Há gente deles por todos os lados. É pauta prioritária e urgente
Qualquer calouro do curso de Ciências Sociais, no primeiro semestre é chamado a ler o clássico: “O Príncipe”, de Maquiavel. O livrinho é obrigatório para quem pensa em estudar ou militar na política. Em um dos seus trechos, ele ensina que o mal deve ser feito de uma só vez. Dói menos, reverbera, mas logo essa repercussão passa, enquanto quando se faz o mal aos poucos, você dá chance ao seu opositor de bolar estratégias para atenuar esse mal, além de prolongar os comentários em torno do fato. Contamina o reino. “Quando fizer o bem, faça-o aos poucos. Quando for praticar o mal, é fazê-lo de uma vez só”, é o que está lá no manual.
Os estrategistas do governo Lula, porém, parecem ter faltado a essa aula. Tiveram todo o período da transição para levantar dados, produzir diagnósticos – e fizeram um belo trabalho nesse sentido -, mas se distraíram na “limpeza da casa”. Do dia da eleição em diante, frente a tudo o que havíamos vivido, sabiam que não era hora de cochilar. Era preparar nos setores mais nevrálgicos – Saúde era um deles, militar, outro -, as listinhas de demissões. Imediatas. Não o fizeram, e com uma semana no poder tiveram de defenestrar o Comandante Geral do Exército, adepto do golpe afrontosa e declaradamente.
Teria sido mais fácil tomar certas providências antes que o jogo estivesse jogado, que a estratégia de governo estivesse na mesa, e que os opositores soubessem qual o rumo do novo governo, a ponto de poder atrapalhar. Assim, depois de instalado, ficou fácil obstruir, sabotar, tramar. À lá Maquiavel teria sido mais fácil e menos indolor.
Após o preâmbulo, apesar de considerar positiva a iniciativa do ex-comandante interino do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Ricardo Capelli, que assumiu a função em abril, após a demissão do então chefe, o general Gonçalvez Dias, e do secretário-executivo, general Nigri, é preciso dizer: “demorô”.
Ele combinou a demissão em massa de militares do GSI (88 ao todo), com o comandante do Exército, general Tomás, (conforme anunciado no blog da jornalista Andrea Sadi), com a anuência do presidente Lula e “combinado” com o ministro da Defesa, José Múcio. Seria para aplaudir de pé, se viável fosse. Não é o que se comenta no meio militar.
Ainda segundo o blog, Cappeli chamou o Comandante do Exército durante a semana e informou a respeito das demissões em forma de lista, para que o General pudesse analisar. Mas, sempre tem um “mas”. A medida pode ter vindo com um certo atraso. Há quem diga, no meio militar, que a lista será revertida, o que deixa o governo em situação constrangedora. A aposta é a de que o Alto Comando vai subtrair da lista elaborada, vários nomes. Vão “empastelar”, foi a expressão usada.
O que dizer do atraso da saída do coronel Elcio Franco (da reserva), desalojado, enfim, do Ministério da Saúde, onde com a sua omissão e manobras suspeitas, na compra de vacinas, contribuiu para 700 mil mortes durante a pandemia de Covid, quando ocupava o segundo posto na hierarquia da pasta? Arredado para o lado, para um cargo no Conselho da Hemobrás, eis que, flagrado como um dos estrategistas do golpe do dia 8 de janeiro, conforme demonstrado nos áudios vazados pela PF, foi demitido apenas, creiam, no dia 9 desta semana finda. Trata-se, como observado acima, de alguém da mais ferrenha oposição – tramou um ataque militar com 1500 homens armados – e, portanto, de alta periculosidade.
Não é só. O mesmo Ministério da Saúde vai exonerar por esses dias, mais um coronel ligado a Bolsonaro, que era mantido em uma estatal da pasta, no governo Lula. George da Silva Divério, um dos personagens mais controversos da gestão Eduardo Pazuello, deixará nos próximos dias a presidência do conselho fiscal da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás). Era coleguinha do coronel Élcio Franco.
A informação, de acordo com a coluna da jornalista Malu Gaspar, foi confirmada pelo próprio ministério, que não soube especificar uma data para a exoneração porque a indicação de um substituto ainda depende de trâmites dentro da própria Hemobrás, além da Casa Civil de Rui Costa. Ora, ora, ora! É preciso avaliar um “substituto à altura”, para ocupar a vaga de um “opositor”, (tentando ser leve).
Elcio Franco, que foi secretário-executivo de Pazuello no Ministério da Saúde e se tornou pivô de conversas golpistas com o ex-major do Exército Ailton Barros, amigo próximo de Jair Bolsonaro, reveladas pela CNN Brasil na última segunda-feira (8), foi demitido no dia seguinte. Quer dizer, praticamente “ontem! Assim fica difícil. É campo minado. Há gente deles por todos os lados. É pauta prioritária e urgente.
Confira a lista dos servidores demitidos no GSI:
Secretário de Assuntos de Defesa e Segurança Nacional Brigadeiro-do-Ar MAX CINTRA MOREIRA
<Secretário de Segurança e Coordenação Presidencial General de Brigada MARCIUS CARDOSO NETTO
Secretário de Coordenação de Sistemas Contra-Almirante MARCELO DA SILVA GOMES
Secretário-Executivo Adjunto General de Brigada MARCELO GOÑES SABBÁ DE ALENCAR
Assessor Militar Capitão-de-Mar-e-Guerra (MB) TÁCITO AUGUSTO DA GAMA LEITE
Diretor do Departamento de Assuntos de Defesa e Segurança Nacional Coronel (FAB) IVAN LUCAS KARPISCHIN
DENISE REIS ” BLOF BRASIL 247″ ( BRASIL)