ELIO GASPARI, O JORNALISTA QUE USA O PARADOXO DA DONA DE CASA PARA EXPLICAR A ECONOMIA

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Comparar as finanças domésticas com as finanças públicas pode levar a conclusões errôneas sobre políticas econômicas.

É curiosa a discussão sobre déficit público no país. É de um primarismo obsceno. E não se acuse apenas os jovens setoristas de incapacidade de aprofundar o debate.

Um dos mais experientes jornalistas brasileiros, em sua última coluna na Folha e em O Globo, Élio Gaspari cometeu a seguinte frase:

“Qualquer família sabe como lidar com déficit: se a arrecadação é insuficiente, deve-se cortar despesas. Lula e o comissariado petista não gostam dessa ideia”.

Trata-se de uma das comparações mais primárias dentro do que se denomina de Falácia da Composição – um erro lógico que ocorre quando se assume que o que é verdadeiro para uma parte de um sistema é verdadeiro para o sistema como um todo. 

Aqui estão alguns exemplos específicos de como as finanças domésticas e as finanças públicas são diferentes:

– Uma família pode se tornar insolvente se gastar mais do que ganha. Um governo pode não se tornar insolvente, mesmo que gaste mais do que arrecada, pois pode emitir dívida pública.

– Uma família pode ter que cortar gastos para pagar dívidas. Um governo pode aumentar impostos ou cortar gastos para pagar dívidas, mas isso pode ter um impacto negativo na economia.

– Uma família pode investir seus recursos para obter retornos. Um governo pode investir em infraestrutura ou educação para melhorar o bem-estar social.

Comparar as finanças domésticas com as finanças públicas pode levar a conclusões errôneas sobre políticas econômicas. Por exemplo, a afirmação de que um governo deve cortar gastos para reduzir a dívida pública, como supõe Gaspari, é baseada na analogia com as finanças domésticas. Porém, se o corte de gastos levar a um desaquecimento da economia, a queda na atividade econômica provoca, ao mesmo tempo, uma queda na receita fiscal, podendo até aumentar o déficit público, além de todas as contraindicações, na redução do emprego, da atividade econômica.

Há uma discussão cada vez mais aprofundado sobre as políticas de austeridade. Como leitor voraz, Gaspari poderia encomendar livros de Joseph Stiglitz, de Clara Mattei e outros. Poderia também se instruir com autores ortodoxos. Qualquer que seja o tipo de leitura, o poupará desse vexame de comparar finanças familiares com finanças públicas – uma comparação frequente em jovens repórteres, mas inadequado para um jornalista com sua experiência.

Ontem, depois de todo carnaval com a mudança da meta de déficit público, a Bolsa subiu, o dólar caiu. E o tal do mundo não se curvou à supina ignorância da discussão econômica brasileira.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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