MARILIA TRINDADE BARBOZA, REALIDADE MUSICAL

“CAMINHANDO”

Para os que ainda não conhecem Marilia Trindade Barboza, que agora lança o EP Outra Face (independente), eu informo: dentre outras atividades, ela foi presidente do Museu da Imagem e do Som (MIS-RJ) e escreveu biografias de Paulo da Portela, Pixinguinha, Cartola e Silas de Oliveira.

Quanto ao disco, a produção musical é do violonista e arranjador Luís Felipe de Lima. O bamba arregimentou os grandes instrumentistas Kiko Horta (acordeão), Luis Barcelos (bandolim), Thiago da Serrinha (cavaquinho e percussão), Fabiano Segalote (trombone), Eduardo Neves (sax e flauta) e Júlio Florindo (baixo elétrico) para tocar e apresentar Marília, agora como compositora/letrista de (bons) sambas e choros.

Conto-lhes: foi assim. Um belo dia, ao tocar um samba inacabado, Argemiro da Portela instigou Marília: “Põe a segunda!”. E ela se ajuntou ao baluarte. Nascia “Não Vou Sofrer” (Marília e Argemiro), um samba em tom menor, daqueles que, na voz de um grande cantor como Pedro Miranda, vem com tudo e brilha. O bandolim soa. O coro engrandece o arranjo. Sete cordas e baixo elétrico, juntos com pandeiro e cuíca, afiançam a cadência. E o couro come bonito.“Caminhando” (Nelson Cavaquinho e MTB) é um choro… Sim, um choro do grande Nelson Cavaquinho, composto quando ele ainda tocava cavaquinho. Marilia conta que ouviu a versão instrumental e daí pra se por a escrever os versos foi um pulo: “Vou seguir caminhando/ O pranto correndo, apesar de cantando/ Num samba que era triste/ E então o sambista acabou preferindo/ Num choro cantar… E chorar (…)”. Nelson adoraria tê-los conhecido pelo poderio da voz de Marcos Sacramento.

“A Gente Esquece” (MTB e Nelson Sargento): houve um papo de Marília com o professor Arthur Oliveira e Nelson Sargento, na casa do Cartola, lá em Mangueira. O mestre começou a tocar “Acontece”, revelando que não conseguiria amar de novo a sua obra-prima. Marília retrucou: “Acontece, mas a gente esquece”. E Sargento se inspirou: “Isso dá samba! Vamos fazer?” Dito e feito, pintou “A Gente Esquece”. Embalada pelo arranjo – tanto na intro quanto no intermezzo o trombone é show –, a eterna Áurea Martins cantou bonito.

“Restos Mortais” (MTB e Carlos Cachaça): Carlos queria publicar um livro com seus poemas. Pelas mãos de Hermínio Bello de Carvalho (à época diretor da Funarte), Marília ficou encarregada de organizá-los para publicação. Ela escolheu um deles, “Restos Mortais”, e o musicou como CC o faria – é a única música do EP que Marília fez música e letra. E o grande intérprete Pedro Paulo Malta vem com tudo.

Em “Não Se Usa Mais” (Arthur de Oliveira e MTB), o cavaquinho reina. Marília letrou e entregou a música para Nina Wirtti cantar, o que ela faz de forma sublime: “(…) E aquele choro que não era pranto/ Era todo o encanto de bemóis e sustenidos imortais (…)”.

E assim a MPB segue viva graças aos seus criadores.

” A GENTE ESQUECER” COM AUREA MARTINS

AQUILES REIS ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL))

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

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