- O Brasil começa a se tornar independente, de fato, com a chegada em 1808 da Corte Portuguesa ao Rio de Janeiro – período em que a colônia lusa no Novo Mundo das Américas seria elevada a Reino Unido sob o trono da Sereníssima Casa de Bragança. A Independência mesmo, contudo, só aconteceria, como sabemos, em 1822, fruto da guerra civil travada pela coroa por dois dos filhos de O Clemente Rei Dom João VI (1767 – 1826) – envolvendo Dom Miguel (1802 – 1866),
- O Tradicionalista, e seu irmão Pedro (1798 – 1834), que cá é I, com o epíteto de O Libertador, e na Metrópole, IV, como o Rei Soldado. A vinda da Corte acabaria por fazer do Rio de Janeiro capital do Império Português – caso único nas Américas em que a colônia, para despeito de muitos lisboetas, se transformaria na Metrópole de sua antiga Metrópole. A mudança deDom João VI, para além de precipitar a Independência brasileira, foi, igualmente, marcada por grandes inovações.
- Como o estabelecimento do Banco do Brasil – existente até hoje. Também foi criado o primeiro jornal do País – a “Gazeta do Rio de Janeiro”. E ainda houve a fundação da Academia Real Militar – assim como da Academia de Belas Artes, de várias bibliotecas, teatros, universidades, chafarizes para oabastecimento de água, pontes, iluminação pública e os museus Real e Nacional.
- Uma das obras mais importantes, sem dúvida, foi a criação do fabuloso Jardim Botânico, com sua imponente Alameda das Palmeiras Imperiais, que, neste 2023, no dia 13 de junho último, completou 215 anos. Dentro do Jardim Botânico carioca encontra-se, desde 1938, a monumental fachada original do prédio da Escola de Belas Artes – primeira construção em estilo arquitetônico neoclássico do Brasil, datada de 1826.
- Coincidentemente, no aniversário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, foi lançado, em Paris, uma curiosa pesquisa sobre os inúmeros parques urbanos planejados e instituídos pelas grandes nações europeias nas suas extensas colônias nas Américas, Áfricas, Ásia e Oceania. Ainda não foi traduzido para o português e possui o título de “L’Empire de la Nature – Une Histoire des jardins botaniques coloniaux”. Ou seja: “O Império da Natureza – Uma História dos jardins botânicos coloniais”.
- A autora é a francesa Helène Blais, Professora de História Contemporânea à Escola Normal Superior, de Paris, e membro do Instituto de História Moderna e Contemporânea. Obtive o livro comprando-o, através da Amazon, à editora francesa Champ Vallon. É um estudo de fôlego e bastante detalhado.
- O pioneiro desses preciosos jardins botânicos foi erguido em 1652, no Cabo da Boa Esperança, à altura da Cidade do Cabo, na África do Sul, na confluência das águas dos oceanos Atlântico e Índico – contornado por primeira vez, em 1488, pelo navegador português algarvio Bartolomeu Dias (1450 – 1500). Foi obra dos holandeses que, com seus colonizadores Bôer, arrebataram dos lusitanos o entreposto marítimo de Lisboa – justamente na época em que Portugal esteve por 60 anos (de 1580 a 1640) sob os Felipes II, III e IV dos Habsburgo de Madri.
- Esse jardim botânico seria abandonado, posteriormente, pelos neerlandeses e reconstruído, em 1848, por súditos londrinos. A última inauguração de um jardim botânico projetado por colonizadores ocorreu na Ásia, em 1914, na antiga Birmânia, atual Myanmar, na localidade de Maymyo.
- O levantamento de Helène Blais identificou cerca de 80 jardins botânicos em todo o universo das colônias europeias – inclusive o da capital carioca. Foram realizados, sobretudo, pelos britânicos, franceses e holandeses. Provavelmente, influenciado pelos aliados e protetores ingleses, Dom João VI, ao chegar ao ensolarado Rio de Janeiro, decidiu criar, aqui, um esplêndido Jardim Botânico, que, depois de mais de dois séculos,dá nome a um bairro encantador da antiga Metrópole da Metrópole – e é orgulho de nosso passado comum sob a Sereníssima Casa de Bragança.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador