Contribua usando o Google
As ferramentas digitais usadas pelo governo Bolsonaro para monitorar e acessar outras informações pessoais foram reveladas pelo GGN
O governo de Jair Bolsonaro monitorou, durante os três primeiros anos, a localização de cidadãos pelos dados celulares, por meio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A informação foi divulgada por reportagem de O Globo, nesta terça (14). Mas as ferramentas digitais usadas pelo governo anterior para monitorar, não só a localização, como acessar outras informações pessoais de cidadãos vêm sendo reveladas pelo GGN desde o ano passado.
Em maio, artigo de Luis Nassif trouxe à tona diversos sistemas de tecnologia adquiridos pela Abin e pelo Comando de Defesa Cibernética do Exército (ComDCiber), à serviço do governo Bolsonaro, que poderiam ser usados para monitorar pessoas.
Tecnologias já disponíveis dentro dos órgãos federais especialistas em cibersegurança tornaram-se um arsenal decisivo na chamada guerra cibernética, à disposição do então governo.
São soluções de pesquisas em fontes abertas, com a possibilidade de infiltração em grupos, criação de perfis falsos e inclusão de bots; ferramenta para transcrição de áudios e reconhecimentos faciais; o Geosense, monitorando uma localização geográfica; o rastreamento digital, a partir do endereço de origem pela internet e pelo IP; e o hackeamento de celulares, a partir de plataformas como a Pegasus.
Esses sistemas, divulgados em maio, foram aprofundados em pesquisa do Jornal GGN no projeto Xadrez da Ultradireita e na produção do documentário “Xadrez da ultradireita mundial à ameaça eleitoral”, lançado em setembro de 2022.
Na investigação, expomos a ferramenta que hoje foi destaque na reportagem de O Globo: o tracking, ou rastreio físico de pessoas, a partir do código IMEI do celular. Denominada “FirstMile”, o programa foi adquirido pela empresa israelense Cognyte, por R$ 5,7 milhões, com dispensa de licitação, no final do governo de Michel Temer.
No especial do Ultradireita, a reportagem “Governo adquire sistemas espiões e ciber milionários, com ligações societárias e interesses suspeitos“, de Patricia Faermann, traçou não só os sistemas adquiridos, revelando a aquisição de outros de monitoramento – WebInt, Cellebrite e CySource -, como apurou as empresas por trás desses sistemas.
A Cognyte Brasil SA, a mesma que vendeu o sistema FirstMile, tem relações societárias com a Cellebrite, a que vendeu para o ComDCiber do governo Bolsonaro, em dezembro de 2021, com dispensa de licitação, o Cellebrite UFED, que extrai dados, nuvens e aplicativos de celulares, por R$ 528 mil.
À época, o Comando Cibernético do Exército não explicou por que adquiriu o dispositivo, já que o órgão não tem permissão da Justiça para extrair dados de cidadãos investigados.
Mostramos que as ligações societárias e obtenção de milhões em contratos sem necessidade de licitação, ou seja, sem a competição com outras empresas, vão além. O representante comercial da Cellebrite, Frederico Bonincontro, é um dos sócios do grupo SUNTECH S.A.
A SUNTECH S.A. nada mais é do que um dos nomes empresariais da Cognyte Brasil SA. Para a venda do sistema WebInt, que dá acesso a dados de pessoas disponíveis na Internet e na deep web, a empresa recebeu mais de R$ 7 milhões do governo Bolsonaro, desde junho de 2019.
Já a Cognyte obteve outras dezenas de contratos com o governo, além do sistema WebInt, sendo dois fechados diretamente com o Executivo, por R$ 5 milhões cada um, em dezembro de 2018, um mês antes de Bolsonaro assumir o poder, e à mesma época da aquisição do FirstMile.
As informações foram reunidas no documentário “Xadrez da ultradireita mundial à ameaça eleitoral”, do GGN, analisando junto a dezenas de especialistas os avanços do governo de Jair Bolsonaro nas tecnologias de monitoramento, com objetivos políticos e eleitorais. Relembre o documentário:
PATRICIA FAERMAN ” JORNAL GGN” ( BRASIL)