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Comentário ao artigo “Boaventura e os justiceiros da legalidade, por Luís Nassif“
Esse debate ocorreu há seis anos. E eu demorei três ou quatro anos para perceber o quão danoso foi para minha vida emocional.
Ouvi falar das acusações, mas não conheço os detalhes do caso envolvendo o professor Boaventura, que é uma pessoa com trabalho de extrema relevância.
Em relação a esse tema, porém, gostaria de contar duas estórias pessoais.
Tive a oportunidade de assistir o professor Boaventura em duas apresentações na UnB (uma delas por conta do Doutor Honoris Causa). Também tive a oportunidade de entrevistá-lo por duas vezes: Na véspera dessa cerimônia, por telefone, e no dia seguinte, antes do evento. Além da educação, lembro de ficar tocado por ele responder ao meu segundo pedido de entrevista, antes mesmo que eu me apresentasse e ainda andando pelo campus, assim: “Claro, Cristiano, temos alguns minutos antes da cerimônia”.
Já falei com muita gente, acadêmicos e políticos, em minha vida profissional, mas foi a primeira vez que fui reconhecido pelo timbre da minha voz, o que mostra o quanto ele se mostrava atento, disponível e disposto a ouvir as pessoas ao seu redor, professores, estudantes ou quaisquer outros. Presenciei também como ele tratava todos ao redor. Tenho, por esse curto convívio, confiança em sua sinceridade, ao se colocar dessa forma, diante de graves acusações.
O segundo caso envolveu meu primeiro contato com “as feminazis”, num ambiente virtual. Curiosamente, num grupo grande, que envolvia três pessoas que conhecia há mais de 20 anos e considerava como amigas.
Sou jornalista, de esquerda, e trabalhei boa parte da minha vida no governo federal – nos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma. Depois do golpe, passei quase três anos desempregado, já que sou conhecido, aqui no mercado local, como “jornalista petista”. Por isso, muitas portas se fecharam, nessa época, para mim.
Por conta disso, passei muito tempo nas redes sociais e nos blogs e sites de esquerda, como o GGN, acompanhado o desenrolar do desastre político que vimos nos últimos anos. Isso me colocou, mais de uma vez, em conversas das quais, depois, me arrependi. Principalmente porque passei muitas horas falando com pessoas sectárias e opacas a qualquer debate, discordância ou contrariedade.
Ao longo dos anos, aprendi, com meus próprios erros, que certos comentários, piadas e, principalmente, acusações, não podem ser feitas de forma abrupta ou leviana, só porque estamos no Facebook ou no Twitter.
Ocorre que um desses debates, na internet, trouxe resultados graves para minha vida emocional.
Fui colega de faculdade de uma professora da UnB, psicóloga e filosofa, militante radical do feminismo, cujo trabalho possui atualmente um grande destaque, com entrevistas regulares para a televisão, inclusive como pesquisadora convidada de uma série sobre violência de gênero transmitida pelo Fantástico, tempos atrás.
Pessoa que eu sempre respeitei e valorizei, que conhecia há mais de 20 anos e seguia nas redes sociais. Pois bem. Notei, com certa surpresa, que essa “intelectual”, tinha o costume de fazer comentários engraçadinhos, mas certamente inapropriados, e que sempre afirmava que “todo homem deve reconhecer o fato de ser um abusador, ou estuprador em potencial”.
Incomodado, mais de uma vez comentei, em seu perfil, que essas falas não pareciam apropriadas e que generalizações do tipo “todo homem…”, carecem de qualquer base científica.
Ocorre, que certa vez, ela escreveu no Facebook uma “piadinha”, dizendo: “Se homem fosse bom de cama, os machos tóxicos não se interessariam por mulheres (!!!)”.
Fiquei um tanto perplexo. Perguntei, de forma educada, se ela não considerava a possibilidade de a postagem soar homofóbica. A resposta dela foi que “eu não havia entendido a piada”, e que a “intenção dela” era, “apenas”, criticar o machismo.
Repliquei que, sim, isso era fácil de perceber. “Porém, os textos não dizem apenas as nossas intenções e é importante lembrar que a filosofia, e a psicanálise, estão aí para mostrar que os textos dizem muitas coisas, inclusive o que não queremos dizer, ou desejamos ocultar”.
Para quê? Passei a ser atacado por ela e por um grupo de até 20 alunos e amigos dessa professora, que, a pretexto de desqualificar minha crítica, passaram a dizer que eu era “um macho tóxico”, um “abusador” e, pasmem, um “estuprador”.
Sim, ousei criticar uma postagem por homofobia, de uma “sumidade” acadêmica e, no fim do debate, sem provas, fui acusado de ser um estuprador.
O debate durou de duas a três horas e, infelizmente, pela forte emoção, ao invés de printar a conversa e entregar na mão dum advogado, decidi denunciar ao Facebook, que, sem compromisso algum com seus usuários, simplesmente apagou todas as mensagens, junto com a postagem. Eram comentários públicos, disponíveis para milhares de usuários por algumas horas, com graves acusações e que, simplesmente, desapareceram.
Esse debate ocorreu há seis anos. E eu demorei três ou quatro anos para perceber o quão danoso foi para minha vida emocional.
A partir daí, perdi todo o respeito por essa acadêmica e passei a tratar o feminismo brasileiro com a máxima desconfiança. Simone de Beauvoir, se legado, e as mulheres merecem mais respeito do que o demonstrado por essa e outras acadêmicas brasileiras.
Foi nesse dia que, muito a contragosto, precisei reconhecer as feministas nazistas. Elas existem, infelizmente.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)