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Apontada como testa-de-ferro de Daniel Dantas e Eike Batista, Patrícia Coelho ofereceu doar R$ 1 milhão para instituição de Deltan Dallagnol
O depoimento de Tacla Duran será apenas uma ponta do fio da meada sobre as estripulias de procuradores, comandados por Deltan Dallagnol, e do ex-juiz Sérgio Moro. Há um conjunto enorme de episódios mal explicados, e de informações sonegadas que, a partir de agora, virão à tona. Especialmente depois que o ministro Ricardo Lewandowski manteve no Supremo Tribunal Federal as investigações sobre o caso.
Com isso, cessa a blindagem que a Lava Jato recebia do Tribunal Regional Federal da 4ª região.
Aqui, um dos episódios que precisam ser investigados: o caso da empresária Patrícia Tendrich Pires Coelho, que prometeu uma doação de R$ 1 milhão para o Instituto MUDE – criado por Dallagnol para levantar contribuições empresariais – e foi poupada pela Lava Jato, apesar de sua participação central em um golpe contra a Petrobras.
Resumo
No auge da Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol montou o Instituto MUDE, para angariar contribuições empresariais. Montou um grupo de WhatsApp, com os integrantes do Instituto, provenientes da sua igreja – entre os quais um pastor que o aproximou de Silas Malafaia.
Em uma das conversas captadas pela Vaza Jato, ele informava seus colegas ter recebido R$ 1 milhão de uma “investidora anjo”. Esse termo é utilizado para investidores que apoiam o início de startups no mercado de tecnologia.
“Caramba. Essa viagem de ontem foi de Deus. Além dela, estava um deputado federal que se comprometeu a apoiar rs”, escreveu em uma mensagem capturada pela Vaza Jato, sem revelar o nome do deputado.
No dia 29 de agosto de 2016, um dos fundadores do MUDE, Hadler Martins, alertou no Telegram:
“Talvez vocês já tenham feito isso mas sobre nossa investidora anjo, dei uma boa pesquisada sobre seu histórico e realmente ela parece ser uma grande empresária multimilionária e com grande trânsito com grandes empresários nacionais. Hoje ela é sócia de empresa de frotas de navios (Aasgard) e de mineração e portos (Mlog). Algumas coisas que me chamaram atenção: – sua empresa fornece navios para a Petrobras; – ela é ex-banco Opportunity (famoso Daniel Dantas) – ela foi ou é muito próxima do Eike Batista e também do André Esteves (BTG)”.
Deltan se calou. No dia 8 de setembro, mesmo depois do alerta, ele e outros integrantes do MUDE – Fábio Oliveira, Patrícia Fehrmann, Hadler Martins e o pastor Marcos, foram ao Rio de Janeiro para consumar a negociação com Patrícia Coelho.
No dia 11 de setembro, Hadler voltou a alertar
“Sobre nossa reunião com o Anjo, ainda estou com uma pulga atrás da orelha tentando entender a razão do apoio financeiro tão generoso (sendo cético no momento)”, escreveu. “Me pergunto se ela quer ‘ficar bem’ com o MPF por alguma razão… Ela já foi conselheira do Eike e pelo que li dela, ela o representava em algumas negociações. Sugestão: fiquemos atentos. Desculpem o provérbio católico, mas quando a esmola é demais, o santo desconfia…”
Na mensagem, enviou um link da revista Exame, mostrando que Eike tentou sacar US$ 100 milhões dos BTG, mas foi impedido por André Esteves. A reportagem dizia que Patrícia era apresentada como consultora de Eike.
Deltan consulta, então, seu colega Roberson Pozzobon, para que pesquise na base de dados da Lava Jato se haveria alguma menção à Patrícia Tendrich Pires Coelho.
Pozzobon encontrou referências a ela como representante de Eike Baptista, mas o acalmou. Seria muita “teoria da conspiração” achar que ela tivesse procurado Deltan para negociar qualquer coisa.
Pozzobon foi o colega convidado por Deltan para montar uma empresa de cursos e faturar em cima da Lava Jato.
A resposta de Deltan ao grupo, no dia 25 de outubro de 2017:
“Caros, uma notícia ruim agora, mas que não quero que desanime Vcs. A Patricia Coelho apareceu numa petição nossa e me ligou. Ela disse que tinha sociedade com o grego Kotronakis (um grego que apareceu num esquema de afretamentos da Petrobras e que foi alvo de operação nossa), mas ele tinha só 1% e ela alega que jamais teria transferido valores pra ele… (…) Ouvindo sobre o caso superficialmente, não posso afirmar que ela esteve envolvida ou que será alvo, mas há sinais ruins. É possível que ela não tenha feito nada de errado, mas talvez seja melhor evitar novas relações com ela ou a empresa dela, por cautela”, escreveu, e concluiu biblicamente: “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas”.
O inquérito que poupou Patrícia
No dia 16 de julho de 2019, foi apresentada denúncia junto à Justiça Federal de Curitiba, um catatau de 294 páginas. Era assinada por 15 procuradores, chefiados por Deltan Dallagnol, dentre os quais, Orlando Martello.
O nome de Patrícia aparecia 9 vezes, todas as vezes mencionadas nos e-mails confiscados da caixa postal de Ney Suassuna.
A denúncia informava que o então senador Ney Suassuna associou-se a Patrícia Tendrich Pires Coelho para investir no Grupo Superpesa, que atuava nas áreas de movimentação rodoviária e marítima de cargas superpesadas.
Ambos acertaram com o grupo Superpesa aportar valores milionários.
Segundo o inquérito:
Patrícia assumiu a Vice-Presidência do Conselho de Administração e a Diretoria do grupo e a empresa VOGA EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA, de Patrícia, foi contratada para prestar consultoria à Superpesa.
Em seguida, ambos contrataram os serviços de Jorge Luz e Bruno Luz, lobistas que atuavam junto ao alto escalão da Petrobras e lavavam dinheiro do suborno. Ambos conseguiram atrair o armador grego Tsakos Energy Navigation.
No momento seguinte, Ney torna-se sócio oculto de Patrícia na empresa Asgaard Navegação S.A.
Tal empresa possuía um braço em Londres, no Reino Unido, a ASGAARD NAVIGATION LLP , administrada por GEORGIOS KOTRONAKIS, que também era sócio minoritário da offshore.
Em 26 de setembro de 2012, a ASGAARD NAVEGAÇÃO SA obteve autorização da ANTAQ para operar como Empresa Brasileira de Navegação (EBN), condição necessária para obter determinadas linhas de financiamento com recursos do Fundo da Marinha Mercante (FMM).
A empresa foi, então, buscar no mercado sócios-investidores para aportarem recursos.
Com o auxílio de Georgios Kotronakis, buscou a parceria do armador Tsakos Energy Navigation
Em 2 de maio de 2014, a PETROBRAS, na 6ª rodada do terceiro Programa de Renovação da Frota de Embarcações de Apoio Marítimo (Prorefam), selecionou a ASGAARD NAVEGAÇÃO SA para celebrar contratos de afretamento por oito anos, prorrogáveis por igual período, de 6 embarcações de apoio marítimo do tipo Platform Supply Vessel (PSV – embarcações para transporte de cargas para as plataformas) que ainda seriam construídas por estaleiros nacionais .
Cada um dos seis contratos de afretamento possuía valor estimado em US$ 110.153.614,89, totalizando US$ 660.921.689,34196. Para a construção das seis embarcações, a ASGAARD obteve financiamento no valor de US$ 381.387.646,77 do Fundo da Marinha Mercante (FMM),.
A participação de Patrícia era nítida em todas as etapas do processo. No entanto, a conclusão do inquérito foi a seguinte|:
16/07/2019
Processo Penal
5036531-36.2019.404.7000. Chave eletrônica: 952841927219
SÍNTESE
A força-tarefa Lava Jato do MPF/PR apresentou denúncia contra o ex-senador Ney Suassuna e o ex-cônsul honorário da Grécia no Rio de Janeiro, Konstantinos Kotronakis por envolvimento no esquema de corrupção nos contratos de afretamento de navios celebrados pela Petrobras com armadores gregos.
Além deles, também foram denunciados Dalmo Monteiro Silva (ex-gerente da Afretamentos da Petrobras), Georgios Kotronakis (filho de Konstantinos), Henry Hoyer (ex-assessor de Ney Suassuna), João Henrique Hoyer (filho de Henry Hoyer), Jorge Luz (colaborador), Bruno Luz (colaborador e filho de Jorge Luz), Fernando Bregolato (operador financeiro) e Paulo Arruda (operador financeiro).
A acusação, feita no mês de julho, foi tornada pública apenas em agosto em razão dos autos estarem sob sigilo até o cumprimento de medidas assecuratórias determinadas pela Justiça Federal.
Segundo a denúncia, foram praticados crimes de pertinência a organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito de contratos de afretamentos de navios da Petrobras vigentes entre 2006 e 2028, os quais geraram, pelo menos, US$ 17,6 milhões em propinas e comissões ilícitas.
Os valores foram pagos pelos armadores gregos Athenian Sea Carriers, Tsakos Energy Navigation, Dorian (Hellas) e Aegean Shipping Management. Em razão de acertos de corrupção, os armadores gregos se comprometeram a efetuar pagamentos de propina e comissões ilícitas na razão de 2% do valor dos contratos de afretamento para contas bancárias de empresas offshores vinculadas a Konstantinos Kotronakis mantidas na Grécia, Luxemburgo, Reino Unido e Suíça.
As offshores de Konstantinos Kotronakis foram constituídas para se assemelhar a empresas de corretagem de navios (shipbroking), de modo a dissimular as práticas criminosas.
ENVOLVIDOS
Ney Suassuna, Konstantinos Kotronakis, Dalmo Monteiro Silva, Georgios Kotronakis, Henry Hoyer, João Henrique Hoyer, Jorge Luz, Bruno Luz, Fernando Bregolato e Paulo Arruda.
Patrícia foi poupada.
NO dia 27 de maio de 2021 é citada pela 5ª Vara Federal do Rio de Janeiro em uma ação movida pela Caixa Econômica Federal, para pagamento de dívida de R$ 55.024,51. A citação diz que ela se encontra em “lugar incerto e não sabido”.
As dúvidas sobre o caso
- Não há nenhuma informação sobre se Patrícia Tendrich Pires Coelho deu o patrocínio de R$ 1 milhão para o Instituto MUDE.
- Não há informação pública do balanço do Instituto MUDE, dos doadores e dos beneficiários. Sabe-se que o pastor Ferreira aproximou Deltan de Silas Malafaia.
- Não se tem nenhuma informação das razões que levaram ao não indiciamento de Patrícia;
- Em algumas reportagens, Patrícia foi apontada como testa-de-ferro de Daniel Dantas e Eike Baptista. A quantidade de empresas das quais participa indica uma atuação no mínimo suspeita.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)