São Paulo-Nordeste ou Rio-Manaus) é proporcionalmente bem mais elevada do que um voo para Miami (ou para a Europa). No IPCA-15, os feriados de finados e 15 de novembro e a movimentação de eventos (Fórmula 1 e shows de grupos de rock internacional) inflacionaram o mercado. O subitem passagem aérea subiu 19,03% e teve o maior impacto individual no índice do mês (0,16 p.p.).
O subitem táxi também apresentou alta, de 2,60%, devido aos reajustes de 20,84% em Porto Alegre (16,67%), a partir de 9 de outubro, e de 6,67% em São Paulo (3,76%), a partir de 28 de outubro. O subitem ônibus urbano (-1,35%) sofreu reajuste de 6,12% em Salvador (0,44%), em 13 de novembro. Mas a gratuidade dos transportes metropolitanos em São Paulo nos dois fins de semana do Enem, reduziu em 0,65% as tarifas de Transportes. Nos dois dias de provas (05/11 e 12/11), houve queda 6,25% nos subitens trem, metrô, ônibus urbano e integração de transporte público.
Efeito Taylor Swift
Em contraposição ao Enem, a maratona de shows do Red Hot Chili Peppers e da cantora Taylor Swift provocou efeito contrário, com forte aquecimento nos preços dos serviços ligados ao turismo interno, captados no grupo Despesas pessoais, que subiu 0,52%, contra 0,31% em outubro, influenciado pelas altas do pacote turístico (2,04%), da hospedagem (1,27%). Além disso, os serviços bancários subiram 0,63%, com o reajuste das tarifas.
Troca no BC avança
O calendário apertado para as decisões da Câmara e do Senado não impediu hoje de a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, aprovar nesta 3ª feira as indicações de Paulo Picchetti (por 20 votos, 1 contra e 1 abstenção) para a diretoria de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos, e de Rodrigo Teixeira (22 a 1) para a diretoria de Cidadania e Assuntos Corporativos. Seus nomes serão submetidos agora ao Plenário.
Se aprovados, assumem o colegiado do BC em janeiro e já irão participar da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dias 30 e 31 de janeiro. As reuniões de 12 e 13 de dezembro, serão as últimas de Fernando Guardado (área Internacional) e Maurício Moura (Cidadania).
Como os dois diretores cujos mandatos expiram em 31 de dezembro, eram da área ortodoxa, que resistia a baixar a taxa Selic, a correlação de forças no Copom terá maioria entre os oito membros, mais o presidente Roberto Campos Neto, favorável a uma trajetória mais flexível da política monetária.
GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)