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Quando Ministro da Fazenda, teve como grande desafio político um ponto pouco conhecido: administrar o escândalo do Brasilinvest
Morto dias atrás, o ex-ministro Francisco Dornelles, aparentado de Tancredo Neves, viveu um dos grandes desafios políticos da redemocratização, pouco conhecidos.
Secretário da Receita Federal de Delfim Neto, ganhou o cargo de Ministro da Fazenda quando Tancredo venceu as eleições. Morto Tancredo, foi mantido por algum tempo no cargo por José Sarney.
Seu grande desafio foi administrar o escândalo do Brasilinvest, banco de investimentos de Mário Garnero.
Alguns anos antes, uma série de reportagens de José Carlos de Assis, na Folha, foi a pá de cal na última imagem positiva dos militares: a honestidade. As reportagens revelaram o esquema de corrupção na Capemi, a Caixa de Pecúlios dos Militares.
No final do governo Figueiredo, o Brasilinvest já era um problema. Figueiredo não quis resolver e garantiu que seria a Capemi de Tancredo, pelo fato de um cunhado do recém-eleito presidente, Aécio Ferreira da Cunha, ser membro do Conselho de Administração do Brasilinvest.
Além dele, o conselho era formado por figuras ilustres, como o publicitário Mauro Salles, o presidente da Volkswagen do Brasil, Wolfgang Sauer, o presidente da Varig, Hélil Smidt.
O Brasilinvest foi formado em um congresso em Salzburg, organizado por Garnero, no primeiro evento de internacionalização da economia brasileira. Grandes grupos internacionais participavam de seu capital. Garnero montou uma vasta relação de conhecidos, entre personalidades políticas e empresariais globais, de Bush pai.
Posteriormente, Garnero deu início a um processo de ampliação do seu controle sobre o banco. O banco emprestava para holdings, com nomes africanos, controladas pelo próprio Garnero. Aí havia uma convocação para aumento de capital em prazos exíguos. Como o processo de tomada de decisão é mais lento em grandes empresas, Garnero participava praticamente sozinho dos aumentos de capital.
Até que a insistência no modelo acabou descapitalizando o banco, exigindo apoio do Banco Central. Garnero era bastante ligado a Figueiredo, mas nada conseguiu com ele, devido ao efeito Capemi.
Quando entrou Tancredo, nada conseguiu com Dornelles. Na época, Garnero me passou a suspeita de que a bronca de Dornelles fosse por uma disputa feminina. Em uma das minhas idas a Brasilia, conversei com Dornelles, que explicou a questão Capemi:
- Tancredo me deu ordens para não mover uma palha porque aí vamos dar munição para os militares.
O banco estourou logo depois, Cheguei a ter conversas com Mauro Salles e um jantar com Sauer, no qual o alemão, um dos empresários mais influentes do país, chorou na minha frente relembrando o episódio.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)