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É impressionante a cegueira em relação aos juros, o nível de argumentos, que fogem a qualquer raciocínio lógico
A sessão de ontem no Senado, sobre a taxa de juros, mostrou que parte do país vive uma realidade paralela. É impressionante a cegueira em relação aos juros, o nível de argumentos, que fogem a qualquer raciocínio lógico.
A inflação é uma realidade que depende de vários fatores: choques de oferta, de demanda, choques climáticos, preços internacionais, mercados cartelizados.
Por outro lado, economias nacionais são realidades complexas, com correlações muitas vezes conflitantes entre si. Ora, a Selic é fundamental para definir o custo do crédito, que é essencial para garantir o capital de giro e o investimentos das empresas, o crédito dos consumidores, que é o que garante não apenas geração de empregos, como aumento da receita fiscal.
Para muitos cabeças de planilha, a taxa de juros é intocável – todos os demais fatores devem se ajeitar em torno da taxa definida, seja qual for ela.
Mas na realidade paralela dos cabeças de planilha só existem taxa Selic e inflação. Se a taxa elevada paralisa a economia, basta elevar a Selic a um nível tal que mate o crescimento. Aí, a inflação será domada.
Poucas vezes vi um amontoado tão vasto de falta de contato com a realidade. O representante da Febraban justifica as altas taxas de juros devido aos altos níveis de inadimplência – que estão diretamente ligados às altas taxas de juros. É a própria quadratura do círculo.
Pai das “metas inflacionárias”, Arminio Fraga disse duvidar da consistência do tal arcabouço fiscal para manter a relação dívida pública/PIB. Porque com Selic a 13,75%, o superávit fiscal precisa ser muito maior para compensar o aumento da dívida com a Selic.
Outro gênio das planilhas sustentou que se a inflação não atinge a meta, é porque a Selic ainda não é suficiente. Portanto, teria que subir mais ainda.
Nenhuma análise sobre o impacto dos preços internacionais na inflação, sobre os efeitos deletérios do câmbio flutuante e do livre fluxo de capitais na inflação, sobre os impasses entre crescimento e inflação, sobre a discrepância das taxas reais de juros com a de outros países.
E toca ouvir o gênio das finanças repetir pela enésima vez a importância da lição de casa, de resolver antecipadamente os problemas estruturais do país, seja quais forem, antes de reduzir os juros.
A rigor, a única cena que salvou a sessão foi o inacreditável senador Sérgio Moro – que jamais leu um livro na vida – citar Júlio Cesar, de Shakespeare e fazer ilações, sabe-se lá quais, com as taxas de juros.
Foi um final digno de uma pantomima.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)