Em 1992, o economista e marqueteiro James Carville criou o slogan “É a economia, estúpido!”, para definir para um atônito presidente George Bush, celebrado como herói nos Estados Unidos um ano antes, o motivo de sua derrota para o então pouco conhecido governador de Arkansas, Bill Clinton. O mau estado da economia (que o candidato democrata prometeu consertar e cumpriu, ganhando a reeleição) explica a derrota do candidato republicano.
Pois agora há um grupo de economistas e políticos ligados ao ex-presidenbte Jair Bolsonaro quase em estado catatônito depois que a agência de classificação de risco Ficht elevou a avaliação do risco Brasil de BB- para BB. A classificação ainda põe títulos do país, bancos e empresas em grau especulativo. Com mais duas evoluções, a partir de BBB-, o país recebe certificação de grau de investimento que lhe permite receber investimentos de fundos de pensão em grandes projetos de infraestrutura, de que o país precisa.
As demais agências (Standard and Poor’s e Moody’s) devem fazer igual movimento de elevação do país. Mas o motivo que deixou perplexo o “staff” de Bolsonaro, à frente o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes e até mesmo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nomeado na gestão anterior e mantido com a independência do BC, em fevereiro de 2021, foi que a Fitch destacou os avanços da harmonia política entre os três Poderes como um dos motivos da melhoria da avaliação do Brasil.
Na campanha de 2018, Bolsonaro que era um capitão indisciplinado (foi expulso do Exército no final dos anos 80) e depois fez carreira política como deputado federal do baixo clero, ligado a militares e às milícias do Grande Rio, tratando com desdém a política e o “centrão”, ganhou um aliado de peso na figura do economista Paulo Guedes, que escrevia semanalmente em “O Globo” e criou a figura da “Nova Política”, em contraponto ao “munus” partidário.
A história mostrou o fracasso político do governo Bolsonaro, eleito depois que Lula teve a prisão decretada pelo juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro. O candidato do PT derrotado foi o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Mas a gestão Bolsonaro, de crítica ácida à negociação política e de agressão aos demais poderes da República foi um desastre. E ainda teve que se aliar aos velhos políticos do “centrão”, notadamente dos quadros do PP, do Republicanos e do MDB para se sustentar.
Por ironia da história, a condenação de Lula (em 2ª instância) foi anulada pelo Supremo Tribunal Federal, que considerou o juízo de Curitiba sem competência para avocar a análise penal de Lula, que caducou. De volta à cena política, Lula cresceu nas pesquisas e derrotou Bolsonaro mesmo com toda a sorte de abuso de autoridade do governo, em especial o pacote eleitoral temporário de Paulo Guedes, que cortou impostos (federais e estaduais) dos combustíveis, energia elétrica e comunicações, para conquistar a classe média e ainda elevou de R$ 400 para R$ 600 o Auxílio Brasil e criou mesada de R$ 1 mil, por seis meses, para caminhoneiros e taxistas. Lula venceu nas urnas e o bolsonarismo ressentido tentou o golpe de 8 de janeiro, uma semana após a posse de Lula, com invasão e destruição das sedes dos Três Poderes.
A força da Democracia e do entendimento político devolveu o país à normalidade, com reconhecimento de importantes governos estrangeiros. E o entendimento político, em vez do confronto diário, que estressava o país, fez avançar no Congresso – mesmo com a base política ainda fluida – as reformas propostas pelo governo Lula. Isso a Fitch reconheceu.
E um dos artífices das negociações, à parte o poder de persuasão do próprio presidente Lula, em 3º mandato, foi o ministro da Economia, Fernando Haddad. O que o renomado [para alguns, sempre fiz minhas restrições] economista Paulo Guedes não conseguiu (só a Reforma da Previdência, andou, em 2019, com grande empenho do então ministro Rogério Marinho e do então presidente da Câmara. Rodrigo Maia). A Reforma Tributária e tudo o mais (como o ”choque do gás” foram quimeras, atropelada pela péssima gestão da Covid-19.
Haddad, de certa forma, repete o médico Antônio Palocci, que assumiu o Ministério da Fazenda, em 2003, após o dólar chegar a R$ 4 com a eleição de Lula em outubro de 2002, e foi tranquilizando o país com a fala mansa. Haddad está se mostrando um hábil negociador. E a tranquilidade e a clareza com as quais expõe as posições do governo vão conquistando corações e mentes.
Simples assim. Gritar e bater na mesa não levam a nada, como sentiu o ex-presidente general João Figueiredo. Ele dizia que iria “prender e arrebentar” quem fosse contra a abertura política e a anistia, mas se acovardou após o atentado de radicais no Riocentro, em maio de 1981. Seu governo se arrastou por mais quatro anos com a crise da dívida externa e inflação nas alturas até a volta do poder civil com Tancredo Neves. Doente, não tomou posse. Assumiu o vice, José Sarney, efetivado após sua morte, em 21 de abril de 1985.
No Santander, Brasil já não é a galinha dos ovos de ouro
A redução de 40% no lucro do Santander Brasil, no 1º semestre de 2023, que ficou em 823 milhões de euros, devido aos problemas da Americanas, fez a filial brasileira deixar de ser a “galinha dos ovos de ouro” do banco de Ana Botin. De janeiro a junho a organização Santander ganhou 5,241 bilhões de euros, com a liderança sendo assumida pela Espanha, com lucro de 1,132 bilhão de euros. A operação do Reino Unido encostou no Brasil, com ganhos de 818 milhões de euros.
Os Estados Unidos também foram uma decepção nos resultados semestrais do Santander, com queda de 39% no lucro para 667 milhões de euros, o que desbancou a filial de Tio Sam na liderança dos resultados da América do Norte, assumida pela filial do México, que lucrou 760 milhões de euros.
Ainda o efeito Americanas
Ao comentar os resultados do 2º trimestre no Brasil, a matriz da Espanha informou que o resultado total “diminuiu 3%, impulsionado pela margem financeira (-4%), devido ao efeito de spreads mais baixos (…) e à sensibilidade negativa à subida das taxas de juro. A receita líquida de tarifas aumentou 4%. Os custos subiram 12%, impactados pela inflação, acordos salariais e custos relacionados ao maior crescimento dos negócios. O índice de eficiência manteve-se em bons níveis (35,1%)”.
Ao tratar do aumento de 6% “nas provisões líquidas para devedores duvidosos aumentaram 6%, em linha com o crescimento da carteira de crédito (principalmente varejo), elevando o custo do risco para 4,74% (4,84% em março de 2023), o Santander observa que a receita operacional líquida aumentou 3% devido à estabilização da receita líquida de juros. Mas o aumento não se reflete no lucro, pois foi afetado pela reversão, no 2º trimestre de 2023, de um lançamento de passivo fiscal registrado no 1º trimestre de 2023” (caso da Americanas).
GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL):