Há 445 anos, no dia quatro de agosto de 1578, desaparecia, tragicamente, para a História de Portugal, o último dos monarcas da iluminadíssima Casa de Avis, O Desejado Dom Sebastião, aos 24 anos, na tristemente célebre Batalha dos Três Reis, na localidade marroquina de Alcácer-Quibir, ao Norte do país. Estavam em campos opostos dois soberanos do Marrocos: o xerife Muley Mohammed, aliado a Dom Sebastião, e o Sultão Abdelmalek – o vitorioso.
O malogro permitiu a seus primos da Dinastia Habsburgo de Espanha, por três gerações, a anexação do extenso Império Português durante 60 anos (1580 – 1640) – do qual fazia parte, para além das Áfricas e Ásia, a então estreita faixa de terra que compreendia o Brasil dentro do rigoroso Tratado de Tordesilhas de 1494. Dom Sebastião, que passaria a ter como epíteto O Adormecido, seria sucedido por Dom Felipe II (1527 – 1598), filho de Dom Carlos V (1500 – 1558), Imperador do Sacro Império Romano Germânico, e de Dona Isabel, cujo pai era o Rei Dom Manuel I (1569 – 1621), O Venturoso, tornando-se Felipe I de Portugal.
Teria como herdeiro, por sua vez, Felipe III (1578 – 1621), denominado Felipe II pelos lusitanos, e, posteriormente, Felipe IV (1605 – 1665) – Felipe III de Lisboa. O desaparecimento do monarca marca profundamente o longo declínio dos portugueses nos séculos seguintes. Nem mesmo o extraordinário Risorgimento luso, com a Revolução dos Cravos, de 25 de Abril de 1974, que maravilhou o planeta, borraria definitivamente do imaginário do País a desolação de ter se convertido, na Europa, em uma nação coadjuvante, depois de ter liderado o continente e dado mundos ao mundo na Idade Moderna (1453 – 1789).
E, por isso, ainda hoje, em todo o universo lusófono, a questão da derrota do soberano de Avis é um tema de atualidade – e de muita melancolia. Inúmeras são as obras que continuam a ser lançadas sobre o assunto. Lá como cá. A mais recente é de autoria da historiadora Isabel Stilwell, de 63 anos, nascida em Lisboa, de pais ingleses, que tem como título “Filipe I de Portugal – O Rei Maldito”, por ser considerado um usurpador do trono.
O livro, bastante festejado em Portugal neste ano, mereceu uma matéria de seis páginas na revista semanal lisboeta “Visão”, de 11 de maio último, edição que me foi presenteada pelo querido amigo Armando Torrão, de Portugal em Foco. A reportagem leva a escritora a visitar as grandes transformações realizadas pelos Habsburgos em Madri, como a exuberante Plaza Mayor, no coração da capital. É dele também o projeto de construção do Palácio El Escorial, nos arredores de Madri, onde está enterrado o neto de Dom Manuel I.
Os destinos de Portugal, sem os Avis, causam, igualmente, questionamentos e dúvidas no imenso Portugal que se tornaria o Brasil graças ao expansionismo dos Bandeirantes. Como prova a pesquisa de fôlego feita pelo caríssimo amigo José Américo, jornalista e atual superintendente, em São Paulo, da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), para a elaboração de um conto histórico sobre a sequência de erros que conduziu o soberano ao desaparecimento.
Eu mesmo estive em Alcácer-Quibir, na tarde de quatro de janeiro de 2012 – e aqui publiquei uma coluna dedicada ao soberano com uma foto, que reproduzo hoje, na qual apareço diante do singelo monumento composto por quatro pedras em homenagem ao monarca luso, erguido pelos descendentes de Mohammed e Abdelmalek. Dom Sebastião, ao avançar contra os sarracenos de Abdelmalek, desapareceria na poeira da batalha. Para a eterna melancolia lusófona.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador