Milei defende a criação de um mercado de órgãos humanos para “resolver” o problema da fila de transplantes.
Abolição do salário mínimo, dos sindicatos e das aposentadorias; revogação das leis do aborto legal e da educação sexual; liberar a venda de armas.
Estas são algumas das propostas da plataforma eleitoral da coalização de extrema-direita “A Liberdade Avança”, encabeçada pelo economista dito “libertário” Javier Milei, de 52 anos, fascista em ascensão que caminha para chegar nas eleições gerais de outubro na Argentina com reais possibilidades de se tornar o sucessor de Alberto Fernández na Casa Rosada.
“Apareceu um personagem, um louco, e a mídia faz o possível para mostrá-lo em um lugar preponderante na política”, disse recentemente o presidente Fernández, que, com mais de 70% de desaprovação e em meio a pesadas disputas de poder no seio do kirchnerismo, anunciou no fim de abril que não irá concorrer à reeleição.
Pesquisas mostram que a intenção dos argentinos de votarem em Milei pulou de 15% no início do ano para atuais 23%. A Frente de Todos, de Fernández e com nome ainda indefinido para disputar a presidência, tem 29%, mesmo patamar da coalizão de direita Juntos Pela Mudança, do ex-presidente Maurício Macri. As pesquisas mostram também que Milei tem a melhor imagem positiva e o maior teto de votação entre os possíveis postulantes à presidência da Argentina.
Tendo em vista que não só no Brasil as pesquisas eleitorais têm errado feio, para menos, as votações na extrema-direita, é mesmo o caso de se preocupar.
Há poucos dias, Milei voltou a defender outro ponto de seu programa que por si só – como tantos outros – deveria bastar para barrar seu registro eleitoral: a criação de um mercado de compra e venda de órgãos humanos para “resolver” o problema da fila de transplantes.
No início de maio, Milei convidou para a vice em sua chapa uma deputada conhecida por defender a brutal ditadura militar instalada na Argentina entre 1976 e 1983.
“Aquele discurso de maníaco à solta que muitos de nós víamos em 2015 e 2019 como algo que não pegaria nas agendas políticas tornou-se o desejo de realidade de uma parcela não desprezível do eleitorado”, escreveu na semana passada o jornalista Julián Ponsone no jornal portenho Página 12, em artigo intitulado “O fascismo já está entre nós?”.
A resposta é sim. Na vizinhança, por exemplo, faz tempo. Com “A Liberdade Avança” e Javier Milei, avança o fascismo na Argentina e na América Latina.
HUGO SOUZA ” JORNAL GGN” ( BRASIL)
Hugo Souza é jornalista.