A MÚSICA DE LUI COIMBRA

Oi, Lui, há quanto tempo, véio… lembrei-me do Aquarela Carioca, grupo instrumental no qual você tocou a partir de 1988, e dos CDs Ouro e Sol (2003) e Viola Perfumosa (2018), este com Ceumar e Paulo Freire, e me dei conta de que recebi agora o seu recém-lançado Roda–Flor (Biscoito Fino). Eu sempre admirei o virtuosismo do seu violoncelo, mas hoje a sua voz me surpreendeu, ela ganhou madurança. E percebi que o seu talento cuida de forma intensa e vigorosa tanto de harmonias e melodias quanto dos cantares. A brasilidade que deles emana é de honrar a nossa música popular.

Tudo começa com “Dona Tá Reclamando* (Dominguinhos Minguinho), com você à frente de voz, violoncelo, violão, piano, teclado e percussão. O cello inicia. A percussão pontua. A pureza d’alma vem nos versos populares do Boi do Maranhão. A música enfatiza o som do cello que, por sua vez, agita a melodia. A percussão segue. Ouve-se o piano e o violão. Como se aboiasse, você conduz ao final.

E vem “Melodia Sentimental”** (Heitor Villa-Lobos e Dora Vasconcelos), com você a cargo de voz e violoncelo. A intro vem com o cello, claro! Altaneiro, ele aguarda a voz que cantará a obra-prima de Villa, com versos de Dora. A simplicidade do arranjo contrasta com a amplitude da beleza que proporciona ao ouvinte um momento de rara beleza. Ad libtum, você canta bonito, enquanto dedilha as cordas do cello. A letra vem pela voz de quem a oferece aos céus da mais pura beleza.

“Graça” (Lui Coimbra): você, voz, violão, violas e samplers; Marcos Suzano, pandeiro e percussão; Tuca Alves, cavaquinho e guitarras; Pedro Aune, baixo. E lá vem o samba descendo a ladeira. E vem quente pelas mãos de Suzano, que tem no cavaco e na guitarra os parceiros a celebrarem o giro da saia da porta-bandeira que evolui em torno de um reverente mestre sala. Você vocaliza em terças. Em tom menor, o samba é poderoso! Levado na palma da mão, o sambista que você traz em si empolga. E o couro come. Pelas cordas do violão e da viola, você carrega o gênero em sintonia com uma pegada esperta. Voltam os vocalizes em terças. E o samba segue avenida afora. Arritmo, a melodia aguarda a volta da harmonia que, ao chegar, detona o ar.

“Quanto tanto – Canção da Lua Cheia” (Lui Coimbra) tem você em voz, violoncelo, violões e teclados, e Edu Szajnbrum na moringa e outras percussões. Seu violão abre a tampa e o cello logo se ajunta a ele, enquanto a percussão os ampara. Dobrando a própria voz em terças, você vocaliza.

Em “Avalon” (Lui Coimbra) você se encarrega de voz, violões, teclados e samplers. Ao abrirem o arranjo, teclado e samplers se integram. Seu violão traz para o proscênio a sonoridade de um músico íntegro, um mestre!

Bem, Lui, despeço-me enviando um forte abraço e o meu reconhecimento a você e a todos que o acompanharam nessa jornada musical.

Aquiles.

Ficha técnica: direção musical, arranjos, gravação e mixagem por Lui Coimbra; masterização por Lucas Ariel.

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AQUILES REIS ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

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