Anderson Torres confessa à CPI que pretendia ser minerador e acrescenta mais uma prova de que eles só pensavam em dinheiro, escreve o colunista Moisés Mendes
Ficou solto, sem nenhuma amarração, o sentimento de frustração do delegado Anderson Torres, manifestado em depoimento nessa quinta-feira (9) à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
Torres admitiu que seu Imposto de Renda chegou a prever aporte de capital para atividades mineradoras, mas seu plano não prosperou. O que isso significa?
Seria um garimpeiro individual, ou ele seria sócio de alguém? Iria explorar que tipo de minério? Onde, quando?
Torres disse que havia uma “provisão feita no Imposto de Renda, mas que nunca se concretizou”.
Desde 2012 ou 2013 pensava em ser minerador. Deu a entender, sem muita convicção na fala, que desistiu do projeto quando já era ministro da Justiça de Bolsonaro.
Muita coisa não ficou esclarecida, porque o deputado Chico Vigilante (PT) desistiu de ir até o fim nas perguntas que fez ao delegado sobre seu projeto de minerador.
Um delegado da PF e depois ministro da Justiça pretendia explorar a mineração, mesmo sabendo como policial que essa é uma das atividades mais controversas e conflagradas do país e mais vigiadas pela própria PF, que se subordina ao ministério que ele comandava.
O caso de Anderson Torres é agregado aos exemplos de empreendedorismo da extrema direita desde o começo do lavajatismo.
Torres talvez sonhasse com pepitas. O empreendedor Deltan Dallagnol sonhou com uma fundação com R$ 2,5 bilhões do dinheiro de multas aplicadas à Petrobrás.
O coronel Mauro Cid negociava joias e brincava de joalheiro, enquanto ajudava a tramar o golpe e a pagar as contas de Michelle.PUBLICIDADE
O patrulheiro rodoviário Silvinei Vasques comprava caveirões sem utilidade para a organização para a qual trabalhava e depois foi pedir emprego à empresa que vendia os veículos usados contra moradores de morros e periferias.
Coronéis de dentro e de fora do Ministério da Saúde negociavam vacinas com o governo, articulados com quadrilhas de vampiros, enquanto o chefe deles se dedicava a sabotar a imunização. Outros fabricavam e vendiam cloroquina.
Eduardo Bolsonaro fazia o lobby de fabricantes de armas dos Estados Unidos e era acolhido no Exército como intermediador de bons negócios.
O fascismo protegeu grileiros, contrabandistas de madeira e milicianos, sempre com a prevalência do dinheiro sobre qualquer outra questão.
A extrema direita ocupou-se de todo tipo de crime, sob disfarces ideológicos e a retórica dos bons costumes e da moral, para fazer fortuna.
Por isso, um delegado da Polícia Federal pretendia explorar garimpos por estar certo de que Bolsonaro seria reeleito. E um procurador da República, em missão especial, tinha certeza de que o lavajatismo seria eterno e milionário.
O fascismo que chegou ao governo ou dele desfrutava vendia e comprava o que podia, inclusive delações, porque a obsessão de todos eles era a de ficar rico a qualquer custo.
Não havia um projeto de direita para o país, mas um conjunto de planos de gangues variadas, sob o comando do agora inelegível, para saquear o Estado e a Amazônia e espalhar medo, ódio e violência.
O empreendedorismo fascista usou o Estado como hospedeiro de seus projetos, sob a proteção dos militares.
Acabaram fracassando como empreendedores porque foram um fracasso como lavajatistas e golpistas.
MOISÉS MENDES ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)