O ANO COMEÇA EM FEVEREIRO

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

Volta às aulas dos netos. A 1ª semana de atividades para valer do Legislativo, depois da composição das mesas diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, será marcada pela eleição das comissões das duas casas do Congresso. Em ambas, a mais importante é a Comissão de Constituição e Justiça (popular CCJ), que faz a análise da constitucionalidade de qualquer projeto: de iniciativa do governo ou até da oposição. A posse de Aloízio Mercadante no BNDES, com a presença do presidente Lula. O carro da economia começa a andar após os sustos das tentativas de golpe em janeiro.

Mas há dois grandes percalços para a economia retomar a marcha, que já desacelerara em novembro, esgotados os efeitos da maquiagem de Paulo Guedes para turbinar o PIB, de um lado, e reduzir a inflação, de outro. O rombo das Americanas, revelado em 11 de janeiro, deixou o mercado financeiro com os nervos à flor da pele, após a Recuperação Judicial de 19 de janeiro, com dívidas de R$ 42,3 bilhões, que se elevam a R$ 47,9 bilhões segundo os advogados que cuidam da RJ. Mais de 44 mil funcionários e 16 mil fornecedores (de grandes empresas a pequenos prestadores de serviços nos diversos estados do país).

Todos aguardam o que o trio de acionistas de referência, os bilionários Jorge Paulo Leman, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, vai propor aos credores para manter a empresa em operação. Se a Americanas quebrar, o estrago na economia será muito grande. Na semana passada, ao divulgar seu balanço do 4º trimestre, o Santander Brasil, que era credor de R$ 3,7 bilhões das Americanas e já reforçou as provisões em R$ 1,1 bilhão. Amanhã, depois do fechamento dos mercados, o Itaú, maior banco privado brasileiro e credor de R$ 2,8 bilhões revela sua estratégia. Na 5ª feira, 9, é a vez do Bradesco, o maior credor, com R$ 4,8 bilhões.



Demarcando o terreno

Na posse de Mercadante no BNDES, o presidente Lula seguiu com um discurso hostil ao mercado, ao dizer que o movimento de 8 de janeiro foi liderado pelo mais ricos, inconformados com a sua vitória. Não precisava acirrar os ânimos que ainda estão bastante tensionados. Melhor que as investigações desvendem os mentores e os articuladores da intentona contra a Democracia. O governo precisa pacificar o terreno, para acalmar os ânimos da oposição no Congresso e do mercado, sempre arredio ao PT.

Lula quer que o BNDES reoriente o crédito para os pequenos e microempresários, os mais esfolados pelas altas taxas do juro bancário (incluindo os descontos nos pagamentos feitos pelos clientes em cartões de débito ou crédito). Já Mercadante defendeu a função do BNDES como um grande Eximbank para o financiamento das exportações de produtos “made in Brazil”, como automóveis, tratores, caminhões, ônibus e caminhões e os aviões da Embraer, que não poderiam alçar voo sem o apoio do BNDES durante as últimas três décadas. As próprias obras de engenharia no exterior (mal-vistas pelas descobertas de superfaturamento vindas à tona na Lava-Jato e que resultaram em processos contra muitas empreiteiras nos países contratantes) são grandes geradoras de exportação de bens e serviços, incluindo consultoria.

O que remete a discussões mais amplas sobre a lei de contratações oficiais. Os organismos internacionais de crédito, em especial o Banco Mundial, sempre defenderam a abertura do mercado de construção à concorrência estrangeira para forçar a redução dos custos (e o aumento da transparência). As duas coisas combinadas servem de biombo, desde as prefeituras até obras da União, para superfaturamento e desvio de recursos para aquietar políticos.



Agenda no Congresso

Na política, após a votação da liderança do Congresso, as discussões legislativas em torno da reforma tributária e do novo marco fiscal devem começar a ganhar força. O mais provável é que a discussão avance para o 2º trimestre, quando, em abril, o governo tem de apresentar o esboço do Orçamento de 2024, na Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Além disso, após mais uma rodada de comentários sobre o Banco Central e a meta de inflação feita pelo presidente Lula na semana passada, os mercados permanecerão especialmente focados em possíveis anúncios sobre o assunto, e, também, na nomeação de um novo diretor de política monetária, uma vez que Bruno Serra provavelmente concluirá seu mandato no BCB neste mês.

A inflação do IPCA para janeiro será divulgada na quinta-feira. O mercado espera alta entre 0,55% e 0,56% (O Itaú espera um aumento mensal de 0,57%, elevando a taxa anual para 5,8%, nível de dezembro). Para o banco, a leitura será pressionada por serviços, especialmente serviços de comunicação, alimentação fora de casa e preços regulados (ou seja, gasolina e energia elétrica). Por outro lado, o núcleo da inflação de bens e serviços pode continuar a mostrar algum alívio na margem.



Previsões da Focus

Na Pesquisa Focus, colhida pelo Banco Central junto a 140 instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa até 6ª feira, 3 de fevereiro, e divulgada hoje, aumentaram as projeções de inflação para 2023, de 5,74$ na semana anterior para 5,78%. O mercado estima que os preços administrados subirão 8,44%, puxando a inflação, sobretudo em combustíveis e energia elétrica, com o retorno parcial da carga tributária reduzida para ampliar as chances de reeleição do então presidente Jair Bolsonaro.

Em função das pressões inflacionárias e das incertezas quanto ao quadro fiscal, o mercado está ficando cético em relação ao afrouxamento da política monetária pelo Banco Central e elevou para 12,50% as apostas de fechamento da taxa Selic este ano (atualmente em 13,75%), sendo nas previsões dos últimos cinco dias úteis, a taxa se elevou para 12,75%, apenas um ponto de queda no ano. E para 2024, o mercado elevou a taxa de 9,50% para 9,75%.

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL)

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