HADDAD TEM QUE MOSTRAR A QUE VEIO

Não se espera que Haddad peite o mercado e crie frentes inúteis de atrito. Mas tem que acenar com o novo

No governo Itamar Franco, o então Ministro da Fazenda, Paulo Haddad, foi alvo de um tiroteio intenso. Salvou-se graças a um assessor de imprensa, jornalista econômico de peso, que desarmava as bombas com informações pontuais e bem colocadas. E, especialmente, explicando a lógica de atuação do Ministro.

O Ministro da Educação Fernando Haddad, autor de uma obra meritória, sempre padeceu de problemas de comunicação. O mesmo aconteceu quando prefeito. Sendo um prefeito de reconhecimento internacional, saiu com a pior avaliação possível, pela absoluta incapacidade da opinião pública – através da mídia – entender o alcance de uma gestão que ia além das pontes e viadutos.

O mesmo ocorre agora, como Ministro da Fazenda.

Há um movimento público, de sua parte, de submissão às regras monetárias e fiscais. Pode ser estratégico ou não. Em entrevista ao Valor Econômico, André Lara Rezende atribuiu a essa timidez a iniciativa de Lula de se expor, em embates com o Banco Central a respeito do nível da taxa Selic.

Criou-se uma discussão inútil sobre metas de inflação, se aumenta 0,25, 0,50, mudanças que não alterariam em um milímetro a taxa Selic. Apenas reduziriam o estouro da meta pelo Banco Central.

Há um cadáver no meio da sala, que ninguém ousa ver: o sistema de metas inflacionárias e essa loucura de utilizar um preço fundamental da economia, o câmbio, como variável de ajuste. O uso indevido do câmbio foi peça fundamental para o país ter perdido o bonde da história. Em 1994, com a estabilização da economia, ao lado da China e da Índia o Brasil era a grande aposta de crescimento. Tinha dimensões continentais, uma grande população entrando no mercado de consumo, uma estrutura acadêmica respeitável e, ainda, indústrias competitivas.

Mês a mês, ano a ano, esse modelo, erroneamente chamado de “tripé virtuoso” – câmbio baixo, juros altos e cortes em despesas – foi desindustrializando o país, tirando o dinamismo da economia. E não houve um presidente capaz de cortar o nó górdio, nem FHC, que implantou a financeirização da economia, nem Lula 1 e 2. Houve uma pequena tentativa com Dilma, mas atropelada por problemas operacionais e por ataques implacáveis da mídia.

Lula 3 vai repetir a submissão a essa política irracional? Até agora, o único sinal de vida inteligente foi o anúncio do seminário preparado por Aloizio Mercadante, pelo BNDES, juntando pensadores para discutir as últimas ideias em relação ao combate à inflação.

Seria um jogo pensado, com Haddad contemporizando e Mercadante avançando? Poderia ser. Mas as críticas de André Lara à timidez de Haddad tiram essa esperança.

Tem-se, hoje em dia, um BC que não se importa com os juros da Selic e, menos ainda, com os juros do mercado; que não atua no mercado de taxas de juros, no câmbio, que não consegue imaginar outros instrumentos de contenção de preços que não seja o câmbio e os juros.

Nas próximas semanas, Haddad terá que mostrar a que veio. Uma simples mudança nas regras de ancoragem de expectativas, de novos modelos de controle fiscal não bastarão. Não se espera que peite o mercado e crie frentes inúteis de atrito. Mas tem que acenar com o novo e explicar minimamente qual a lógica que pretende imprimir à sua gestão. Ele é muito preparado, para se limitar a ser uma cópia de Antonio Palocci ou Henrique Meirelles.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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