A INFLAÇÃO CAI EM 2023; E, AGORA, BANCO CENTRAL

CHARGE DE AROEIRA

Os dados da inflação de fevereiro, divulgados hoje pelo IBGE, com alta de 0,84% puxada pela alta sazonal das mensalidades escolares (subiram 6,28%, refletindo a inflação de 2022), confirmaram a sensível redução da inflação que baixou para 5,60% em 12 meses, porque a taxa de fevereiro de 2022 foi de 1,01%. Houve forte influência baixista da supersafra agrícola esperada para este ano, que provocou alta de apenas 0,16% em Alimentos e Bebidas (a menor taxa para o mês desde os 0,11% de fevereiro de 2020).

Vale lembrar que o item Alimentos e Bebidas é o que mais pesa nas despesas das famílias, seja no IPCA, que mede as despesas de grupos com renda até 40 salários mínimos (R$ 52.080), onde representa 21,88% dos gastos, ou no INPC, que mede as despesas nas famílias com renda até 5 SM (R$ 6.510), onde representa 24%. Mas a Alimentação subiu apenas 0,04 no INPC.

A alta acumulada de 0,76% de janeiro a fevereiro em Alimentos e Bebidas mostra que o começo da colheita das safras de grãos (soja e arroz, sobretudo) no Sul e no Centro-Oeste, gerou nítida desaceleração dos preços dos alimentos em 12 meses, diante das expectativas de uma grande produção, apesar das perdas com a estiagem no Rio Grande do Sul, compensados pelos ganhos em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná.

Depois de atingir o pico de 14,72% em julho de 2022, quando o IPCA era de 10,07%, a taxa em 12 meses de Alimentação e Bebidas caiu a 11,64% em dezembro de 2022, ainda mais do que o dobro da inflação total, de 5,79%, e agora em fevereiro, desceu a 9,84%, ficando 1,75 vezes superior à taxa de inflação (5,60%). O mês passado teve fortes altas em frutas, hortaliças e legumes de ciclo curto (como a cenoura), devido a problemas climáticos. O leite foi afetado no Sul. Mas produtos que pesam, como batata-inglesa, cebola e tomate estão em forte baixa, junto com cereais, óleos, carnes e ovos (-1,87% no ano). Se os próximos reajustes dos combustíveis e energia não atrapalharem, o quadro de desinflação vai se consolidar.

Promessa da picanha fica viável

As carmes bovinas acumulam baixas de 1,68% nos primeiros dois meses do ano. A alcatra teve queda acumulada de 3,03%, a costela bovina ficou 2,62% mais em conta. Baixa mais sensível, refletindo a redução dos custos da ração de engorda (milho e soja) com a chegada da supersafra, foi a do frango em pedaços, com redução de 3,60% no ano.

Um frango está pronto para o abate em média 40 dias após o início da sua criação, à base de rações de milho e soja. Como ele é o principal concorrente da carne bovina no Brasil, os preços das duas proteínas costumam tem a mesma curva de projeções. Isto pode ajudar ao presidente Lula cumprir a promessa eleitoral de que “o pobre voltaria a comer um churrasquinho de picanha, com cerveja”. Não sei se a picanha, a mais cara das carnes, está ao alcance da maioria. Mas, com o aumento do salário-mínimo para R$ 1.320, a partir do 1º de maio, as faixas aumentam para R$ 52.800 e R$ 6.600 e o amparo do Bolsa Família a quem tem fome, não haverá disputas por ossos.

A questão é que o empuxo de poder de compra do novo salário-mínimo pode determinar mais cautela do Banco Central para iniciar o movimento de redução do piso dos juros – a taxa Selic que foi fixada em 13,75% em assim permaneceu desde 3 de agosto, quando o IPCA rodava com dois dígitos. O esboço do ajuste fiscal dá mais previsão ao ajuste entre receita e despesa.

Mas os indicadores da economia real, sobretudo nas acentuadas reduções das vendas do comércio, que apresentam baixa nos preços do vestuário pelo 2º mês seguido, indicam que a população não está suportando o alto endividamento causado por juros reais recordes: com o IPCA de fevereiro em 5,60%, a taxa de juro real de março está em 7,77% (descontando a inflação).

As indicações futuras são de que a inflação continuará em forte desaceleração em 12 meses, nos próximos três meses pois as taxas respectivas do ano passado foram de 1,62% (março), 1,02% (abril) e 0,47% (maio). Devido às intervenções nos impostos sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações, houve deflação em julho (-0,68%), agosto (-0,36%) e setembro (-0,29%). Como o cenário da economia internacional, ainda nebuloso, não piorou, não há desculpas à vista para o excesso de cautela do BC.

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *