Paulinho deve estar no panteão dos grandes da MPB, ao lado de Chico, Milton, Caetano e Gil
Quando se vai saudade a MPB, menciona-se sempre o quarteto mágico: Chico Buarque, Caetano, Gilberto Gil e Milton Nascimento. Vez por outra entra Djavan e João Bosco.
Por alguma razão, provavelmente por uma briga entre esposas quando descobriram diferenças de cachês em um show da prefeitura do Rio de Janeiro, fica fora Paulinho da Viola.
Esqueçam desavenças familiares. Até hoje a Luciana Rabello, esposa de Paulo Sérgio Pinheiro, vira a cara para mim, apesar da amizade e do apoio que dei a seu irmão Rafael. Em suma, uma família de mulheres fortes, destemidas e encrenqueiras.
Mas Paulinho da Viola, não. Além de ser o mais educado dos homens, Paulinho é dono de uma obra clássica, à altura do quarteto mágico. Não apenas enriqueceu a música brasileira com músicas da melhor qualidade, como enveredou pela composição instrumental e como arauto dos melhores sambas compostos nos rincões do Rio de Janeiro.
Paulinho não é apenas um dos gênios da MPB, é uma entidade, que trouxe o samba aos salões com o clássico Os Quatro Crioulos, que divulgou para o Brasil o gênio de Canhoto da Paraíba.
Se Milton consagrou os tambores de Minas, Gil e Caetano os batuques da Bahia, se Chico Buarque elevou o lirismo das canções a níveis clássicos, Paulinho é a mais genuína alma do Rio de Janeiro, o sambista clássico e humilde, que sempre mostrou reverência pelos antecessores.
Agora, que comemora seus 80 anos, é hora de se rever essa formação tácita dos grandes da MPB. Aliás, é até estranho que precise vir aqui cobrar reconhecimento de um compositor e personalidade musical da dimensão de Paulinho da Viola.
Lembro-me dos primeiros contatos com sua música e da imensa honra que foi participar de um festival – a Feira Permanente da Música Popular Brasileira -, indo para a final com o Congresso Internacional do Mëdo, em parceria com meu parceiro João Kleber Jurity, competindo com Foi um Rio Que Passou em Minha Vida e, especialmente, Nada de Novo, meu samba predileto.
Descendo as escadarias do palco da Tupi, havia um salão amplo, onde os músicos esperavam a hora de subir. E Paulinho não parava. Com seu cavaquinho disparava sambas e se encantava com o gingado das cabrochas.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN ” ( BRASIL)