PARA ONDE VAI O MERCADO DA MÚSICA ?

O roqueiro americano Bruce Springsteen é chamado de ‘The Boss’, o chefe nos meios musicais dos Estados Unidos
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As mudanças culturais causadas pela internet e a difusão do “streaming” via celular abalaram o mundo musical, aborda estudo da Goldman Sachs, que prevê transformações ainda mais estruturais na indústria da música. Caro leitor, não sei se você já parou para pensar há quantos anos não compra um CD? Rememorando com os meus botões, acho que há uns 20 anos. Parece evidente que o “streaming” mudou radicalmente o modo de consumo da música. A aferição do sucesso está no interesse do público pelos shows ao vivo.

Dois fatos desta semana chamam a atenção para comprovar como se faz sucesso nesse mercado: as vendas de ingressos para as apresentações de Paul McCartney, aos 81 anos, no Brasil em dezembro, se esgotaram em várias cidades. Em sentido oposto, a cantora Simone Bittencourt, grande sucesso no país nos anos 80 e 90, teve um show cancelado em São José dos Campos (SP), por falta de público. A cantora baiana, de 74 anos, pôs à venda 1.400 ingressos. Sem retorno de público, amargou prejuízo de R$ 100 mil.

Para onde vai o som

Segundo a Goldman Sachs Research, a indústria da música está à beira de outra grande mudança estrutural. Apesar da indústria ainda não conseguir monetizar totalmente seu conteúdo, com os serviços de streaming de música obtendo menos receita para cada música transmitida, os analistas do banco de investimentos esperam que o setor cresça e capture novas oportunidades de negócios. A projeção é de que a receita global de música gravada cresça 7,5% em 2023 (contra 7,3% na previsão anterior), com taxa de crescimento anual composta de 8,6% entre 2023 e 2030 (a curva quase não mudou).

À medida que as barreiras à criação e distribuição de música diminuíram, o número de músicas lançadas em plataformas de “streaming” disparou. O consumo de “streams” de música aumentou 2,5 vezes desde 2017. Isso seria uma ótima notícia para as gravadoras, não fosse o fato de que a receita por “stream” caiu 20% neste período. E a receita da música, derivada da despesa das pessoas em entretenimento, está hoje bem abaixo do nível de 1998.

A receita média por usuário em serviços pagos de “streaming” de música encolheu 40% desde 2016. O declínio veio quando serviços de “streaming” como Apple Music e Spotify introduziram planos familiares, diminuindo preços para usuários agrupados.

O X da questão, segundo a Goldman Sachs, é saber como essa tensão entre consumo e preço provavelmente se desenrolará daqui para frente. As primeiras evidências sugerem que as plataformas de “streaming” podem ter mais poder de precificação do que demonstraram nos anos anteriores. Recentemente, várias das principais plataformas de “streaming” de música promoveram aumentos de preços em seus serviços padrão pela 1ª vez em uma década. Por ora esses aumentos de preços tiveram impacto insignificante ou nenhum impacto na receita das plataformas.

Outra maneira de aumentar a receita pode vir da “segmentação de superfãs” – o que pode ser uma oportunidade de US$ 4 bilhões. O atual modelo de “streaming” não faz distinção entre os usuários, cobrando de cada um a mesma taxa fixa mensal. Isso não reconhece os diferentes níveis de envolvimento que os clientes têm com plataformas e artistas de “streaming” – negligenciando o valor que pode ser criado por um artista ou música específica. Esse é um caminho trilhado por Beyoncé e devidamente “sampleado” por Anitta.

Para a GS, deve haver um forte apetite dos superfãs pela oportunidade de se aproximar de seus artistas favoritos por meio de sua plataforma de “streaming”. Mesmo assim, o banco considera que pode levar tempo e várias iterações para encontrar a nova oferta de produto certa para a abordagem ser bem-sucedida.

A equipe projeta que a monetização de superfãs pode adicionar US$ 2 bilhões em receita incremental para plataformas de streaming até 2027 e US$ 4 bilhões até 2030, representando um aumento de 16% nas receitas pagas de “streaming”. O estudo sugere a necessidade de distinguir conteúdo premium. O modelo econômico para esses pagamentos não mudou desde 2008, quando o “streaming” de música estava apenas começando.

Um mercado em revisão
As gravadoras são pagas “pro rata” com base na parcela de “streams” gerais de todos os usuários para seus artistas. Cada transmissão com mais de 30 segundos de duração conta igualmente nos cálculos de participação de mercado. Isso significa que o valor mais alto que um cliente pode atribuir a uma nova música de sucesso ou a algum outro conteúdo não é reconhecido.

“Ouvir uma música de 31 segundos de um artista independente, uma música completa de 3 minutos de um artista popular e 5 minutos do som da chuva são tratados igualmente”, não faz diferença, segundo analistas ouvidos pela GS. Isso difere do “streaming” de vídeo, em que determinado conteúdo é mais valorizado e, portanto, custa muito mais. Os canais de esportes tendem a cobrar um preço de assinatura mais alto, também.

O modelo econômico atual também incentiva artistas com base no número de “streams” reproduzidos, o que pode resultar em fraude e manipulação. A Goldman Sachs Research estima que uma porcentagem baixa de um dígito do pool de “royalties” é perdida a cada ano para fraudes de “streaming”. Há também um incentivo para que os algoritmos da lista de reprodução se direcionem para conteúdo de “royalties” mais baixo.

Há sinais de que os líderes da indústria estão prontos para examinar de perto a questão e experimentar novas abordagens. Uma opção é um modelo centrado no usuário que pode distribuir pagamentos da assinatura de cada usuário com base diretamente nos hábitos de escuta do usuário. Uma alternativa é um modelo centrado no artista mais flexível que busca distribuir pagamentos com base no valor que um artista cria e fornece para a plataforma. Pela 1ª vez em muito tempo, uma conversa sobre novos modelos de pagamento por “streaming” pode estar começando, assinala a GS.

Bruce Springsteen ainda é ‘The Boss’

Não é à toa que o roqueiro americano Bruce Springsteen é chamado de “The Boss”, o chefe nos meios musicais dos Estados Unidos. Em 2018, sua produção, “The Boss” faturou US$ 63 milhões e cerca de 95% disso veio de turnês, segundo dados da Billboard.

Numa comparação com os cinco artistas que mais faturaram em 2018 (Ed Sheeran, Kenny Chesney, Drake, Bruce Springsteen e Taylor Swift), a Goldman Sachs Research descobriu que 83% (ou cerca de US$ 50 milhões) da receita anual em média veio da música ao vivo. Isso se compara a 11% do “streaming” (cerca de US$ 6 milhões), aproximadamente 3% (US$ 2 milhões) vieram da publicação e apenas cerca de 2% (ou US$ 1 milhão) foram apurados nas vendas físicas

A moda no Brasil é também de grandes “shows” com recursos pirotécnicos. As arenas dos estádios são os palcos preferidos, mas há uso do autódromo de Interlagos para shows do “Lollapalooza” e “The Town”. As arenas das Olimpíadas de 2016 no Rio também são palcos, e até eventos gastronômicos como o “Rio Gastronomia”, no Jockey Club Brasileiro, não dispensa a realização de um ou dois “shows” diários, ao vivo, para entreter o público.

E as feiras agropecuárias, como a de Barretos e as demais que se multiplicam pelo interior do país, onde gira o dinheiro do agronegócio, é placo de reexibição das bandas que fazem sucesso nos trios elétricos de Salvador e os mais diversos estilos de sertanejos. Até o samba e o funk usam a pegada sertaneja.

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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