O JOGO DE EMPURRA SOBRE O GOLPE QUE DEU ERRADO

CHARGE DE NANDO MOTTA

Acuados pelo STF e Polícia Federal, bolsonaristas fazem aposta de risco na CPMI com a versão que divide com o governo a responsabilidade pela depredação das sedes dos Três Poderes da República

A faixa presidencial foi entregue por Aline Sousa – Foto Tomaz Silva/Agência Brasil

Nessa quarta-feira (26), será formalmente criada a CPMI para investigar a tentativa de anular o resultado da eleição presidencial e derrubar o novo governo Lula em atentados contra os Três Poderes da República no domingo 8 de janeiro. O que ali aconteceu foi acompanhado ao vivo por telespectadores do país e do mundo afora. Mesmo assim, os bolsonaristas querem aproveitar a comissão parlamentar de inquérito para semearem dúvidas a serem difundidas em suas redes sociais.Na versão deles, a quebradeira nas sedes dos palácios da República foi culpa da omissão ou conivência das autoridades do novo governo que, sem nenhum processo de transição, acabavam de assumir o poder Executivo. Para eles, o que menos importa são os vândalos terem sido financiados e comandados por quem se recusou a aceitar a derrota eleitoral.

Oposição anuncia que tem assinaturas para abrir Comissão Parlamentar Mista e Inquérito sobre 8 de janeiro – Foto Natanael Alves / PL

Por mais que pareça apenas maluquice, essa narrativa é comprada pelo valor de face por adeptos que, por crença ou oportunismo, seguem a cartilha bolsonarista, e é multiplicada nas redes sociais, inclusive por robôs, perfis automatizados na internet. Isso será despejado na CPMI como estratégia para tornar a investigação parlamentar em mais uma guerra de versões.Se os bolsonaristas, com auxílio de suas redes sociais, conseguirem reduzir os danos pelo golpe fracassado no 8 de janeiro estarão no lucro. Eles estão animados com essa possibilidade depois do erro do governo de tentar evitar a CPMI e a omissão do ex-ministro Gonçalves Dias, evidente nos vídeos e em seu depoimento à PF. A alegação do general Dias que agiu daquela forma com o propósito de conter riscos virou o mote para os outros nove militares do Gabinete de Segurança Institucional que, no domingo (23), prestaram depoimentos à Polícia Federal.

General Carlos Feitosa Rodrigues – Foto Divulgação/Exército

Um deles, o general Carlos Feitosa Rodrigues, que seguia como sub-chefe da GSI mesmo tendo sido braço-direito do ex-ministro Augusto Heleno, apontado pelos investigadores como um dos principais suspeitos de comando nessa tentativa de reversão na marra do resultado eleitoral. À PF, o general atribuiu a falhas da Polícia Militar do Distrito Federal, responsável por cuidar das avenidas e gramados próximos ao palácio, a não reação das tropas encarregadas da segurança do Palácio do Planalto. Parece e é uma desculpa esfarrapada.

Major do Exército José Eduardo Natale – Foto Reprodução

Na mesma linha, o major do Exército José Eduardo Natale, coordenador da segurança dos palácios presidenciais, que apareceu nos vídeos distribuindo garrafas d’água para os invasores, justificou aos delegados da PF tamanha gentileza: “Que os manifestantes questionaram de forma exaltada que local era aquele, ocasião na qual respondeu que se tratava de uma copa; que então os manifestantes exigiram que lhes dessem água; que o declarante entregou algumas garrafas de água com o intuito de acalmá-los e que não danificassem a copa e ainda solicitou que saíssem do local”.O major Natale explicou que, mesmo sendo responsável pela segurança do Planalto com tropas à disposição para cumprir a missão, não executou nenhuma prisão. Disse que estava sozinho e temia ser linchado pelos manifestantes. Acrescentou que antes tomara algumas precauções: “Que retirou o paletó, a gravata e a pistola para infiltrar-se no palácio tomado pelos manifestantes, a fim de conter danos, bem corno evitar o furto de sua arma, já que estava sozinho”.

Coronel do Exército tenta impedir polícia de prender manifestantes – Foto Reprodução

Há um jogo de empurra entre militares do Exército e Polícia Militar, na época do então secretário de Segurança do DF,  delegado Anderson Torres, hoje na cadeia enrolado nos vários fios soltos da conspiração para instalar uma nova ditadura no país. Jair Bolsonaro, Anderson Torres e general Augusto Heleno são os principais suspeitos.

Torres foge de depoimento sob a alegação de que está passando por uma crise psicológica. Bolsonaro tem depoimento marcado pela PF nessa quarta-feira (26).  Tendo que dar explicações em todas as investigações, até agora o general  Heleno só rompeu o silêncio para responder à colunista Mônica Bergamo que “a verdade sempre aparece”.Não vai colar na apuração da Polícia Federal e nem no STF, no inquérito comandado pelo ministro Alexandre de Moraes. Vai sobrar aos golpistas tentar emplacar uma guerra de versões na CPMI, produzindo combustíveis para sua militância nas redes sociais. Eles têm pressa porque temem que a lei contra as fake news, cuja urgência foi aprovada na noite dessa terça-feira (25), reduza seu poder de fogo.A conferir.

ANDREI MEIRELES ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *