A jornalista Denise Assis repercute o caso das joias e destaca a função do coronel Marcelo da Costa Câmara, que prestou depoimento à Polícia Federal
O coronel Marcelo da Costa Câmara, que o hacker Walter Delgatti revelou hoje (17/08), em seu depoimento à CPMI do 8 de Janeiro, ter sido a pessoa que o então presidente da República, Jair Bolsonaro, designou para conduzi-lo até a sala do ministro da Defesa, na data – Paulo Sérgio de Oliveira -, era uma espécie de “bom-bril”, com mil e uma utilidades na presidência. Era ele o seu “gabinete paralelo de inteligência”, conforme reportagem da Revista Veja, em 29 de maio de 2020. Foi ele o homem designado para cuidar do acervo pós presidência e, por fim, acabou apanhado em relatório da Polícia Federal, enrolado com os kits de joias de Jair.
Para a tarefa de zelar pelas quinquilharias amealhadas no período de Bolsonaro poder, ele escalou um “chapa”, o tenente Osmar Crivellatti, também um dos militares que seguiram na equipe do ex-presidente. Na função eles tinham acesso às joias sauditas, guardadas em uma fazenda em Brasília, pertencente ao ex-piloto de Fórmula 1, Nelson Piquet.
Em depoimento à Polícia Federal, o coronel da reserva do Exército, Marcelo da Costa Câmara, assessor de confiança de Jair Bolsonaro, afirmou que recebeu a missão de cuidar do acervo após sua saída da Presidência da República. Uma de suas missões foi buscar, juntamente com Crivellatti, em momentos diferentes, os dois kits de joias sauditas que foram devolvidos ao Tribunal de Contas da União.
Segundo ele, o acervo, é composto por mais de nove mil objetos, e ocupam um espaço de aproximadamente 200 m³ na Fazenda Piquet, localizada em região próxima ao lago Sul, área nobre de Brasília. Local onde apenas os dois oficiais têm permissão para entrar.
Revelou, ainda, que apesar da amplitude do espaço, os dois kits de joias manuseados por eles estavam em um lugar reservado e foram registrados pelos servidores do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica durante o processo de catalogação do material para armazenamento. No relatório da PF (de 105 páginas), Marcelo Câmara é citado no seguinte trecho:
“Os elementos colhidos evidenciaram que as esculturas foram evadidas do Brasil, em uma mala transportada no avião presidencial, no dia 30 de dezembro de 2022. Em seguida, com auxílio de seu pai, o General MAURO CESAR LOURENA CID, MAURO CID encaminhou os bens para vários estabelecimentos especializados nos Estados Unidos, para avaliação e tentativa de venda. No entanto, os bens não possuíam o valor patrimonial esperado pelos investigados, fato que frustrou a alienação das esculturas. Isso ficou evidenciado em mensagem de áudio enviada por MAURO CID a MARCELO CAMARA, na data de 01 de março de 2023, explicando o motivo do ex-presidente JAIR BOLSONARO não ter pego as esculturas quando se encontrou com o General LOURENA CID em Miami, diz: “Não. Ele não pegou porque não valia nada. Então tem (…) tem aqueles dois maiores: não valem nada. É, é… não é nem banhado, é latão. Então meu pai vai, vai levar pro Brasil na mudança (…)”.
Enquanto esteve no Palácio do Planalto, produzia dossiês sobre figuras da presidência, sob ordens de Bolsonaro, que na reunião de 22 de abril de 2020, chegou a dizer que tinha o seu “serviço paralelo de inteligência”, pelo qual sabia mais que pelos canais oficiais. Foi por ele que o ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, o general Santos Cruz, caiu em desgraça.
Caluniado por Carlos Bolsonaro, de que estaria traindo o presidente, Marcelo Câmara o vigiou. No início, desmentiu as intrigas de Carlos, porém, meses depois, levou a Bolsonaro uma futrica. Disse ter constatado que o general havia fala do mal de Bolsonaro numa roda de amigos. Foi o quanto bastou para que Santos Cruz descesse a rampa. Era, como se vê, homem de estrita confiança de Jair. Tanto assim, que foi um dos escolhidos para a equipe pós presidência.
DENISE REIS ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)