O ESTRAGO DA SELIC E O NOVO BANCO CENTRAL

CHARGE DE NANDO MOTTA

Não se aprendeu o básico na indicação de pessoas para cargos com mandato. Não há nenhuma relação de lealdade a quem o indicou

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Uma das grandes fraudes analíticas dos últimos dias foi a tentativa de atribuir às críticas de Lula ao Banco Central a queda na bolsa de valores.

Ora, a bolsa é constituída de ações de empresas. E o índice Bovespa é uma média das cotações de todas as empresas.

Analise, abaixo, gráficos de desempenho de ações em dois setores: varejo e saúde.

Na saúde, a Hapvida teve queda de 87,8% em relação ao pico de 11.01.2021; a Qualicorp desabou 91,8% em relação ao pico de 23.01.2020; e a Rede D´Or teve queda de 72,3% em relação ao pico de 24.08.2021.

No varejo, o quadro não é pior. Nem se vale da Americanas, quase virando pó. Mas as Lojas Renner tiveram queda de 66,2% em relação ao pico de 23.01.2020; Magazine Luiza queda de 88,2% em relação ao pico de 05.11.2020; Via S.A queda de 91,2% em relação ao pico de 22.07.2020.

Esse quadro mostra a necessidade de acelerar a queda da Selic.

Já escrevi aqui que a tática da Fazenda – de tentar conquistar a confiança do mercado e apresentar um arcabouço fiscal confiável – pode ser bem sucedida para tempos normais, não para a tempestade que se avizinha.

O conceito apresentado é correto: uma regra anti-cíclica. Ou seja, que permite aumento de gastos quando a economia estiver em queda e contenção de gastos quando estiver aquecida. Ao mesmo tempo, promete reequilíbrio fiscal até 2024.

Parece um desafio maior que a quadratura do circo.

Para conseguir equilíbrio fiscal no próximo ano, teria que contar com uma economia aquecida. Na melhor das hipóteses, se o Banco Central for convencido pela nova norma fiscal, na próxima reunião fará um pequeno aceno de boa vontade. Depois, até o final do ano, no máximo concederá um ou dois pontos de redução na taxa Selic – uma queda insignificante para enfrentar a crise que já chegou.

Tudo isso dando um voto de boa vontade a Roberto Campos Neto, esquecendo seu viés bolsonarista e sua ostensiva incompreensão sobre o funcionamento da economia real.

Pelo menos, a reação da opinião pública – mercado e PT -, aparentemente fez a Fazenda desistir da nomeação, para o Banco Central, de um operador de mercado, que nas últimas décadas trabalhou para a família de Jorge Paulo Lemann.

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Não se aprendeu o básico na indicação de pessoas para cargos com mandato. Depois de indicado, é uma outra pessoa, sem nenhuma relação de lealdade ou subordinação a quem o indicou. É como Ministro do STF. O grande comandante do operador de mercado será obviamente o mercado, ainda mais se não tiver conhecimento maior de política monetária. Fará o que o mercado quer, porque, saindo do BC, voltará para o mercado.

Por isso mesmo, o rumor de que o indicado poderá ser Igor Rocha, economista-chefe da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) trará um novo alento à luta por juros razoáveis, embora não se conheça sua experiência com política monetária.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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