SERVIÇOS PUXAM O PIB NO SEGUNDO SEMESTRE

CHARGE DE CÍCERO

Setor com maior peso na economia (de 67% a 70% do Produto Interno Bruto), o segmento de serviços pegou a tração da economia que foi puxada no 1º trimestre pela agropecuária e teria registrado crescimento de 0,5% no 2º trimestre. Os números foram projetados pelo Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú, com base no desempenho da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada hoje pelo IBGE, com variação de 0,2% no volume de junho sobre maio. No dia anterior o IBGE informou que as vendas do comércio (13% a 14% do setor de serviços) ficaram estáveis em junho e teriam registrado queda de 0,2% frente ao 1º trimestre. A indústria teria crescido menos de 0,2% no 2º trimestre.

Os números completos do PIB do 2º trimestre só serão divulgados pelo IBGE em 1º de setembro, mas já garantem um crescimento bem mais positivo para o PIB deste ano. De qualquer forma, os efeitos da redução dos juros só devem fazer efeito para acelerar a economia, estagnada nas vendas do comércio neste 2º trimestre (houve alguma aceleração nas vendas de veículos com o estímulo de redução de tribos pelo governo, que já fechou a janela), no 3º trimestre do ano.

Ao analisar os dados da PMS do IBGE, o Itaú indicou que na decomposição do avanço de 0,5% no setor de serviços expandiu 0,5% no 2º trimestre (índice cheio) e serviços prestados às famílias avançaram 1,4%. O Itaú aponta um carrego estatístico para o 3º trimestre de +0,6% (índice cheio) e +1,6% (serviços às famílias). Para julho, o Itaú estima um aumento modesto nos serviços oferecidos às famílias.

No varejo, algo além da renda

No mês de junho, a receita do varejo restrito, estável em relação a maio, acusou crescimento de 1,2% frente a junho de 2022 e fechou o 2º trimestre com aumento de 0,2% sobre o 2º trimestre, uma forte desaceleração frente à taxa de 2,4% observada no 1º trimestre. Para o Itaú, há um evidente “quadro de estagnação do comércio”, com algumas variações interessantes, que mostram a influência das altas taxas de juros sobre os consumidores.

No 2º trimestre, o varejo ampliado cresceu 4,6%, contra 3,3% no 1º trimestre. Já o varejo ampliado, que inclui carros, motos e materiais de construção, além do atacarejo, teve alta de 1,2% em junho, e 1,7% na passagem do 1º para o 2º trimestre. O comércio mais sensível à renda cresceu 6,9% frente ao mesmo mês do ano anterior. E o aumento do consumo cresceu onde houve baixa de preços.

Foi notável o desempenho das vendas de combustíveis e lubrificantes, que aumentaram 9,9% em base interanual. Entretanto, houve influência positiva da queda dos preços (o deflator de combustíveis foi de -4,9% no período). Já a queda de muitos preços de alimentos provocou um crescimento de 3,1% na receita real em junho (sobre junho de 2022).

Também ajudaram no melhor desempenho, segundo o Itaú, a resiliência do mercado do trabalho, o aumento das transferências de renda e o arrefecimento da inflação de alimentos. Esse conjunto de fatos pode seguir assinalando resultados positivos no curto prazo. A queda dos juros influenciaria no fim do ano.

O comércio mais sensível ao crédito cresceu 7,7% em junho, em base interanual, após dois meses seguidos de leituras negativas. Sob influência dos estímulos à compra de automóveis novos, a receita real da atividade de veículos e peças avançou 17,9% em junho, na comparação interanual, ante apenas 1,5% no mês anterior. A Fenabrave assinala que os reflexos ainda se fizeram notar em julho.

Outra surpresa positiva na divulgação de junho veio do varejo de vestuário e calçados. Esse setor, que vem sofrendo com a concorrência de plataformas de varejo globais e com a alta da taxa de juros doméstica, cresceu 1,4% entre maio e junho, na série com ajuste sazonal. O efeito de taxação sobre as vendas da Shein e outros sites (que levaram a articulações com produtores locais), pode ter movimentado a cadeia produtiva. Por fim, os benefícios do “Desenrola”, para renegociação de dívidas, que poderá permitir um aumento da demanda por bens mais sensíveis ao crédito (em particular os de mais baixo valor, uma vez que o programa beneficia apenas consumidores de renda mais baixa).

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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