O avanço das investigações nos revela que o núcleo do entorno de Bolsonaro agia despudoradamente, num misto de imbecilidade e convicção da impunidade
Nessa semana, fomos surpreendidos com a divulgação das investigações da Polícia Federal sobre a intentona golpista que buscou solapar a democracia brasileira. Digo surpreendidos porque os detalhes que vieram à tona, de tão absurdos, causariam inveja aos grandes escritores latino-americanos, notáveis por sua imaginação inventiva.
O que dizer das trapalhadas do tenente-coronel do exército, Mauro Cid? Parecem não ter fim. O ex-ajudante-de-ordens e carregador de malas de Bolsonaro fraudou cartões de vacinação contra Covid-19, pagou despesas de Michelle com dinheiro vivo, foi pessoalmente ao aeroporto de Guarulhos para liberar joias não declaradas do casal Bolsonaro; intermediou a tentativa de venda de relógio Rolex e trocou mensagens de áudios de teor golpista com militares bolsonaristas. Agora, o nome de Cid aparece ao lado de outros auxiliares de Bolsonaro que apagaram 17 mil e-mails comprometedores, mas esqueceram de esvaziar as lixeiras. Ou seja, deixaram de observar um cuidado básico na informática e proporcionaram preciosa revelações para os agentes da Polícia Federal que investigam os atos terroristas de 8 de janeiro.
Mas Cid não está sozinho, tem ao seu lado uma legião de estúpidos fascistas. Como a deputada Carla Zambelli, que virou notícia ao apontar uma arma e dar voz de prisão contra um jornalista negro e que contratou o hacker Walter Delgatti para “ajudar Bolsonaro a provar que as urnas não eram confiáveis”. Não conseguiu seu objetivo, mas permitiu que Delgatti ficasse cerca de duas horas no Palácio da Alvorada, ao lado do então presidente.
Na terça-feira, o ex-ministro Anderson Torres compareceu à CPI e, com postura de homem sério, após longas sessões de media training, contou tantas lorotas que passou a impressão que ainda estava em férias na terra do Pateta.
Disse, do alto do seu cinismo, que a minuta do golpe encontrada na sua casa era um documento “imprestável” , recebido de “sabe-se-lá quem”, que seria rasgado e jogado na lata de lixo. Se não tinha valor, porque estava cuidadosamente guardado dentro de um armário? Convenientemente, disse que não entregou seu celular para a PF por ter perdido o aparelho na Flórida. Aliás, mentiras e a falsificação de narrativas são especialidade da extrema-direita brasileira.
A operação comandada pelo ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, para impedir que eleitores de Lula chegassem a tempo de votar no segundo turno, foi noticiada ao vivo e em cores. O aloprado finalmente teve sua prisão preventiva decretada na quarta-feira (09/08).
Aos poucos, o circo de horrores montado e executado nos últimos quatro anos, que tantos danos causou ao nosso país, começa a ser exposto em suas entranhas e desmontado pela Polícia Federal, sob o comando do ministro Flávio Dino. O avanço das investigações nos revela que o núcleo do entorno de Bolsonaro agia despudoradamente, num misto de imbecilidade e convicção da impunidade. Agora, vão se dando conta que o crime, ainda que pareça perfeito – e nesse caso, andou longe disto – sempre vem à tona e que jamais compensa. Como cartas de baralho, os homens do ex-presidente vão sendo expostos e deixados pelo caminho, abandonados, como é o modus operandi do “Mito” em relação aos que o servem. Não vai demorar muito para começarem a falar dos pecados do chefe, talvez na lógica de que “ingratidão se paga com delação”.
FLORESTAN FERNANDES JR ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)