Após meses de espera, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, resolveu indicar dois novos diretores para o Banco Central. Na prática, mantida a independência do Banco Central, significa intervenção no Comitê de Política Monetária Monetária (Copom). O vice-ministro da Fazenda, Gabriel Galípolo deve assumir a diretoria-chave de Política Monetária (Dipom). Aílton Aquino, o 1º preto a integrar a Diretoria do BC, desde a sua criação, em 31 de dezembro de 1964, vai comandar a Fiscalização e a Supervisão de Projetos.
Embora jovem, Galípolo que faz 40 anos em agosto, substitui Bruno Serra Fernandes, 42, cujo mandato expirou em fevereiro e foi exonerado em 24 de março. Sua formação é bastante diversa da linha ortodoxa da composição do Copom sob o mandato de Roberto Campos Neto. Ainda vai demorar para a aprovação dois nomes na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Antes de bater o martelo, nesta 2ª feira, por Galípolo e Aquino, o governo chegou a anunciar dois nomes: Rodolfo Froés, para a Dipom, e o funcionário de carreira do BC, Rodrigo Monteiro, para a Difis.
A próxima reunião do Copom será nos dias 20 e 21 de junho. O governo Lula gostaria, se o Congresso aprovar antes o novo modelo de ajustamento fiscal, que a reunião do Copom já promova ou acene com pequena baixa na taxa Selic, atualmente em 13,75%. Talvez não dê tempo para Galípolo defender novas ideias. O mais provável é que a baixa comece em 2 de agosto.
Desde a saída de Serra Fernandes e de Paulo Sousa, da Diretoria de Fiscalização, o Copom, composto por Campos Neto e oito diretores, estava desfalcado. A ata da última reunião, em 3 de maio, que será publicada nesta 3ª feira, teve apenas sete assinaturas, pois a diretora Carolina de Assis se ausentou. E Diogo Guillen, o mais jovem da Diretoria (faz 40 anos em 9 de julho) acumulou dois votos: o de diretor de Política Econômica, para a qual foi eleito há um ano, e o de Política Monetária. Os mandatos são de três anos. Até o fim do ano, abrem duas novas vagas na diretoria e Lula teria 4 indicações.
Com a ida de Galípolo para o colegiado do Copom não apenas são esperadas discussões mais acaloradas sobre os rumos da política monetária (há dois anos as decisões têm sido unânimes), como o cacife de Diogo Guillen deve encolher diante dos poderes inerentes ao novo diretor de Política Monetária. Como peça-chave da articulação do arcabouço fiscal e da política econômica desenhada no Ministério da Fazenda, Galípolo será o avalista do compromisso do governo Lula com a estabilidade fiscal (ainda que com metas flexíveis), ajustadas a cada seis meses, como fez Paulo Guedes no ano passado.
Pedra no sapato de Campos Neto
Na versão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que considero, um gesto de consideração para com o presidente do Banco Central, a sugestão da indicação de Gabriel Galípolo partiu de Campos Neto.
A realidade é que a presença de Galípolo no Copom, defendendo linha heterodoxa de política econômica (ele comunga da tese de André Lara Resende, que mostra que a ortodoxia monetária está sendo desmentida pela aplicação da “quantitative easy” pelos bancos centrais, tanto na crise financeira mundial de 2008, quando na pandemia da Covid) será uma pedra no sapato de Campos Neto até 31 de dezembro de 2024. E mais que isso, Galípolo poderá ser indicado para assumir a vaga de Campos Neto ao fim do seu mandato.
O Copom sempre insiste que falta previsibilidade na política fiscal (reoneração dos impostos e desenho das projeções de déficit/superávit fiscal) e que, por isso, as expectativas da inflação (a “ancoragem da inflação” pelo mercado), que também dependem da política fiscal, não davam garantia ao Copom para aliviar a taxa Selic. A última pesquisa Focus mostrou estabilidade na inflação para 2024 e 2025, dentro do teto do teto da meta de inflação (4,50%). A ida de Galípolo para o colegiado há de confrontar essa linha. Os juros altos estão criando estabilidade de preços e limitando o PIB à faixa de 1%.
Só a inflação de 2023 encontra-se acima do teto da meta para este ano (que é de 3,25% + 1,50% de tolerância = 4,75%) e o mercado está prevendo 6,02% para o IPCA. A volta da inflação se deu por choque de oferta após a Rússia invadir a Ucrânia. No Brasil, pressionou a inflação, que caiu pelo corte dos impostos dos preços críticos, promovido eleitoralmente por Paulo Guedes.
A pressão da reoneração de impostos e preços administrados, previstos acima de 10% este ano, por força dos impactos da guerra Rússia X Ucrânia, é que está deixando o IPCA acima do teto da meta. Por isso, a paz valeria muito mais que taxas de juros para derrubar a inflação. A Selic traz efeito colateral ao PIB.
Itaú deixa Bradesco e Santander na poeira
Embora com forte impacto negativo da Americanas, o Itaú livrou vários corpos de vantagem sobre Bradesco e Santander no 1º trimestre. O lucro líquido recorrente do Itaú foi de R$ 8,435 bilhões (R$ 8,179 bilhões de lucro contábil). Mesmo considerando que a “holding” Itaú Unibanco engloba atuação na América Latina, onde lucrou R$ 786 milhões (9,3% do lucro recorrente), o ganho no Brasil (R$ 7,649 bilhões) supera em muito a soma de lucros do Bradesco (R$ 4,280 bilhões) e Santander (R$ 2,140 bilhões), ou R$ 6,420 bilhões.
Na gestão de recursos de terceiros o Itaú acumulou R$ 1,594 bilhões, e também ganha da dupla: Bradesco teve R$ 999 bilhões em gestão e o Santander, R$ 391 bilhões. Impressiona o ganho nas operações de atacado do Itaú (engloba a AL), com lucro de R$ 4,862 bilhões (+14,3% no trimestre e de + 33% sobre o 1º trimestre de 2022). Na contramão, a queda de 14,5% e 51,9% no lucro das operações Corporativas, que ficou em apenas R$ 470 milhões.
Adeus a Bernardo de La Peña
Com grande pesar comunico o falecimento, nesta 2ª feira, do jovem e talentoso jornalista Bernardo de La Peña, aos 48 anos. Conheci Bernardo garoto, na casa de seu pai, o saudoso José de La Peña, na Joatinga. Quando ele ingressou no jornalismo, primeiro no “Broadcast” do Estadão, e depois em carreira vitoriosa e eclética em O Globo, onde cobriu Economia e Política, tive o prazer de vê-lo receber um “Prêmio Esso”, quando participei da Comissão de Julgamento. O reencontrava na casa de amigos, sempre alegre e atencioso.
Quando ele próprio me contou, há uns sete anos, com extrema coragem e candura (sua marca registrada), que estava com um câncer no cérebro, e me mostrou a cicatriz da operação, confesso que fiquei sem chão, na calçada do Bar Lagoa, em Ipanema. Por causa da doença que lhe tirou parte de suas habilidades, ele foi afastado de O Globo. E foi trabalhar com o seu pai.
Quando fui montar a Redação do JORNAL DO BRASIL para a volta às bancas, em fevereiro de 2018, Bernardo não parou de insistir para integrar o JB, onde conheci seu pai nos anos 80. Sua pertinácia era comovente, mas me doía ver como se frustrava por não poder transmitir seu talento aos leitores. O último encontro com ele foi antes da pandemia, com o nosso amigo comum, o Padre Omar, Pároco da Igreja de São José da Lagoa (fui batizado em 19 de março de 1959, na São José, que ficava na rua Jardim Botânico, em frente ao Bar Joia). Como Bernardo era religioso, tenho certeza de que está nas mãos de Deus.
GILBERTO DE MENEZES CÕRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)