A mídia hegemônica no Ocidente se obriga a seguir a narrativa de Telavive e Washington, a de que Israel está em guerra com o Hamas, e não com os palestinos
As sociedades já foram menos condescendentes diante de crimes evidentes contra a humanidade, como o que ocorre agora, aos olhos de todo o planeta, na guerra de Israel contra a Palestina.
Já houve indignação mais generalizada contra os massacres ocorridos durante, por exemplo, a guerra civil espanhola ou no Vietnã. Desde a incursão do Hamas em Israel no 7 de outubro o número de mortos se elevou tanto que se torna fácil duvidar de sua precisão. Na Faixa de Gaza, são 6.546 mortos, de acordo com o Ministério da Saúde, “controlado pelo Hamas”, de acordo com o portal G1. Do lado israelense, são 1.402.
Dentre os mortos em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza “controlado pelo Hamas”, como faz sempre questão de repetir o G1, 2.704 são crianças. Outras 5,3 mil foram feridas. As crianças desaparecidas são 800.
Estas cifras ocorrem como consequência dos bombardeios israelenses sobre a Faixa de Gaza. Tão grave como esses bombardeios, intencionalmente sobre áreas civis, é a carga de propaganda que tenta justificá-los. Israel diz que sua guerra é exclusivamente contra o Hamas, e que suas bombas estão direcionadas especialmente para a cadeia de comando e as ramificações do grupo palestino.
Essa versão é reproduzida sem questionamento por toda a mídia ocidental. Tal mídia não leva em consideração, como hipótese jornalística, a possibilidade de que a tática israelense, não propriamente nova, seja a oposta: impor os danos civis mais extensos possiveis.
Desabrigar, desalojar, retirar os meios de sobrevivência, transformar Gaza num inferno.
Isso já ocorreu nos bombardeios nazistas contra Londres e outras cidades inglesas. Foi o que aconteceu também, por exemplo, nos ataques americanos e ingleses que incendiaram Dresden, na Segunda Guerra Mundial. Ainda ontem, Moshe Feiglin, ex-deputado do Likud, declarou à TV INN Israel News Network que o país deveria transformar Gaza numa “nova Dresden” em chamas, forçando todos os seus habitantes a um êxodo para o Egito.
Ao fim da Segunda Guerra, o lançamento das bombas nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki foi outro exemplo trágico. Matar civis é a lógica das armas nucleares estratégicas. O “sentido” desses ataques é o de matar muito para, alegadamente, quebrar o moral da população, enfraquecer seu apoio ao esforço militar e facilitar uma eventual invasão.
Submetida à censura ideológica pró-israelense, a mídia corporativa hegemônica no Ocidente se obriga a seguir a narrativa oficial de Telavive e Washington, a de que Israel está em guerra com o Hamas, e não com os palestinos, e que suas bombas nao visam os civis, só os “terroristas”. Na verdade, o que está na ordem do dia é uma estratégia de limpeza racial contra a população Palestina.
*A entrevista do líder do Hamas Osama Hamdan a Breno Altman no canal Opera Mundi é uma rara oportunidade de acesso à versão palestina sobre o que ocorreu desde o ataque do dia 7 de outubro. Imperdível.
MARIO VITOR SANTOS ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)