A LINGUAGEM DOS DEBATES PRESIDENCIAIS NA ARGENTINA

O estilo desrespeitoso dos candidatos de extrema direita continua a chamar a atenção. Como se a forma como falam não dissesse absolutamente nada sobre a força que representam. Falam, como se estivessem convencidos de que os argumentos já não importavam e as propostas também não. De acordo com esta curiosa decisão, aquele que mais insulta ou é mais ameaçador ou usa as chicanas mais desqualificantes sente-se vencedor. É uma metamorfose de candidatos que falam a linguagem dos atores da mídia televisiva, principalmente daqueles que ficaram famosos pela linguagem chula, muito pobre e dotada apenas de um grande arsenal de insultos e ofensas. Mais um sinal do neoliberalismo em marcha. Desta forma, são abolidos os bons costumes, a diferença entre substância e forma, o mínimo respeito pela presença dos outros e dos seus seguidores. Como se a avaliação do debate dependesse do grau obtido pelo uso irrestrito da arrogância. De forma grotesca e desnorteada por parte do candidato, e de forma infantil e contida agressividade (devido às incoerências que foram ouvidas) por parte do candidato.

Claro que o candidato teria que se separar do meu querido Córdoba, que insistia que seria melhor para todo o planeta imitar o que ele fez, graças à sua astúcia, na sua província, digamos arrogante mas correcta.

Desta forma, o único debate que ocorreu foi entre Myriam  Bregman e Sergio  Massa , que não esqueceu o que significa falar com respeito e transmitir argumentos. Quem não esqueceu que o modo de falar também diz muito sobre como se vai governar.

Massa tem uma proposta de governo cada vez mais séria, sobretudo pelo valor agregado por ter assumido as condições mais difíceis.

Bregman sabe denunciar muito bem as contradições do capitalismo, mas o capitalismo faz delas o seu novo motor de reprodução incessante.

Se Bregman conseguisse separar-se do antiperonismo histórico da esquerda argentina e assumisse o apoio a Massa no segundo turno, seu espaço político alcançaria um lugar notável.

Se Massa, que esperamos que acabe com o pesadelo da extrema direita delirante, dê ouvidos à nova esquerda que possa surgir, algo diferente começaria na Argentina.

JORGE ALEMÁN ” PÁGINA 12″ ( ARGENTINA)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *