Contribua usando o Google
A entrada do capital privado em um mercado social deflagará uma guerra de captação de sangue que comprometerá todo o programa público
Puxada pela ultradireita e pela parte mais ambiciosa do mercado, financeirização de todos os produtos sociais é uma das piores pragas do ultraliberalismo.
Recentemente, colunistas conservadores passaram a defender o comércio de órgãos, em cima de uma visão distorcida. Se a pessoa morre e alguém é beneficiado pela doação de órgão, é justo que o receptor pague e que a família do doador seja beneficiada.
Hoje em dia tem-se um sistema de transplante à altura do SUS (Sistema Único de Saúde). Há uma fila democrática e os casos são analisados pela gravidade do paciente e pela compatibilidade com o doador. Criando o mercado, haveria dois efeitos imediatos:
- O aumento da oferta de órgãos pelo crime organizado. Na literatura policial mundial há tráfico de pessoas visando exclusivamente a doação de órgãos.
- Seriam beneficiados os receptores mais abonados, em detrimento da massa dos desvalidos, ampliando ainda mais o fosso social.
Ora, o caminho mais adequado seria a mídia cair de cabeça em campanhas visando estimular a doação, aumentando a solidariedade social, tema urgente para unificar o país.
Agora, entra-se em outro tema escandaloso, a votação da PEC 10/2022, alterando o parágrafo 4o do artigo 199 da Constituição Federal, para permitir a comercializaçãod de plasma sanguíneo humano.
Em agosto de 2004 foi criada a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnolgoia (Hemobrás), dentro da política nacional de garantir a autossuficiência do país em relação ao sangue e hemoderivados. Hoje em dia, há uma política nacional de estímulo à doação de sangue, articulada por hospitais, santas casas e pelo Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde) e Consems (Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde). É peça essencial para a universalização do SUS (Sistema Único de Saúde).
A entrada do capital privado em um mercado eminentemente social deflagará uma guerra de captação de sangue que comprometerá todo o programa público e, fundamentalmente, santas casas, UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e sistema que atende os mais necessitados.
É preciso uma reação forte a essa tentativa.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)