O QUE É BOM PARA OS ESTADOS UNIDOS….

CHARGE INTERNACIONAL

Não é só no Brasil que os economistas andam errando feio nas previsões de curto prazo. Nos Estados Unidos, que hoje revelaram nova queda de preços ao produtor no mês de junho (o mercado previa alta de 0,2% sobre maio e o aumento ficou pela metade 0,1%), os erros são mais frequentes no setor privado do que no Federal Reserve, o Banco Central americano.

Mais importante foi que o índice de demanda final subiu 0,1% nos 12 meses encerrados em junho. Como os preços ao consumidor (IPC) subiram apenas 0,2% em junho (3% na taxa anualizada), abaixo das previsões, espera-se a continuidade do bom comportamento para o varejo no mês de julho.

Isso é conta por que o Federal Reserve Bank reúne nos próximos dias 25 e 26 o Federal Open Market Committee (Fomc), o colegiado que traça a política monetária e serviu de inspiração ao Comitê de Política Monetária do Banco Central, criado em 1999, quando foi implementado o sistema de metas de inflação. Com os dados favoráveis no varejo e no atacado, crescem as expectativas de que o Fed mantenha os juros entre 5% e 5,25% ou promova apenas o último aumento de 0,25 ponto percentual, encerrando o ciclo em 5,25%-5,50%.

Mas vejam o que previu no dia 11 de julho, 3ª feira, quando saíram os dados do IPC, o economista chefe do JP Morgan, Bruce Klasman: “Não achamos que a inflação volte sozinha às zonas de conforto do Banco Central. Sim, há um declínio acontecendo. Mas não, não achamos que a inflação volte a ficar abaixo de 3% nos EUA ou na Zona do Euro este ano”. Klasman pode acertar a previsão na Zona do Euro, mais dependente da energia importada, que pesa sempre no outono-inverno. Mas nos EUA, os dados estão dizendo o contrário.

Nos EUA, Fed erra pouco…

A grande diferença é que nos Estados Unidos, o Fed tem errado muito pouco e não induz o mercado a erros de interpretação, por usar mensagens bem claras. No Brasil, o Copom tem errado muito. Há desencontro tanto entre o que diz o comunicado ao final de cada reunião (4ª feira) e a íntegra da Ata da reunião, divulgada na 3ª feira seguinte (como ocorreu em junho, quando o comunicado omitiu que a tendência majoritária era para redução em agosto, como se viu na Ata). Quanto, e principalmente, nos Relatórios Trimestrais de Inflação.

Os erros de previsões altistas da inflação nos RTIs (superadas pelos fatos desde o ano passado, quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, deixou a política monetária de lado e cortou os impostos, até 31 de dezembro para derrubar a inflação e tentar reeleger Bolsonaro) continuaram este ano. Tudo porque o Banco Central (que não dialogou com o novo governo eleito) supôs (e induziu o mercado na formação de expectativas) que o governo Lula faria a reoneração de 100% dos impostos em 1º de janeiro.

No Brasil, Copom erra muito…

Assim, o Banco Central manteve o freio de mão puxado com os juros inalterados em 13,75% desde agosto do ano passado. A supersafra agrícola tem derrubado os preços dos alimentos ao produtor (acima de dois dígitos) e ao consumidor em -0,66% em junho). Já foi um erro tremendo.

De outra parte a nova política de preços da Petrobras, anunciada por Lula durante a campanha, em substituição ao PPI (Paridade de Preços Internacionais) que forçava a Petrobras a usar menos a capacidade instalada de seu parque de refino para facilitar a concorrência de combustíveis importados, pois a intenção clara era vender 50% do refino, como ponto de partida à privatização da maior companhia brasileira, mudou os sinais dos preços administrados e levou o Banco Central a novos erros.

Mas o discurso oficial do Banco Central é de que a inflação vem caindo porque não se consumou a esperada “desancoragem das expectativas”, alimentada por supostas reduções nas metas de inflação (que vinham sendo estouradas, como em 2021 e 2022, pela incapacidade da política monetária lidar com choques externos -Covid-19 e invasão da Ucrânia pela Rússia – para levar a inflação a metas fixadas 30 meses antes, em período de calmaria.

Reversão das expectativas

Nunca vi falácia maior. A inflação esperada para o futuro (junto com o baixo crescimento que a trajetória de juros altos desenhava) era realimentada no mercado pelas sucessivas visões do Banco Central (nos RTIS e em palestras e entrevistas de seus diretores), alertando para a desancoragem.

Foi a reversão das expectativas (que Roberto Campos de Oliveira Neto, presidente do Banco Central deveria conhecer bem, pois a expressão foi cunhada por seu avô, Roberto de Oliveira Campos, então ministro do Planejamento do marechal Castelo Branco, o 1º do regime militar, quando as previsões de que o governo fracassaria foram caindo no vazio ante resultados positivos na economia). Agora, mudou a realidade virtual das projeções do BC.

Pois é justamente o que está acontecendo. As pesquisas da Quaest/Genial entre os economistas do mercado financeiro mostram uma percepção tardia de melhora. Do pessimismo quase geral até o 1º trimestre (período em que se esperava reoneração plena dos impostos federais e estaduais cortados por Guedes, o que faria a inflação repicar, o mercado está passando ao otimismo neste começo de 2º semestre.

Quando Pedro Malan foi ministro da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso, ele criticava, com muita propriedade e a elegância habitual, o “comportamento de manada do mercado financeiro”. Como não tenho esses prutidos, vou direto ao ponto: manada age por impulso refelexo (sem pensamento próprio). No Brasil as manadas mais conhecidas são de bovinos. Ou seja acatam as palavras de ordem e em lugar do livre pensar.

Mesmo com dificuldades de apoio político na Câmara, o governo Lula está saindo bem melhor do que previam os pessimistas. O mais importante é que está agradando a maioria da população, que optou por Lula a Bolsonaro.

O mercado já olha à frente (no Brasil e no mundo) com mais confiança e otimismo. O dinamismo do agro, das exportações e o uso mais intenso do parque produtivo da Petrobras, além de segurar a inflação, estão fazendo a roda da economia girar e gerar emprego e renda, apesar da trava do Copom.

Só o Banco Central continua ancorado nas suas expectativas pessimistas. Espera-se que o ingresso de Gabriel Galípolo, que era secretário executivo do Ministério da Fazenda na diretoria de Política Monetária, e de Aílton Aquino, na diretoria de Fiscalização vire a chave das reuniões do Copom.

GILBERTO MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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