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Estudioso de temas como Império e militares na política brasileira, historiador e cientista político estava internado no Rio de Janeiro
O historiador e cientista político José Murilo de Carvalho faleceu aos 83 anos na madrugada deste domingo (13/08) no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro.
Segundo a Academia Brasileira de Letras, Carvalho estava internado por ter contraído covid-19, enquanto a historiadora Lília Schwarcz diz em sua postagem no Instagram que a causa mortis do acadêmico foi “pneumonia agravada por fibrose pulmonar”.
Considerado um dos maiores historiadores e intelectuais brasileiros, Jose Murilo era mineiro, bacharel em sociologia e política pela UFMG, mestre em ciência política pela Universidade de Stanford, na California, onde defendeu tese sobre o Império Brasileiro.
Foi professor e pesquisador visitante nas universidades de Oxford, Leiden, Stanford, Irvine, Londres, Notre Dame, no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, e na Fundação Ortega y Gasset em Madrid. Foi professor emérito da UFRJ e pesquisador emérito do CNPq. Eleito para a ABL em 2004, ocupava a cadeira nº 5. Escreveu 19 livros, entre eles “A Formação das Almas”, “A cidadania no Brasil”, e “Os bestializados”.
Além de integrar a Academia Brasileira de Letras, José Murilo de Carvalho fazia parte também da Academia Brasileira de Ciências. O velório será amanhã, segunda-feira, a partir das 9 horas na Academia Brasileira de Letras e o enterro, às 13hs no Mausoléu da ABL no Cemitério São João Batista. Ele deixa um filho, Jonas Lousada de Carvalho
Para o presidente da ABL, Merval Pereira, José Murilo de Carvalho “era dos nossos maiores historiadores, que explicou nosso passado desde o Império e, a partir desse conhecimento, analisava a política brasileira recente com requintes históricos que ajudavam a antever o futuro, do qual se desiludiu nos últimos anos”.
Confira abaixo a íntegra da homenagem feita pela historiadora Lilia Schwarcz em seu Instagram
Hoje é dia dos pais mas tenho uma notícia triste para dar. Acaba de falecer de pneumonia agravada por fibrose pulmonar, o historiador, cientista político e acadêmico, literalmente imortal: José Murilo de Carvalho.
Zé Murilo era uma espécie de pai por eleição de uma série de historiadores e cientistas políticos dentre os quais humildemente me incluo.
É autor de livros fundamentais como “A formação das almas”, onde mostra como se deu a construção simbólica da República; “Os bestializados” em que analisa a reação passiva da população diante do golpe da república; “Teatro de sombras”, sobre a política imperial, e uma vintena de obras fundamentais que debatem, com o emprego de sua sólida formação em história e ciências sociais, temas da maior atualidade como cidadania, forças armadas, república e democracia.
Ele foi, sem sombra de dúvida, das minhas maiores influências. Eu o conheci, mais pessoalmente, quando fazia a pesquisa para o livro “As barbas do Imperador”. Não sabia naquela ocasião, mas ele era meu parecerista da Fapesp.
Bem a seu estilo, na defesa de minha livre-docência, ele cobrou, ralhou, mas me impulsionou, tudo ao mesmo tempo. Também partilhei da companhia inspiradora de Zé Murilo, quando tomamos parte do conselho da Revista de História da Biblioteca Nacional.
Ele era uma enciclopédia viva, tal a quantidade de referências que trazia.
Estivemos juntos na coleção “Brasil nação”. Generoso, ele coordenou o volume sobre Império e me auxiliou nos demais livros.
Heloísa Starling e eu, escrevemos um livro de homenagem a ele, a Alberto da Costa e Silva e Evaldo Cabral de Mello. O título era “Três vezes Brasil”. Lembro de Zé Murilo comparecer ao lançamento, todo alegre, e dar o seu depoimento, sempre divertido, mas ao estilo daquele que nunca baixa a crítica.
Um privilégio ter desfrutado dessa amizade dessa pessoa de estilo telegráfico e certeiro. Era o que era na sua inconfundível sinceridade.
A eternidade há de cuidar bem de quem tanto cuidou da nossa memória cívica, crítica e cidadã. Ele continuará presente por meio da vasta obra que deixa; um modelo de como a história cuida de lembrar do que procuramos esquecer.
Zé Murilo nunca nos deixa esquecer.
TATIANE CORREIA & LILIAN SCHAWARTZ ( INSTAGRAM)/ ” JORNAL GGN” ( BRASIL)