FOCUS, PARCIMÔNIA EM 2023; RAPIDEZ EM 2024

CHARGE DE BIER

Mesmo reduzindo outra vez as projeções do IPCA em dezembro (de 4,90% para 4,84%, sendo de 3,84/83% as previsões dos últimos cinco dias úteis, quase no teto da meta de inflação do ano, de 4,75%), o consenso do mercado, ouvido na Pesquisa Focus do Banco Central, manteve a parcimônia para a 1ª redução da taxa Selic, nesta 4ª feira, de 13,75% para 13,50%, fechando 2023 em 12%, com três reduções de 0,50 ponto percentual. Somando 1,75%.

A novidade na pesquisa colhida até 6ª feira e divulgada hoje é que o mercado está mais confiante de que o Comitê de Política Monetária (Copom) vai reduzir de forma mais rápida os juros básicos em 2024, acompanhando o melhor comportamento da inflação (prevista em 3,89/3,88%, dentro da meta que é de 3,00% mais tolerância de 1,50% = 4,50%. A Focus reduziu a previsão da Selic em dezembro de 2024 dos 9,50% da semana anterior para 9,25%, sendo que as respostas dos últimos cinco dias úteis apontaram 9,00%.

Ou seja, após baixa de 1,75 ponto percentual em 2023, a taxa Selic, que funciona como piso das operações do mercado financeiro, teria uma baixa mais acentuada de 3 pontos percentuais em 2024.

Como as indicações do quadro fiscal pioraram um pouco (o mercado manteve a previsão oficial de déficit primário – receitas menos despesas, sem contar os juros da dívida pública – em 1% do PIB este ano, e aumentou de 0,80% para 0,95% do PIB, em 2024, nas previsões dos últimos cinco dias úteis), o único fato novo favorável visto pelo mercado teria sido a melhora da nota de risco do Brasil – embora ainda dois degraus abaixo do grau de investimento.

IPCA volta a 5,50% em setembro

O temido repique da inflação pelo Banco Central no 3º trimestre, na comparação com a deflação de 1,32% no mesmo período de 2022, quando os cortes eleitoreiros de impostos (federais e estaduais) de combustíveis, energia elétrica e comunicações) reduziram o IPCA em 0,68% em julho, 0,36% em agosto e 0,29% em setembro, na previsão do mercado, não será capaz de fazer a inflação acumulada em 12 meses superar os 5,50% em setembro.

O mercado está esperando alta de 0,09% no IPCA de julho, que o IBGE divulga dia 11 de agosto (nas previsões dos últimos cinco dias úteis a taxa cai para 0,07%); de 0,28% a 0,29% em agosto e taxa de 0,28% em setembro. No final do ano, a taxa do IPCA fecharia em 4,84-4,83%. Quase no teto da meta.

Apostas conservadoras

Embora a LCA Consultores tenha apontado na semana passada que a mediana do mercado estava inclinada a um corte mais agressivo, de 0,50 ponto percentual na Selic (a própria consultoria era mais conservadora, com 0,25 p.p., as principais instituições financeiras ficaram mais cautelosas desde o fim de semana. Itaú e Bradesco apostam em 0,35, assim como Santander e Genial Investimentos. Para o Itaú, “o Banco Central deve iniciar o atual ciclo de redução de juros com cautela (isto é, com corte de 0,25 p.p., levando a taxa Selic de 13,75% para 13,50% a.a.), dada a dinâmica de núcleos e expectativas de inflação ainda acima da meta e a resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho”.

Para defender o conservadorismo, o Itaú lembra que “ciclos anteriores que começaram com cautela foram bem-sucedidos em levar a inflação para perto da meta, possibilitando um equilíbrio final de juros mais baixos por mais tempo, e domando as expetativas de inflacionárias. Cortes de juros menos cautelosos, por sua vez, podem levar a uma eventual depreciação da moeda e/ou piora nas expectativas de inflação, o que poderia cercear e, no limite, até interromper o processo de desinflação em curso”.

Por sinal, o IGP-M de julho caiu 0,72% (-1,93% em junho), confirmando o processo de forte deflação deste ano, originado nos preços agrícolas no atacado, em decorrência da supersafra, mas também nos preços industriais. Com este resultado, o índice acumula taxa de -5,15% no ano e de -7,72% em 12 meses. O contraste é impressionante com um ano atrás: em julho de 2022, o índice havia subido 0,21% e acumulava alta de 10,08% em 12 meses.

Mercado absorve dividendo menor da Petrobras

E o 1º dia de negociações de ações da Petrobras, após o anúncio da nova política de dividendos na noite de 6ª feira, 28 de julho, depois do fechamento dos mercados, mostrou que a redução 60% para 45% do fluxo de caixa das operações menos capex (investimentos), ou fluxo de caixa livre (FCF), com a manutenção de pagamentos mínimos trimestrais, uma boa reação do mercado. É que o mercado chegou a apostar na redução a 40% do percentual a ser distribuído.

Graças a isso e ao impulso na melhora da nota de risco da Petrobras pela Fitch, de BB- para BB, seguindo a melhora da nota do Brasil na semana passada (no total, 18 empresas tiveram elevação de avaliação), as ações de Petrobras PN (Petra 4) subiram 2,96% às 11;30, cotadas a R$ 30,58%, já com apostas de um bom lucro a ser divulgado na 5ª feira, após o fechamento dos mercados. O mercado, porém, ainda está reticente quando à possibilidade de a companhia, ao lado de investimentos em transição energética, reservar recursos para compra de participações em coligadas (caso da Braskem, onde tem 47% do capital ou na tentativa de retomar o controle da Vibra (antiga BR Distribuidora), embora a decisão se aplique a outras subsidiárias e parcerias.

GILBERTO DE MENEZS CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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