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Presidente cita risco de conflito nuclear e a necessidade de basear soluções para a paz a partir do diálogo; leia íntegra do discurso
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a abordar a necessidade de se estabelecer diálogos para a obtenção de paz duradoura neste domingo, durante a sessão de trabalho do G7 e países convidados realizada na cidade de Hiroshima, no Japão.
Entre os pontos citados pelo presidente estão o risco de uma guerra nuclear, atualmente em seu nível mais elevado desde a Guerra Fria – assim como a falsa visão de segurança de deter um arsenal nuclear. “Enquanto existirem armas nucleares, sempre haverá a possibilidade de seu uso”, disse Lula.
Segundo Lula, os mecanismos multilaterais de prevenção e resolução de conflitos já não funcionam, e que é necessário abrir espaços para negociações por meio do diálogo.
“Tenho repetido quase à exaustão que é preciso falar da paz. Nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo. Precisamos trabalhar para criar o espaço para negociações”, ressaltou.
Lula também citou a falta de reforma do Conselho de Segurança da ONU como um “componente incontornável” dos diversos desafios existentes.
“O Conselho encontra-se mais paralisado do que nunca. Membros permanentes continuam a longa tradição de travar guerras não autorizadas pelo órgão, seja em busca de expansão territorial, seja em busca de mudança de regime”, pontuou. “O resultado é que hoje temos um Conselho que não dá conta nem dos problemas antigos, nem dos atuais, muito menos dos futuros”.
O presidente brasileiro enfatizou a necessidade se romper com a lógica de “alianças excludentes e de falsos conflitos entre civilizações”, e que a cooperação, que respeite as diferenças, é o correto a ser feito.
Leia abaixo a íntegra do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Hiroshima é o cenário propício para uma reflexão sobre as catastróficas consequências de todos os tipos de conflito. Essa reflexão é urgente e necessária. Hoje, o risco de uma guerra nuclear está no nível mais alto desde o auge da Guerra Fria.
Em 1945, a ONU foi fundada para evitar uma nova Guerra Mundial. Mas os mecanismos multilaterais de prevenção e resolução de conflitos já não funcionam.
O mundo já não é o mesmo. Guerras nos moldes tradicionais continuam eclodindo, e vemos retrocessos preocupantes no regime de não-proliferação nuclear, que necessariamente terá que incluir a dimensão do desarmamento.
As armas nucleares não são fonte de segurança, mas instrumento de extermínio em massa que nega nossa humanidade e ameaça a continuidade da vida na Terra.
Enquanto existirem armas nucleares, sempre haverá a possibilidade de seu uso.
Foi por essa razão que o Brasil se engajou ativamente nas negociações do Tratado para a Proibição de Armas Nucleares, que esperamos poder ratificar em breve.
Em linha com a Carta das Nações Unidas, repudiamos veementemente o uso da força como meio de resolver disputas. Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia.
Ao mesmo tempo, a cada dia em que os combates prosseguem, aumentam o sofrimento humano, a perda de vidas e a destruição de lares.
Tenho repetido quase à exaustão que é preciso falar da paz. Nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo. Precisamos trabalhar para criar o espaço para negociações.
Também não podemos perder de vista que os desafios à paz e à segurança que atualmente afligem o mundo vão muito além da Europa.
Israelenses e palestinos, armênios e azéris, cossovares e sérvios precisam de paz. Yemenitas, sírios, líbios e sudaneses, todos merecem viver em paz. Esses conflitos deveriam receber o mesmo grau de mobilização internacional.
No Haiti, precisamos agir com rapidez para aliviar o sofrimento de uma população dilacerada pela tragédia. O flagelo a que está submetido o povo haitiano é consequência de décadas de indiferença quanto às reais necessidades do país. Há anos o Brasil vem dizendo que o problema do Haiti não é só de segurança, mas, sobretudo, de desenvolvimento.
O hiato entre esses desafios e a governança global que temos continua crescendo. A falta de reforma do Conselho de Segurança é o componente incontornável do problema.
O Conselho encontra-se mais paralisado do que nunca. Membros permanentes continuam a longa tradição de travar guerras não autorizadas pelo órgão, seja em busca de expansão territorial, seja em busca de mudança de regime.
Mesmo sem conseguir prevenir ou resolver conflitos através do órgão, alguns países insistem em ampliar a agenda do Conselho cada vez mais, trazendo novos temas que deveriam ser tratados em outros espaços do sistema ONU.
O resultado é que hoje temos um Conselho que não dá conta nem dos problemas antigos, nem dos atuais, muito menos dos futuros.
O Brasil vive em paz com seus vizinhos há mais de 150 anos. Fizemos da América Latina uma região sem armas nucleares. Também nos orgulhamos de ter construído, junto com vizinhos africanos, uma zona de paz e não proliferação nuclear no Atlântico Sul.
Testemunhamos a emergência de uma ordem multipolar que, se for bem recebida e cultivada, pode beneficiar a todos.
A multipolaridade que o Brasil almeja é baseada na primazia do direito internacional e na promoção do multilateralismo.
Reeditar a Guerra Fria seria uma insensatez.
Dividir o mundo entre Leste e Oeste ou Norte e Sul seria tão anacrônico quanto inócuo.
É preciso romper com a lógica de alianças excludentes e de falsos conflitos entre civilizações.
É inadiável reforçar a ideia de que a cooperação, que respeite as diferenças, é o caminho correto a seguir.
TATIANE CORREIA ” JORNAL GGN” ( BRASIL)